Michel Gourdon
Anos recuados, foi visita ocasional de casa João Gomes pelo baptismo, João Galdério de alcunha. Por conhecidos chegou notícia de padecer da obsessão pelo derrube das defesas femininas. Nunca soube se necessidade vital ou exorcismo contra solidão e insegurança.
Assemelho-o a Bertrand Morane pela dependência das mulheres – o homem incapaz de as amar procurando, sem detença, o que delas julgava a essência. Uma afirmaria não buscar Bertrand o amor, mas a ideia que dele fazia. Outra explicava: "É difícil recusar-te os prazeres, porque pedes como se a tua vida dependesse disso.”
Entre o complexo de Édipo e a tara por pernas roliças, entre sexo em locais públicos e a paixão pela voz de uma telefonista, descobriu-se incompleto por não experimentar o amor. Morreu na tentativa. Retrato em que Truffaut se reviu ao examinar – também ele disperso no jogo das atracções - a natureza masculina. Tivesse conhecido o João Gomes e nele encontraria rival do amigo Michel Fermaud, encartado femeeiro e torneira do anedotário do filme.
O João Gomes era como Bertrand - um coleccionador. No caso de fotografias que mais valem do que as mulheres com as quais se deita e põe na mira da objectiva. Escancara corpos, logros, dores, a condição de modelos descartáveis cujo portfólio agencia e divulga a amigos e conhecidos. Recomenda: _ Não casem antes de o verem. Um pulha!
Abre “O Homem que Amava as Mulheres” a cena dum cadáver na tumba com algumas mulheres desfilando perante ele. Em flashback a vida do defunto Bertrand Morane. Distinto de João Gomes também pela poesia que as mulheres lhe mereciam – “os pares de pernas femininas são compassos que em todas as direcções percorrem o globo terrestre, dando-lhe equilíbrio e harmonia".
CAFÉ DA MANHÃ
Michel Gourdon e Billy DeVorss
Como povo, atolámo-nos em previsibilidades. Andamos por veredas lineares com horizonte à vista mal é iniciado o caminho. Talvez xaropes para alívio da insegurança que constantemente pigarreamos. Talvez preito à nossa ancestralidade pouco dada a reviravoltas/reviralhos e mais crente no seguro que dizemos ter morrido de velhice. Não admira: ficamos amesendados e cronologicamente velhos logo após os trinta.
Neste momento, Portugal garante êxito às antecipações anuais de qualquer astrólogo de meio-baralho. As comissões de inquérito mais parecem chás entre comadres, António Costa está amigado com Rui Rio, o PEC passou, venceu o Pedro Passos Coelho _ a Madeira foi o desgosto _, algum «pêessedista» de nomeada, segundo Carlos Vaz Marques, “virará as pontas das setas ao ar”, Manuel Alegre rabuja contra o omisso apoio do partido, contra o PEC, contra o pragmatismo exacerbado, cita Sampaio e Obama, a gripe A desapareceu como veio, Sócrates anseia por alguém que o desobrigue de S. Bento a tempo da nova época de ski em Aspen onde deslizará alegremente acompanhado por Paulo Portas e partilhará chocolate quente ao serão enquanto não ocupar qualquer outra cadeira dourada quase vaga. Um tédio!
No meio dos gastos _ não escrevi gatos, nem saco deles, sublinho _ nonsense, vivam os anónimos que não desistem de varrer hábitos e costumes maus. Como eu (legitimem-me a honra!). Limpar o próprio carvão negro-de-fumo era impensável há uma semana. Ao quinto dia do após, o sol brilha e a vida é boa. Sem adesivos ou pastilhas. Aliás, mascar fica pessimamente e não combina com sedução íntima. Para mim e minha. Aspen como auto-prémio não me parece mal. Ou a Costa dei Fiori. Sou dada a extremos.
CAFÉ DA MANHÃ
Duas propostas: o mesmo tema, If you Hold my Hand, a mesma voz, Donna Hightower, recuperada em remix pelo Sonny J. e no original.
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros