Almoço de família sob ícones natalícios, olhares gulosos p’ra os enfeites, ternura a rodos, colo disponível, olhares que não enganam. Como diz voz amiga, o Dia da Restauração significa, agora, encher caixas registadoras de restaurantes e similares. Também aqui me demarco – quis casa, ambiente luminoso, presépio/escultura de autor estimado, árvore de Natal com flores brancas e esferas coloridas. Não faltam anjos ingénuos, bolas extravagantes, pinho verde lima nas pontas, negro por dentro, rede de lâmpadas foscas dependuradas na porta-varanda por cima dos reposteiros translúcidos. Juro lindo o redor, malgré saber que este pedaço de quotidiano não tem sustento que interesse ao leitor.
Um mês e alguns dias, dura a efemeridade. Enquanto for símbolo, fica. Depois será o embalar em papel de seda, suave e denso, táctil como os amores.
CAFÉ DA MANHÃ
A auto-estrada por onde circula o ar no hemisfério onde estamos bloqueou. Está encerrada para descanso dos ventos. Culpa? Do anticiclone dos Açores. Decidiu virar para Sul. Posição ingrata – não empurra o ar gelado dos pólos para Norte e deixa a parte acima do Equador a tiritar. Até a soalheira Califórnia, por estes dias, enregela. Na Europa, os negativos descem na mesma medida em que aumenta o consumo de energia. Idosos que se cuidem: inspirar gelo aéreo não beneficia o coração. Os sem-abrigo abrigados pela força da meteorologia. Pingo no nariz, pés «tacateando» o chão na procura de aumento da energia cinética capaz de elevar a celular.
Se o rodopio enlouquecido do ar torna sólida a água líquida, se corta vias, encerra escolas e alguns ofícios, ressentem-se vidas. Nem as hibernadas estão a salvo – sono cíclico interrompido pelo uivar do gélido despertador. E, se Madrid, branca como se manto de algodão hidrófilo a cobrisse, tem oitocentos limpa-neves ao serviço dos habitantes, por cá, a insuficiência de recursos aguarda boa cara atmosférica. Sina de povo habituado a amenidades, pobretana e de cêntimos contados.
Centrada no egoísmo do ‘bem que sabe’, rejubilo. Que seja de palhaço o nariz. Que a lâmina de gelo roce pele exposta. Se trapalhadas jurídicas, politiqueiras, desigualdades sociais fazem corar, é tempo de arrefecer. De ficarem azuis os lábios. Talvez línguas tolham. Talvez ódios arrefeçam. Talvez candeia ilumine só para a frente melhores caminhos. Pena o ciclone não ter virado ao contrário! Quem sabe, entupisse armas… Quem sabe inexistente o ataque à selecção do Togo... Quem sabe o bolívar não estivesse dividido/desvalorizado em dois lá p’ras bandas da Venezuela… Quem sabe os donos do mundo mudassem para Sul… Quem sabe?
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros