Desta publicidade ao Transiberiano na Exposição Universal de 1900 em Paris, nasceu o texto.
Ela caminha de alto com desespero líquido do olhar. Não lhe vacila o passo lançado pelo corpo elegante. A fragrância fica quando o pé, delicadamente arqueado, aponta à frente o extremo do sapato. Exclusivo. Caro. Como traço que termina assinatura. E da atitude impressiva, quem a vê não lhe é fácil desprender o olhar. Há pessoas assim, sem que interesse raça ou posição social - o sapato vulgar nelas adquire condição de precioso artefacto, fabricado com esmero e dedicação. Mas o desespero persiste. A nostalgia é manto que esvoaça ao caminhar. Mulher fatal.
Olha, sem ver, para lá da janela. As cortinas encarnadas prendem ao lado. O vermelho imperial está nos pormenores do teto e no estofo das pesadas cadeiras de madeira maciça. As mesas para dois, ladeando as janelas, são cobertas pela alvura dos linhos e o brilho dos cristais. O corredor central é percorrido em paço que ondula e é firme pelos funcionários da carruagem-restaurante. Lanternas oscilam no ziguezaguear do comboio entre Moscovo e Pequim. Rússia, Mongólia e China são gigantes atravessados pelo Transiberiano. Dois dias na capital russa e durante cinco perdem-se olhares na longa estepe siberiana. Deixados para trás os Montes Urais, a cidade de Irkutsk e o lago Baikal, o comboio chega a Ulan Bator, capital da Mongólia. Espreguiça três dias e ganha força para enfrentar o Norte desértico até à fronteira da China. Pequim como sortilégio final.
Ela desce, tranquila como (…)
CAFÉ DA MANHÃ
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