Quarta-feira, 2 de Julho de 2014

DO “EL PAÍS”, “UM CANHÃO PELO CU”

 

Ron Pfister                                                                                                             Victor Dubreuil

 

O seguinte texto foi publicado recentemente no El País, tendo-se tornado absolutamente viral em Espanha. Reflete sobre o terrorismo financeiro e a captura económica. Faz uma análise sobre o capitalismo atual que está a incendiar não só Espanha como todo o mundo. O título é "Um canhão pelo cu", e é escrito por Juan José Millas.

 

“Se bem entendemos - e não é fácil -, a economia financeira é a economia real do senhor feudal sobre o servo, do amo sobre o escravo, da metrópole sobre a colónia, do capitalista manchesteriano sobre o trabalhador explorado. A economia financeira é o inimigo de classe da economia real, com a qual brinca como um porco ocidental com corpo de criança num bordel asiático.

Esse porco pode fazer com que a tua produção de trigo se valorize ou desvalorize dois anos antes de sequer ser semeada. Na verdade, pode comprar-te, sem que tu saibas da operação, uma colheita inexistente e vendê-la a um terceiro, que a venderá a um quarto e este a um quinto, e pode conseguir, de acordo com os seus interesses, que durante esse processo delirante o preço desse trigo quimérico dispare ou se afunde sem que ganhes mais caso suba, apesar de te deixar em maus lençóis se descer.

Se o preço baixar demasiado, talvez não te compense semear, mas ficarás endividado sem ter que comer ou beber para o resto da tua vida e podes até ser preso ou condenado à forca por isso, dependendo da região geográfica em que estejas - e não há nenhuma segura. É disso que trata a economia financeira.

Para exemplificar, estamos a falar da colheita de um indivíduo, mas o que o porco compra geralmente é um país inteiro e ao preço da chuva, um país com todos os cidadãos dentro, digamos que com gente real que se levanta realmente às seis da manhã e se deita à meia-noite. Um país que, da perspetiva do terrorista financeiro, não é mais do que um jogo de tabuleiro no qual um conjunto de bonecos Playmobil andam de um lado para o outro como se movem os peões no Jogo da Glória.

A primeira operação do terrorista financeiro sobre a sua vítima é a do terrorista convencional: o tiro na nuca. Ou seja, retira-lhe o caráter de pessoa, coisifica-a. Uma vez convertida em coisa, pouco importa se tem filhos ou pais, se acordou com febre, se está a divorciar-se ou se não dormiu porque está a preparar-se para uma competição. Nada disso conta para a economia financeira ou para o terrorista económico que acaba de pôr o dedo sobre o mapa, sobre um país - este, por acaso -, e diz "compro" ou "vendo" com a impunidade com que se joga Monopólio e se compra ou vende propriedades imobiliárias a fingir.

Quando o terrorista financeiro compra ou vende, converte em irreal o trabalho genuíno dos milhares ou milhões de pessoas que antes de irem trabalhar deixaram na creche pública - onde estas ainda existem - os filhos, também eles produto de consumo desse exército protegido pelos governos de meio mundo mas superprotegidos, desde logo, por essa coisa a que chamamos Europa ou União Europeia ou, mais simplesmente, Alemanha, para cujos cofres estão a ser desviados neste preciso momento, enquanto lê estas linhas, milhares de milhões de euros que estavam nos nossos cofres. E não são desviados num movimento racional, justo ou legítimo, são-no num movimento especulativo promovido por Merkel com a cumplicidade de todos os governos da chamada zona euro.

Tu e eu, com a nossa febre, os nossos filhos sem creche ou sem trabalho, o nosso pai doente e sem ajudas, com os nossos sofrimentos morais ou as nossas alegrias sentimentais, tu e eu já fomos coisificados por Draghi, por Lagarde, por Merkel, já não temos as qualidades humanas que nos tornam dignos da empatia dos nossos semelhantes. Somos simples mercadoria que pode ser expulsa do lar de idosos, do hospital, da escola pública, tornámo-nos algo desprezível, como esse pobre tipo a quem o terrorista, por antonomásia, está prestes a dar um tiro na nuca em nome de Deus ou da pátria.

A ti e a mim, estão a pôr nos carris do comboio uma bomba diária chamada prémio de risco, por exemplo, ou juros a sete anos, em nome da economia financeira. Avançamos com ruturas diárias, massacres diários, e há autores materiais desses atentados e responsáveis intelectuais dessas ações terroristas que passam impunes entre outras razões porque os terroristas vão a eleições e até ganham, e porque há atrás deles importantes grupos mediáticos que legitimam os movimentos especulativos de que somos vítimas.

A economia financeira significa que quem te comprou aquela colheita inexistente era um porco com os documentos certos. Terias tu liberdade para não vender? De forma alguma. Tê-la-ia comprado ao teu vizinho ou ao vizinho deste. A atividade principal da economia financeira consiste em alterar o preço das coisas, crime proibido quando acontece em pequena escala, mas encorajado pelas autoridades quando os valores são tamanhos que transbordam dos gráficos.

Aqui se modifica o preço das nossas vidas todos os dias sem que ninguém resolva o problema, ou mais, enviando as autoridades para cima de quem tenta fazê-lo. E, por Deus, as autoridades empenham-se a fundo para proteger quem te vendeu, recorrendo a um esquema legal, um produto financeiro, ou seja, um objeto irreal no qual tu investiste, na melhor das hipóteses, toda a poupança real da tua vida. Vendeu fumaça, o grande porco, apoiado pelas leis do Estado que são as leis da economia financeira, já que estão ao seu serviço.

Na economia real, para que uma alface nasça, há que semeá-la e cuidar dela e dar-lhe o tempo necessário para se desenvolver. Depois, há que a colher, claro, e embalar e distribuir e faturar a 30, 60 ou 90 dias. Uma quantidade imensa de tempo e de energia para obter uns cêntimos que terás de dividir com o Estado, através dos impostos, para pagar os serviços comuns que agora nos são retirados porque a economia financeira tropeçou e há que tirá-la do buraco. A economia financeira não se contenta com a mais-valia do capitalismo clássico, precisa também do nosso sangue e está nele, por isso brinca com a nossa saúde pública e com a nossa educação e com a nossa justiça da mesma forma que um terrorista doentio, passo a redundância, brinca enfiando o cano da sua pistola no rabo do sequestrado.

Há já quatro anos que nos metem esse cano pelo rabo. E com a cumplicidade dos nossos.”

Texto adaptado do escrito por Juan José Millas, enviado por Jaime Brojo Esteves

 

CAFÉ DA MANHÃ

publicado por Maria Brojo às 09:06
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Quarta-feira, 23 de Janeiro de 2013

SÃO BRÁS DO COITO

 

Michael Godard

 

Notícia tal qual ouvi e li:

“Falta de transparência é a principal conclusão do inquérito de transparência orçamental. Uma iniciativa de um grupo de reflexão sedeado em Washington, que, com a ajuda de economistas de todo o mundo, olhou à lupa para os orçamentos de uma centena de países.

 

O inquérito concluiu que a transparência das contas portuguesas está bem classificada em termos mundiais. No entanto, quando comparada com a de outros países europeus, faz fraca figura. Com contas públicas mais opacas estão apenas a Itália, a Polónia e a Roménia.

 

Em Portugal, a análise foi feita por uma equipa encabeçada pelo economista Paulo Trigo Pereira. O professor do ISEG explica que uma das principais recomendações do estudo é a criação de um orçamento para o cidadão, à semelhança do que acontece noutros países da Europa.

 

Portugal até melhorou desde a última análise, feita há dois anos, mas na nota de imprensa sobre o estudo, redigida por peritos internacionais e que foi enviada para jornalistas de todo o mundo, o International Budget Partnership pega em Portugal para dizer o que não deve ser feito.”

 

Hugo Neutel

 

A obscuridade das contas nacionais, a ignorância da real tragédia económica e financeira em que mergulhámos contribuem para a descrença dos portugueses nos governantes. E se têm razão! Quanto são capazes de ler e entender de ‘fio a pavio’ o Orçamento de Estado? Ininteligível pelos códigos utlizados, é documento para especialistas, jamais para o cidadão comum. Ora, sendo estes os pagantes das faturas do país, merecem, no mínimo, a consideração de lhes ser permitido averiguá-las em detalhe e de modo fácil.

 

Como quem não deve, não teme, inexistindo «rabos de palha» que, conhecidos, seriam motivo para escândalo e fogueira, os governantes encaracolam-nos. Desconfiança sistemática, boatos atemorizadores são consequência, bem como a desequilibrada balança das contas portuguesas. A sistemática vigilância pública nas intenções e desvios orçamentais é de eficácia sem defeito. Obedece a provérbio d’antanho: “São Brás do Coito desafoga um para afogar oito”.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 10:04
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Sábado, 14 de Janeiro de 2012

PAI EXTREMOSO E OUTROS QUE TAL

Colagens de Ana Macedo

 

Existem pais extremosos. Não perdem uma reunião de pais, festa no colégio artilhados com máquinas de filmar para documentarem os desempenhos dos respectivos infantes, dos dias, gostos, desgostos deles querem saber. Ao passarem de crianças a adolescentes e, mais tarde, a adultos, a preocupação não cessa. Braga de Macedo, ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva e militante do PSD, deve ser um deles. De tão cuidadoso com a filha Ana Macedo, (artista plástica), enquanto Presidente do Conselho Directivo do Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT) apoiou o Instituto Camões para levar a sua menina até Maputo e na, dizem, linda estação de caminhos-de-ferro realizar a exposição "Caras e Citações: uma interpretação estética sobre Universidade, Cultura e Desenvolvimento". Quem vive e entende destas manifestações artísticas na capital de Moçambique afirma não haver memória do instituto público dirigido por Braga de Macedo alguma vez ter ali patrocinado qualquer evento cultural além deste. Já em 2010, uma parceria entre a Faculdade de Letras e o IICT permitiu à jovem desenvolver o projecto “Saber Continuar”  e realizar outra exposição. Aconselho os nossos artistas plásticos que se esmifram para expor a fazerem fila junto à referida instituição, reclamando patrocínios semelhantes com o dinheiro deles e dos restantes portugueses.

 

Vem o anterior a propósito da nomeação de “29 assessores /adjuntos de ministérios, todos menores de 30 anos, havendo 14 'especialistas' com idades entre os 24 e os 25 anos nomeados para combater a crise”. Jovens precoces é o que é, superdotados, quiçá, ou, sendo perversa, amigos e conhecidos de figurões, ou, acumulando parva e «boazinha», medida governamental que impeça a emigração destes crânios. A lista seguinte tem o seu quê de maçador, mas reter os nomes dos ‘especialistas’ poderá em futuro próximo esclarecer o que agora é nubloso(?).

 

“Ministério da Defesa Nacional (2)
Cargo: Assessora. Nome: Ana Miguel Marques Neves dos Santos. Idade: 29 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,33. Cargo: Adjunto. Nome: João Miguel Saraiva Annes. Idade: 28 anos. Vencimento mensal bruto: 3.183,63.

Ministério dos Negócios Estrangeiros (1)

Cargo: Adjunto. Nome: Filipe Fernandes. Idade: 28 anos. Vencimento mensal bruto: 2.633,82.

Ministério das Finanças (4)

Cargo: Adjunto. Nome: Carlos Correia de Oliveira Vaz de Almeida. Idade: 26 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,33. Cargo: Assessor. Nome: Bruno Miguel Ribeiro Escada. Idade: 29 anos Vencimento Mensal Bruto: 2.854. Cargo: Assessor. Nome: Filipe Gil França Abreu Idade: 28 anos. Vencimento mensal bruto: 2.854. Cargo: Adjunto. Nome: Nelson Rodrigo Rocha Gomes. Idade: 29 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,33.

Ministério da Administração Interna (2)
Cargo: Assessor. Nome: Jorge Afonso Moutinho Garcez Nogueira. Idade: 29 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,33. Cargo: Assessor. Nome: André Manuel Santos Rodrigues Barbosa. Idade: 28 anos. Vencimento mensal bruto: 2.364,50.

Ministro Adjunto dos Assuntos Parlamentares (5) Cargo: Especialista. Nome: Diogo Rolo Mendonça Noivo. Idade: 28 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,33. Cargo: Adjunto. Nome: Ademar Vala Marques. Idade: 29 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,33. Cargo: Especialista. Nome: Tatiana Filipa Abreu Lopes Canas da Silva Canas. Idade: 28 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,33. Cargo: Especialista. Nome: Rita Ferreira Roquete Teles Branco Chaves. Idade: 27 anos. Vencimento mensal bruto: 3069,33. Cargo: Especialista. Nome: André Tiago Pardal da Silva. Idade: 29 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,33.

Ministério da Economia (8)

Cargo: Adjunta. Nome: Cláudia de Moura Alves Saavedra Pinto. Idade: 28 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,34. Cargo: Especialista/Assessor. Nome: Tiago Lebres Moutinho Idade: 28 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,34. Cargo: Especialista/Assessor. Nome: João Miguel Cristóvão Baptista. Idade: 28 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,34. Cargo: Especialista/Assessor. Nome: Tiago José de Oliveira Bolhão Páscoa. Idade: 27 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,3. Cargo: Especialista/Assessor. Nome: André Filipe Abreu Regateiro. Ídade: 29 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,34. Cargo: Especialista/Assessor. Nome: Ana da Conceição Gracias Duarte. Idade: 25 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,34. Cargo: Especialista/Assessor. Nome: David Emanuel de Carvalho Figueiredo Martins. Idade: 28 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,34. Cargo: Especialista/Assessor. Nome: João Miguel Folgado Verol Marques. Idade: 24 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,34.

Ministério da Agricultura (3)

Cargo: Especialista/Assessor. Nome: Joana Maria Enes da Silva Malheiro Novo. Idade: 25 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,33. Cargo: Especialista/Assessor. Nome: Antero Silva. Idade: 27 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,33. Cargo: Especialista. Nome: Tiago de Melo Sousa Martins Cartaxo. Idade: 28 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,33.

Ministério da Saúde (1)
Cargo: Adjunto. Nome: Tiago Menezes Moutinho Macieirinha. Idade: 29 anos. Vencimento mensal bruto: 3.069,37.

Ministério da Educação e da Ciência (2)
Cargo: Assessoria Técnica. Nome: Ana Isabel Barreira de Figueiredo. Idade: 29 anos. Vencimento mensal bruto: 2.198,80. Cargo: Assessor. Nome: Ricardo Morgado. Idade: 24. Vencimento mensal bruto: 2.505,46.

Secretário de Estado da Cultura (1)

Cargo: Colaboradora/Especialista. Nome: Filipa Martins. Idade: 28 anos. Vencimento mensal bruto: 1.950,00."

 

Talvez Álvaro dos Santos Pereira, Ministro da Economia, utilize os nomeados que lhe cabem para o franchising do pastel de nata que defende.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 10:38
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