Jean Pierre Gibrat
A intenção deste amanhecer na escrita era a de transbordar mágoa pelos seis bombeiros mortos, pelos outros cinco em situação de feridos graves ou muito graves, pela enormidade da área portuguesa devastada pelo fogo, pelo drama na Síria. Penoso tema para quem a alma está, pelo mencionado, em labaredas infernais há muito traduzidas em palavras na poesia do Inferno de Dante e na pintura por Botticelli no seu Mappa dell’Inferno.
A propósito do vídeo publicado ontem, o estimado comentador António que há muito não escrevia aqui fez pergunta que me alterou o caminho escrito anteriormente planeado.
_ “Este filme, não é a versão com o Viggo Mortensen, pois não?”
Respondi:
_ “Sim, esta é versão do Agustín Díaz Yanes com o Viggo Mortensen. Vi repetidas vezes o filme comprado em Espanha, logo falado em espanhol. Se alguma crítica tenho a fazer é a fraca qualidade do som. De resto, correspondeu ao meu imaginário após lida a obra literária. O que não é fácil em idênticas circunstâncias: conto meia dúzia de filmes. Fazendo listagem pela ordem dos que mais depressa me arribam à memória, "O Amante" da Yourcenar, "Morte em Veneza" de Thomas Mann, "O Nome da Rosa" do Eco, "A Insustentável Leveza do Ser" do Kundera, aliás o único livro que o Milan permitiu adaptação cinematográfica, o "Chocolate" da Joanne Harris, "A Cor Púrpura" da Alice Walker.”
Cheguei assim a proposta suscetível de debate comum – como condiciona uma leitura adaptada ao cinema a visão prévia do filme? Direi que prefiro absorver o livro, dar-me o luxo de inventar ambiência, corpo e rosto dos personagens fundamentais, e, somente depois, visionar imagens captadas. Frequentemente, adio assistir a um filme se ainda não fruí do prazer de sentir nos dedos e no espírito as palavras. Porém esta é mania redutora e gravosa na consequência: quase certa desilusão com o visto. Lembro, como exemplos, “As Vinhas da Ira” de Steinbeck, “Doutor Jivago” de Boris Pasternak. Injustiça clara para com a arte da recriação, seja na forma de filme ou em teatro – “Jardim Zoológico de Cristal”, escrito por Tennessee Williams, ocorre-me de rompante.
O inverso sucede-me. Lido o policial “Código da Vinci” de Dan Brown, visto depois no cinema, jamais desliguei Tom Hanks do protagonista Robert Langdon nas restantes obras do mesmo autor. Com “As Ligações Perigosas” o mesmo. Ao ler o romance homónimo de Choderlos de Laclos, análise sob forma epistolar da aristocracia francesa antes da Revolução, ambiente e personagens sempre pertenceram a Frears em detrimento da mais condimentada adaptação de Milos Formam. Das outras nove adaptações ignoro tudo.
Vai longo este perorar. Que mais e melhor outros partilhem.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros