E. Goetschel
Serão na véspera deste sábado. Pelo gosto em revisitar filmes de culto, escolhido “Manhattan”. Woody Allen dirige a fita de 1979. Interpreta o fabuloso Isaac Davis na busca incessante de um sentido para a vida, para o amor numa cidade em que o sexo é tão banal como um aperto de mão e a porta para o amor verdadeiro é giratória. A crença de poder alterar a personalidade do outro através da partilha dos dias. A sátira da racionalidade pura e da intelectualidade. Desvalorizada a pureza dos sentimentos tida como ingénua. Até um dia.
Elenco de luxo: Meryl Streep (Jill) como a ex-mulher de Isaac, lésbica, Mariel Hemingway é Tracy, a belíssima menina de 17 anos que ama genuinamente Isaac de 42, Diane Keaton como Mary, mulher sedutora com manto de pragmatismo que encobre sentir confuso nos amores. Uma Manhattan filmada com a magia que de facto possui para quem lhe reconhece o palpitar. A também mágica banda sonora de George Gershwin marca sequências e personagens.
Podia ser um filme datado, mas não. O cerne do argumento é intemporal ao traduzir a procura de todos - um amor como símbolo de felicidade - e os enganos dos caminhos individuais.
CAFÉ DA MANHÃ
Chenoa Grace
Plataforma 3. O ‘Alfa’ preparava o pendular do Oriente para Sul. Aos magotes, gentes sem carregos, outras arrastando bagagens múltiplas cujo tamanho imponente pressupunha estadas longas no destino. Pelas etiquetas nas malas, denunciadas viagens com início a milhares de quilómetros e terminadas na Portela. Quem tais pesos conduzia mirava a luz soberba filtrada pela aços entretecidos na cobertura/escultura desenhada pelo Calatrava. Facilmente distintos os chegados de países quentes pelas écharpes presas no peito, pelos casacos finos que mal protegiam do vento teimoso naquela tarde de Verão, pelo bater das chinelas no empedrado. Rostos cansados donde já sumira a curiosidade novata.
Olhares insistentes seguiam os ponteiros dos relógios espaçados nas colunas. Anunciado o comboio, ajeitada a bagagem nas mãos e nas costas mochilas. Composição imobilizada, quem partia ia entrando porque demorada a paragem técnica, vinte minutos, para o bar poder, dali em diante, continuar a satisfazer fomes e sedes. Apaixonados não desfaziam os abraços, repetiam beijos de despedida com infinita saudade dentro ainda a distância não apartara corpos. Os embarcados a Norte aproveitavam o intervalo para cigarrar.
A mulher não ia, despedia-se. Sorria. Espalmava a mão no vidro até coincidir com a outra que o mesmo fazia. Malvadas janelas herméticas que não permitiam sentir a pele e adeus com o braço esticado até a figura se desvanecer! Não vigiava os ponteiros – podiam andar como caracóis que nada importaria. Reconhecia de vezes outras no mesmo lugar o casal adolescente com a caixa onde um gato assustado nem se atrevia a miar. Seguiriam juntos como o hábito lhe dizia. Pelos afagos, namorados, pensava-os. Faltava a idosa, coxeava ligeiramente, e a acompanhante. Ei-las apressadas mais o saco costumado.
Já as portas haviam cerrado e uma jovem mulher corria desafiando o horário. Ainda bateu à porta como se pedisse desculpa pelo atraso e licença para entrar. Mas não – insensíveis, as carruagens rolavam. Viu-lhe a perplexidade, a desilusão, talvez desespero no olhar. A que se despedia aconselhou falar com o chefe da estação e apanhar um táxi para Entrecampos. Talvez o comboio esperasse para depois compensar o atraso galgando o Alentejo. E ela muda. Sem reacção.
Desceu para a cidade. Na lembrança, momentos felizes e o indizível. Na ‘3’, devia permanecer, quieta, a jovem mulher.
Nota: post reposto na íntegra.
CAFÉ DA MANHÃ
Chenoa Grace
Plataforma 3. O ‘alfa’ preparava-se para pendular do Oriente para o Sul. Aos magotes, gentes sem carregos, outras arrastando bagagens múltiplas cujo tamanho imponente pressupunha estadas longas no destino. Pelas etiquetas nas malas, denunciadas viagens com início a milhares de quilómetros e terminadas na Portela. Quem tais pesos conduzia mirava a luz soberba filtrada pela aços entretecidos na cobertura/escultura desenhada pelo Calatrava. Facilmente distintos os chegados de países quentes pelas écharpes presas no peito, pelos casacos finos que mal protegiam do vento teimoso naquela tarde de Verão, pelo bater das chinelas no empedrado. Rostos cansados donde já sumira a curiosidade novata.
Olhares insistentes seguiam os ponteiros dos relógios espaçados nas colunas. Anunciado o comboio, ajeitada a bagagem nas mãos e nas costas mochilas. Composição imobilizada, quem partia ia entrando porque demorada a paragem técnica, vinte minutos, para o bar poder, dali em diante, continuar a satisfazer fomes e sedes. Apaixonados não desfaziam os abraços, repetiam beijos de despedida com infinita saudade dentro ainda a distância não apartara corpos. Os embarcados a Norte aproveitavam o intervalo para cigarrar.
A mulher não ia, despedia-se. Sorria. Espalmava a mão no vidro até coincidir com a outra que o mesmo fazia. Malvadas janelas herméticas que não permitiam sentir a pele e adeus com o braço esticado até a figura se desvanecer! Não vigiava os ponteiros – podiam andar como caracóis que nada importaria. Reconhecia de vezes outras no mesmo lugar o casal adolescente com a caixa onde um gato assustado nem se atrevia a miar. Seguiriam juntos como o hábito lhe dizia. Pelos afagos, namorados, pensava-os. Faltava a idosa, coxeava ligeiramente, e a acompanhante. Ei-las apressadas mais o saco costumado.
Já as portas haviam cerrado e uma jovem mulher corria desafiando o horário. Ainda bateu à porta como se pedisse desculpa pelo atraso e licença para entrar. Mas não – insensíveis, as carruagens rolavam. Viu-lhe a perplexidade, a desilusão, talvez desespero no olhar. A que se despedia aconselhou falar com o chefe da estação e apanhar um táxi para Entrecampos. Talvez o comboio esperasse para depois compensar o atraso galgando o Alentejo. E ela muda. Sem reacção.
Desceu. Na lembrança, momentos felizes e o indizível. Na ‘3’, devia permanecer, quieta, a jovem mulher.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros