Samuel Bak
Amar o Porto não é para qualquer um. Requer berço ou prolongado viver. Pressentir o aroma das bouças meada a distância de Aveiro para cima. Conhecer do Porto os verdes e azafamados arrabaldes rurais. Ter aprendido a gostar da exaltada frialdade marítima, do cheiro a maresia e da morrinha na face. Guardar o sabor das rabanadas degustadas em pleno estio na pensão anónima para as bandas de São Bento. Ler no granito a luz que ao céu parece fugir. Em cada pedaço de mica e feldspato ouvir o orgulhoso testemunho de por ali ter dealbado a nação que da cidade contêm o nome. Pressentir a luxúria no donaire das mulheres que nas calçadas tecem enredos com o pisar dos tacões. Saber ao lado a Lello, o Majestic e a Foz. Cidade com vinho a que emprestou o nome e pelo mundo afaga palatos.
Olhando de baixo para cima, que é como quem diz da “Grande Alface” para a Invicta, é estranhado o labor, a austeridade parda e o falar. Envaidecidos pela ausência de sotaque, garantem ser falado em Lisboa o português comum, enquanto no “Grande Rústico” – assim os «alfacistas»* veem o Porto – são trocadas letras entremeadas com palavrões. Sei de um lisboeta que pela profissão foi “desterrado” para o lugar onde li começar o Sul. Testemunhou: “Nunca me habituei ao falar à moda do Porto. Não padeço de snobeira, apenas em Lisboa não se fala assim. Enquanto andei lá em cima, todos os natais saiamos de carro, eu e o meu chefe de vendas, para presentear com cifrões os polícias-sinaleiros. Como ele falava com os polícias!... Indescritível. Em Lisboa, ia preso no início da primeira frase - Ó meu cab... toma lá uma prenda aqui do doutor; compra um casaco de peles à tua mulher pra ela não ter que sair à noite! O polícia respondia: «Oh seu Moreira, obrigado, muito obrigado e deixe lá que eu não tiro o olho daquela pu....!»”
Um lisboeta jamais entenderá a força do peculiar dizer: "vê se micas por aí o picheleiro e manda-o à loja das miudezas antes que desatine com este moinas que me perdeu a chave do aloquete!"
Havendo a precisada campanha eleitoral agora, importa a tendência do voto das peixeiras dos mercados do Bolhão e de Matosinhos. Sabendo-as capazes de rachar um cavaco ali mesmo, os políticos engomados e «branquelas» saídos dos gabinetes assépticos de onde olham o país, “vêem-se à brocha**” com elas. Temem o corpo-a-corpo e o bate-boca com mulheres aguerridas que o dia «alevanta» pela quatro da manhã. Tanto lhes podem estalar o esqueleto no aperto dos abraços, como atirar-lhes ao fato Boss o chicharro ensanguentado da véspera.
Os candidatos da «estranja» sabem lá o que é a dureza dumas eleições à portuguesa!... O Obama dividiria reações por ter interrompido a primeira campanha à presidência para visitar a avó doente no Havai. A mais provável seria: “Ai que o meu rico (...)
Nota: há minutos, texto publicado aqui.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
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Brasileiros