Segunda-feira, 12 de Janeiro de 2015

AVESSOS A SEXUAIS RETICÊNCIAS

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Mikel Glass

 

Artistas e poetas têm mais sexo que as demais gentes. Quer dizer, ter não têm, usam é mais amiúde aquele com o qual nasceram. São danados para a brincadeira e avessos a sensuais reticências. O estudo divulgado foi claro: os vagabundos espirituais oscilam entre 4 a 10 parceiros sexuais, enquanto os outros não passam dum médio valor de 3. É obra! Se empurrar os meus lerdos neurónios, direi fazer sentido: horas de clausura dando ao pincel ou à pena (a versão teclado ou reles esferográfica de propaganda eleitoral nada muda), tudo muito táctil, muito sensível, muito rente à pele.

 

 

 

Saindo para a luz do dia, não olham para um mortal como os «normais». No lugar de uma pobre mulher, exausta, a caminho de casa e do supermercado, da casa com pó de anteontem, do bife médio para o marido, bem passado para o mais novo, mal passado para o do meio, os artistas vêem uma musa ambulante que respira, tem bochecha rosada sem ajuda do pincel, olhos que brilham a sério e não com branco na ponta do pincel ou «estrelas faiscantes vindas do copa celeste».

 

 

E depois, aquela da exigida perfeição que a realidade insatisfaz, é treta. Passe-lhes ao alcance da mão calor humano, prazeres sensíveis - alimento para o corpo e gratificante volúpia -, que eles, os artífices do belo, ronronam como gato em satisfeito cio. Precisam é de mais parceiras que os restantes mortais - uma só não aguente tamanha introspeção, cheiro a aguarrás, vernissages, exposições, nervos, neuras por críticas azedas, lançamentos de livros, o último, então, que demorou a parir pra cima de uma vida. Antes emprego das nove às cinco, que tal fardo. E o ror de dinheiro que lhes devem alguns figurões? E o livro que não vende? E as aparições sociais? Quem as paga?, quem?, digam, vá, vá!...

 

 

 

A excentricidade que aos das artes aceitamos é parte da explicação. Bancário, executivo, vendedor, o que por adequado entenderem, enfia de manhã a farda, esgana o pescoço com a gravata e só pelo final da semana dá uma de descontração. Artista é o contrário! Pode ir de pijama à rua sob aquele sobretudo fantástico, de camurça e muito comprido, vindo de Milão, que ninguém repara. “Que máximo!”, dizem. _ Tem panache. Estilo.” Ou então:_ “É uma figura! Olha que não se me dava... Ai, ai!...”

 

 

 

Desistamos, nós, os que não fazemos salário como estetas encartados. Da média dos três parceiros não é suposto passarmos. Ainda que... contando bem... vejamos: _ um...

 

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

 

publicado por Maria Brojo às 08:00
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Sábado, 10 de Janeiro de 2015

A LETRA "P"

Mikel Glass - Artist in Studio Museum of Realist A

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mikel Glass – “Artist in Studio”, Museum of Realist Art

 

“Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor português, pintava portas, paredes, portais. Porém, pediu para parar porque preferiu pintar panfletos. Partindo para Piracicaba, pintou prateleiras para poder progredir.
 

 

Posteriormente, partiu para Pirapora. Pernoitando, prosseguiu para Paranavaí, pois pretendia praticar pinturas para pessoas pobres. Porém, pouco praticou, porque Padre Paulo pediu para pintar panelas, porém posteriormente pintou pratos para poder pagar promessas.

Pálido, porém personalizado, preferiu partir para Portugal para pedir permissão para Papai para permanecer praticando pinturas, preferindo, portanto, Paris. Partindo para Paris, passou pelos Pirineus, pois pretendia pintá-los.

 

 

Pareciam plácidos, porém, pesaroso, percebeu penhascos pedregosos, preferindo pintá-los parcialmente, pois perigosas pedras pareciam precipitar-se principalmente pelo Pico, porque pastores passavam pelas picadas para pedirem pousada, provocando provavelmente pequenas perfurações, pois, pelo passo percorriam, permanentemente, possantes potrancas. Pisando Paris, permissão para pintar palácios pomposos, procurando pontos pitorescos, pois, para pintar pobreza, precisaria percorrer pontos perigosos, pestilentos, perniciosos, preferindo Pedro Paulo precaver-se.

 

 

Profundas privações passou Pedro Paulo. Pensava poder prosseguir pintando, porém, pretas previsões passavam pelo pensamento, provocando profundos pesares, principalmente por pretender partir prontamente para Portugal. Povo previdente! Pensava Pedro Paulo... Preciso partir para Portugal porque pedem para prestigiar patrícios, pintando principais portos portugueses. Paris! Paris! Proferiu Pedro Paulo.

Parto, porém penso pintá-la permanentemente, pois pretendo progredir. Pisando Portugal, Pedro Paulo procurou pelos pais, porém, Papai Procópio partira para Província. Pedindo provisões, partiu prontamente, pois precisava pedir permissão para Papai Procópio para prosseguir praticando pinturas.

 

 

Profundamente pálido, perfez percurso percorrido pelo pai. Pedindo permissão, penetrou pelo portão principal. Porém, Papai Procópio puxando-o pelo pescoço proferiu: Pediste permissão para praticar pintura, porém, praticando, pintas pior. Primo Pinduca pintou perfeitamente prima Petúnia. Porque pintas porcarias? Papai proferiu Pedro Paulo, pinto porque permitiste, porém, preferindo, poderei procurar profissão própria para poder provar perseverança, pois pretendo permanecer por Portugal.

 

 

Pegando Pedro Paulo pelo pulso, penetrou pelo patamar, procurando pelos pertences, partiu prontamente, pois pretendia pôr Pedro Paulo para praticar profissão perfeita: pedreiro! Passando pela ponte precisaram pescar para poderem prosseguir peregrinando. Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém, passando pouco prazo, pegaram pacus, piaparas, pirarucus. Partindo pela picada próxima, pois pretendiam pernoitar pertinho, para procurar primo Péricles primeiro. Pisando por pedras pontudas, Papai Procópio procurou Péricles, primo próximo, pedreiro profissional perfeito.

 

 

Poucas palavras proferiram, porém prometeu pagar pequena parcela para Péricles profissionalizar Pedro Paulo. Primeiramente Pedro Paulo pegava pedras, porém, Péricles pediu-lhe para pintar prédios, pois precisava pagar pintores práticos. Particularmente Pedro Paulo preferia pintar prédios. Pereceu pintando prédios para Péricles, pois precipitou-se pelas paredes pintadas. Pobre Pedro Paulo. Pereceu pintando...

 

 

Permita-me, pois, pedir perdão pela paciência, pois pretendo parar para pensar... Para parar preciso pensar. Pensei. Portanto, pronto pararei.”

 

 

Nota - Para provocar pensadores ...  A língua portuguesa, junto com a francesa, são as ÚNICAS línguas neolatinas na face da Terra que são completas em todos os sentidos. Quem fala português ou francês de nascimento, é capaz de fazer proezas como esse texto com a letra "P". Só o português e o francês permitem isso.  A língua inglesa, se comparada com a língua portuguesa, é de uma pobreza de palavras sem limites.pPortanto, antes de estudar uma outra língua, aperfeiçoe a sua, combinado?!

 

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

 

publicado por Maria Brojo às 08:00
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Sábado, 10 de Março de 2012

HISTÓRIA DESCONTINUADA

Mikel Glass

        

         Tinha de ligar à Paula ou à Manuela. Do Querubim Lapa e do Mealha nem uma peça expusera nas paredes rugosas. E eram gosto. Gosto dela, harmónico com o dos compradores que a contabilidade traduzia. Pelos laços de amizade e ex-família, talvez o dois ícones da cerâmica portuguesa lhe cedessem cor vidrada nos relevos talhados em barro, depois pintados, depois painel tridimensionado. Talvez um ou ambos pudessem figurar na galeria, sem que fosse preocupação compradores à altura. Egoísta, desejava-os nas paredes como deleite continuado por meses.

         Os catálogos não chegavam. Ordenara esmero na fidelidade das imagens, repetira provas até próximas do ideal. Também daí o atraso.

         Numa pilha, adormeciam envelopes com postais dentro que sublinhassem a distinção do convidado por via do correio. Para os outros, arrebanhados aos molhos no Bcc do arquivo informático, o Santiago engendrara convite virtual bem esgalhado.

         Curioso o Santiago. Menos dezoito anos do que ela na idade. Cabelo desordenado, cãs precoces entremeando o castanho, barba crescida por meia semana sem escanhoada. T-shirt caqui rente ao pescoço, estudo displicente do trajar. Encantador. Atrevido. Olhar quente e dúbio se no momento faziam par concentrado no trabalho de verificar, interpelar, ouvir e dizer.

           Pelos olhares oblíquos que aos meneios da Rute endereçava, julgara reconhecer nele o desejo pela mulher próxima na idade. Contraditos na atenção às coxas dela que, sob o vidro da secretária, a mini expunha bem como a pele além da liga. Exposta pela pequenez da pelica, pela concentração no tanto por fazer que omitia seduções frívolas

           Atenta ao monitor, ainda assim ouvira polifonia no telemóvel da Rute. Surpreendeu-a a saída de raposa astuta. Olhou através do vidro, colada à voz que atendia. Sorriso que, à distância, parecia resposta dengosa. Não era, pela certa, o marido. Tão pouco o Santiago com ela emaranhado em recortes de imagens.

           Que pessoa, homem sem lugar à dúvida, a fizera trocar o espaço aberto da galeria pelo vento frio da rua para atender o telefone? Com a Rute o afecto diluía a hierarquia entre a Luísa patroa e a subordinada. Em casa, o mesmo acontecia com a Célia que lhe sabia dos gostos e intenções e se rebelava contra ordens que somente o cansaço de final de dia rabiscara intrincadamente no bloco da cozinha. Pela destrinça fina, pelo “não me venha com alinhavos que mais sei eu do que precisa e falta”, pela leitura no rosto que de raro em raro coincidia portas adentro, a Célia era patroa e ela, a Drª Luísa, criança mimada.

            Pouco antes da despedida do Santiago, entrou a Rute. Ardor na face que a noite descida injustificava. Pela fala silenciosa que as mulheres dumas e doutras descodificam, soube o não dito. Dispensou a pergunta acinte. Na pressa esquiva da saída, a Rute fugira sem traduzir o alívio do final de dia num “até amanhã, e não demore!” 

            Ao impor negrume ao espaço, ao cerrar a porta e fazer descer a grade de metal cruzado, o frio da cidade e do dia fizeram nada do vestido casaco que o Nuno desenhara revivalista e não a protegia.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:01
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Quinta-feira, 13 de Janeiro de 2011

MANIFESTO DANTESCO - ATÉ A TRAGÉDIA ACONTECER

 

Mikel Glass

 

A última preocupação nas escolas públicas é saber se o FMI entra ou não na desgraçada jogatina portuguesa. Na ruína laboral em que se inserem, é ociosidade como a estória do Pedro e do Lobo - tanta vez ameaçou que, a sério, foi mais uma. Entre pelo país dentro ou não, pior é impossível – ainda sem o fantasma, ao Ministério da Educação apenas interessam números desligados das gentes e do mapa social que as insere. As escolas públicas não dispõem de funcionários suficientes para garantirem o normal funcionamento das actividades. Os alunos, entregues a si próprios nos corredores e pátios, correm perigos inumeráveis. Na sala de aula, o professor dá o melhor para garantir aparência de normalidade - lecciona, destila conteúdos, utiliza estratégias que motivem aprendizagens eficazes. Quando a campainha toca é o caos: omissos funcionários vigilantes, se um transviado decidir puxar de arma ninguém o impedirá, salvo o acaso. Enquanto tragédia não acontecer e o ‘fia-te na Virgem’ for regra, os pais, através das respectivas associações, mantêm-se indiferentes. Para eles o importante é ver, pela matina, portas abertas que legitimem o depósito dos infantes. De seguida, irem descansados à vida. Julgam, mas visitassem amiúde a escola dos filhos, fosse importante o saber das horas em que não os vêem, a inquietude não lhes permitiria dia e noite descansados.

 

Pelo insano Estatuto do Aluno, basicamente os gaiatos fazem o que lhes é ditado pela gana integrada no espírito grupal. Faltam, assinam mais as famílias ‘contratos de aprendizagem’ sem lhes passar pela cabeça cumpri-lo. Director de Turma atento, se detectar estados psíquicos alterados por fumaças ou «snifs» e convocar para entrevista o Encarregado de Educação arrisca-se a ouvir: _ O Martim está farto de saber que não lhe permito «charrices» nas aulas. O professor, boquiaberto, emudece. O Estatuto do Aluno em muito pouco legitima procedimentos punitivos. O referido Martim encontrado com maço anormal de notas garante-o fruto de presente natalício. Chamados, de novo, os pais confirmam, não seja o infante castigado e denunciado por tráfico de droga.

 

Se após desmando grave, o adolescente for punido com trabalho escolar comunitário, aqui d’el rei que o meu filho não foi (des)educado para limpar mesas que conspurcou durante as aulas, acobardado atrás do colega da frente que nem olhar laser do docente detectaria. É que o professor, um tonto, ainda se entusiasma na transmissão dos conteúdos e tenta levar além quem o segue, menosprezando a função policial quando pares de olhos curiosos pedem mais saberes. Afinal, a turma estava em absoluto silêncio. Os cretinos também.

 

Entretanto, os professores, abalroados com papelada, sem tempo para o principal, ensinar com qualidade, amarram-se aos computadores e marcam faltas e planos de recuperação, enviam cartas aos Encarregados de Educação que, na maioria, ficam sem resposta; convocam entrevistas e sentem-se totós num universo de espertos. Certezas têm: cortes nos salários, limpeza do material de laboratório, sem a presença da assistente laboratorial assumirem, isolados, os perigos das aulas experimentais, trinta e cinco horas de trabalho por semana, onze horas de trabalho individual, normalmente cumpridas ao fim do dia ou da semana, destinadas a elaborar e corrigir testes, fichas, estudo e preparação de aulas. Era desejável que o professor lesse, tivesse possibilidade de assistir a espectáculos de teatro, concertos, ópera, bailado? Sim, mas a tanto não aspiram – pré e tempo para evoluírem culturalmente é escasso. Empobrecida, também por esta via, a actividade docente. Prejudicados alunos e a educação em Portugal.

 

A reorganização curricular no próximo ano lectivo prevê a eliminação de cerca de vinte por cento dos postos de trabalho – aproximadamente dez mil professores. Ao terminar com o ‘estudo acompanhado’, ‘formação cívica’, a disciplina da ‘Área de Projecto’, o prejuízo dos nossos alunos é incalculável. Das trinta e cinco horas, previstas vinte de carga lectiva semanal independentemente do estatuto na carreira, da idade. E se cidadão fora desta realidade argumentar que não lhe parece mal, que vinte horas frente a alunos ainda são de menos, configure uma média de quatro blocos de 90 minutos por dia, o aumentado número de turmas por docente, o acréscimo de trabalho nas tais onze horas individuais, o castigo do implacável decréscimo de exigência profissional para quem o brio em cada aula ministrada é honra devida aos alunos. E a vida familiar, o acompanhamento dos filhos, que mudanças sociais nefastas terá?

 

Ontem, numa escola, correndo aula, o professor encontrou um jovem com arma carregada e manual de instruções para fabrico de bomba artesanal. Este é começo. Não fosse estarem imbuídos do espírito de serviço à comunidade, directores das escolas e a classe docente há muito e para segurança de todos deviam ter fechado portas a vários estabelecimentos de ensino. Não o fizeram, não o fazem; todos se desdobram em actividades mil. Subserviência bem intencionada que sai cara ao país. 

 

CAFÉ DA MANHÃ

  

Cortesia de RMF.

 

publicado por Maria Brojo às 07:16
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