Autor que não foi possível identificar, Myra Schuetter
Sem esconder fantasia/cobiça, quem dera ser herdada por emigrante brasileiro dos fins do IXX ou início dos XX. Conta bancária em maré alta não motiva a fantasia – antes desta enésima descendente muitos a teriam repartido e partido e feito em nada. Diz a sabedoria popular que não necessita de ser letrada para dizeres assisados: “a primeira geração constrói, a segunda consolida, a terceira arruína”. Circulando a atenção nas empresas familiares é comum a trindade de etapas. Como moeda caída na areia, desaparece o bem construído pelo ouro acumulado que predispõe os herdeiros segundos para vida de facilidade.
Os emigrantes portugueses que no século e pouco anterior debandaram para o Brasil fugiam da condição campesina ou artesanal que miseravelmente e a custo alimentava a família. Gente do Norte e Centro interior aventurou bilhete para a esperança. Cruzar o Atlântico na situação de pobres embalados por ondas. Pelo sacrifício pessoal, alguns deram em ricos. Destes, poucos voltaram e construíram casas exuberantes, orgulhosamente distintas do ambiente rural que vira partir os donos.
As Casas dos Brasileiros que desde as férias da infância me alimentam o imaginário, pela majestade e profusão ornamental foram ridicularizadas: exibição de poderes e haveres por pessoas sem instrução e gosto. Mas continuam como soberbos testemunhos dum tempo e apelam a quem nelas deseje atentar. Foram integradas no ‘património qualificado’ Anteciparam tendência actual da arquitectura: arte nómada. Duma delas gostaria de ter herdado, pelo menos, lugar na despensa ou na copa e perder-me dentro e fora.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros