Francis Bacon – “Three Studies for a Portrait of Lucian Freud”
Há quem da sordidez faça vida. Nela se instale. Habitue. Como quisto sebáceo no lugar do costume. Vidas gordurosas. Poros como crateras abertos à trafulhice. Vidas-contos-do-vigário. Pejadas de fungos e bolores. Propícias à rataria e bichos subterrâneos. Odeiam luz que as foque. Do sol admitem o calor e o brilho que aos outros exibem, nalguma coisa simulando serem iguais. Não o sendo, longe disso. São morcegos necrófagos - da noite fazem dia e sugam quem mais perto chegar.
Dizem ser a oitava arte a que vende a sétima. A sétima, coisas, pessoas, principalmente o próprio. Arte invisível, não fossem os olhos miúdos que pingam manha e nalgum instante desliza manchando o discurso untuoso do vendedor da alma. Esta ao serviço de quem mais der. Ou parece dar, por maiores serem a longo prazo os logros dos vendilhões do que, à primeira vista, julgam surripiar.
O mundo está cheio deles. Descoberta a rede que lhes abriga a falsidade e o suor e o sebo e a manha e o rosto e as dívidas e a marginalidade, dela fazem galinha-dos-ovos-douro. Estejam puídas as defesas que ao indivíduo amarram ao cais, por descuido, inocência ou credulidade, as vítimas caem num ai. Daí a confiar vai um passo. Uma vez estilhaçada, a piedade ou o espírito redentor, são o maior perigo - é tornada vítima o morcego. Necrófago por necessidade, julgam almas pueris. Esquecida a vocação. Somente quando a gordura escorre e se acumula até o cheiro nauseabundo impedir a respiração, a vítima esbraceja. Levanta a cabeça para sobreviver. Olha o lodaçal, o buraco escuso e o bolor e os fungos. Foge a sete-pés.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros