Domingo, 14 de Novembro de 2010

ESPESSO E DOCE

Colecção "Outono nos Parques de Lisboa - 2010"

 

Outono pardo em Lisboa. O céu promete água que não vem. Almoço frugal em parque conhecido pelos da Grande Alface que às bondades da cidade não restam indiferentes. Câmara/olho aprisiona tempo. Falácia – regista instantes dos múltiplos tempos em que as muitas pessoas são. Exclusivo, sim, o olhar treinado e falsamente absorto do redor. Vê parte, bebe o todo, sente a humidade, colhe pingos na mão aberta. Botas rasas e polar, jeans colados, losangos nas meias de lã. Mais não quer. Quente por dentro, face tépida pelos dezassete máximos. Dos troncos cortados como lenha para lareira sem modernices recuperadoras de calor, inventa aroma da madeira ardente. No banco, encontra assento e tempo para digerir, do lugar, o vintage. Espesso e doce.

  

 

Nas subidas em escada talhadas com pedra ou em ponte de cimento novo que recriou o ido, no manto de água encarreirado onde jaz manto de folhas, pensa a libertação da Nobel da Paz, Aung San Su Hyi. Também ela sorriu à porta da casa/prisão duma década como os aloe vera que nenhum jardineiro mandador ordena ou limita o crescer. Também hoje reiniciou a actividade política com o brilho de quem acredita numa Birmânia democrática e por ela lutou, lutará. Também os aloe vera exibem verde brilhante sem pó de anos ou circunstância que desbote a cor original - porque chuva os lavou, porque resistem e enfrentam com mansidão corajosa agressões exteriores.

 

 

Ao lado do bosque a árvore, palmeira antiga que centra a irregularidade das fronteiras do lago. Outra que tão alto não logrou subir desafia quem julga bastar um salto para da ilha ver a margem. Água parada é espelho. Reflecte o de cima, mostra o simétrico, não o contrário. Nas bordas, pedras-assento sugerem detença: que o intruso se alimente de paz na quietude do bosque com surpresa líquida num lado, que inspire bondades e expire desassossegos ociosos.  

 

 

Ainda do lago margem. Varandim que não é, mas, de longe, simula. Arcos feitos de pedras mal partidas/mal paridas. Parecem amontoadas com pressa e mais não serem que ímpeto da imaginação feito matéria. Engano: obedecem ao gosto do tempo, da moda, da Regaleira, de parte do Botânico em Coimbra, doutros redutos verdes por este povo concebidos ou copiados de alheios. Jardins que à geometria não obedecem, que aliam liberdade e ordenada expressão escrita, legível para quem os códigos souber/quiser entender. Olhados troncos, resto de podas ou de árvores caídas por algum ventar maldoso, parece aleatória a disposição sobre a relva misturada com ervas que húmus não rejeitam. Será. Dói à mesma ver cepos com seiva a resinar escorrendo dos cotos.     

 

CAFÉ DA MANHÃ

  

publicado por Maria Brojo às 09:30
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