Robert Mcginnis Norman Rockwell
“Eu sou do tempo...” era começo de frase que, no «meu tempo» era exclusiva de avós e tias solteironas apoiadas em bengala encastoada com prata. À velocidade a que tudo por ora acontece, antecipada a idade para a proferir. Pela acrescida esperança de vida, muitos irão repeti-la a cada passo mais cedo.
Sou então do tempo em que as senhoras usavam combinação. Menina pequena, encantavam-me as rendas finas e os cetins brilhantes e sedosos. Lavadas com extremo cuidado numa solução de suave sabão de sedas. Tudo a rigor e com tempo. Secavam juntamente com outra roupa íntima, arredadas de olhares estranhos – não era de bom-tom exibir a olhos conspícuos tais mimos. Recato acima de tudo.
Na presença de pupilas inocentes emolduradas por caracóis presos com laços, as mães despiam-se até à combinação. Um beijo na bochecha e a sugestão com ordem implícita: “Não quer ir para o quarto brincar? A mãe vai arranjar-se para dormir.” E lá seguia eu corredor fora, interminável como ao tempo o via, cogitando na razão que me proibia vislumbrar mais pele além da que a combinação revelava.
Na combinação lia o símbolo de limites inultrapassáveis. A perceção do proibido. O corpo como mistério que não convinha desvendar. Fonte de normativos constrangedores. Sussurros findando e silêncio nascendo mal passos miúdos de criança eram ouvidos. Como se o longo fio das rendas imbricadas fosse medida da distância entre mães e filhas que só a ternura encurtava.
CAFÉ DA MANHÃ
Autor que não foi possível identificar
As redes sociais têm vantagens e perigos – neste particular, a novidade não existe. Das vantagens enumero acréscimo de saberes, notícias anteriores ao conhecimento geral, encontro de gentes amigas em lugar incerto pelas curvas da vida. Dos perigos, sabemos. Alvo comum: crianças e adolescentes. Daqui a necessidade de prevenção familiar – para os mais novos, filtros, utilizarem o computador sito na sala onde pais e filhos se reúnem ao serão. E para os adultos? _ Cautelas e bom senso.
De mulher precavida, perspicaz e pragmática, ouvi relato em que ocupou a condição de protagonista. Os factos aconteceram há poucos dias. Por lhe ser necessário devido ao trabalho que desempenha utilizar o Facebook, nomeadamente o chat, deu por ela a ser incomodada por estranho. Considerou surreal que alto personagem militar americano, identificado, entabulasse «conversa». Ignorou-o. A criatura insistiu. Com ambos os pés atrás, optou por responder tendo como fito desembrulhar a situação. Em catadupa, chegaram-lhe escritos de amor eterno, de paixão assolapada, de a querer conhecer em breve, casar, conquanto estivesse, dizia, em comissão num teatro de guerra ou de fingido consolidar duma qualquer paz. O discurso parecia coerente, os dados fornecidos compatíveis. Ela ria dos escritos e desesperava pela ausência de falhas.
À medida das conversas corridas, empatando respostas de modo que o indivíduo(?) julgasse tê-la no papo, a mulher investigava. Tudo parecia certo e não houve buraco de agulha em falta na pesquisa. Eis pedido extraordinário: que ela tratasse em Portugal das diligências necessárias para a vir conhecer com o pretexto de ser a sua futura respectiva. Havia dinheiro envolvido para a ‘saída do campo’, impunha-se transferência de verba para o sofredor militar.
Por este tempo, já a mulher entrara em contacto com outras. Provou o que intuíra: _ Uma corja! Desta, nigeriana com o objectivo de endrominar mulheres em todo o mundo. Hoje, tem ‘amigas’ espalhadas por continentes, algumas vítimas da esparrela, outras tão argutas como ela. Impõe-se denúncia.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros