Era o branco, tons de terra, laranja em detalhes como a lembrar final de Verão quando a folhagem das videiras, pelo cobre na seiva, é paleta variada. Tempo rico, tempo de colher os bens que a lavoura em chão fértil produz pelos cuidados de quem o trabalha e ama e rega e vigia cada rebento nascido. Era um espaço sereno onde os olhos poisavam sem receio de anacronismo que contradissesse o minimalismo presente.
Porque há luz a rodos no perto e longe, pelo frio da manhã e da noite que chega cedo demais apeteceu quentura colorida, ir ao baú e descobrir o ajuntado. E lá estava, bem no fundo, a colcha sem era entretecida com seda até compor damasco. Coral o tom. Ofertada pela sogra antes do casamento. A senhora que partiu quando os afectos lhe desejavam o colo de ternura e dádiva por muitos anos mais, guardava peças de enxoval, algumas herdadas, outras saídas da arte que guardava no saber e nas mãos. Artroses doridas torceriam os dedos sem, todavia, impedirem a extremosa dedicação à família.
A colcha alegre e macia viu o dia. De caminho, rendas e bordados tão antigos e retro como ela saíram do escuro. Pelos desenhos e tecidos, Art Déco. Numa caixa funda, objectos contemporâneos dos outros. Em conjunto, emprestaram nova leitura ao ambiente.
Mirado e remirado o conseguido. Olhado com desvelo o remate da colcha. Na alma, sentida a benesse de ter privado com mulher/senhora/mãe/avó que, pela amizade de gerações entre duas famílias, quis a fortuna fosse a primeira a visitar recém-nascida que, décadas depois, afagaria a seda. Na altura, disse: _ “Que felicidade! Nasceu a minha futura nora.” Assim foi.
De amores nas paredes e na cama ficou repleto o espaço. Pontificam magnólias, gosto outro. Pontifica a reserva do todo. Laços de ternura unem mulheres de outrora à que respira a cor da vida.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros