T J Verschaeren, Enzia Farrell
"Não venhas tarde!",
Dizes-me tu com carinho,
Sem nunca fazer alarde
Do que me pedes, baixinho
“Não venhas tarde” cantou Fernando Farinha, Carlos Ramos e outros. “Não venhas tarde Justiça!” diz o povo sem carinho, com alarde e brado.
"Não venhas tarde!",
E eu peço a deus que no fim
Teu coração ainda guarde
Um pouco de amor por mim.
Mas qual amor, qual respeito pode merecer a Justiça portuguesa que pela demora espezinha os cidadãos que dela carecem?
Tu sabes bem
Que eu vou p'ra outra mulher,
Que ela me prende também,
Que eu só faço o que ela quer,
Tu estás sentindo
Que te minto e sou cobarde,
Mas sabes dizer, sorrindo,
"meu amor, não venhas tarde!"
E a Justiça, traidora, não pune crimes contra o país de presumidos culpados, figurões mandantes deste e doutro tempo, que serve com desvelo e salamaleques. Perante mentiras e cobardias o povo não sorri, sofre.
"Não venhas tarde!",
Dizes-me sem azedume,
Quando o teu coração arde
Na fogueira do ciúme.
Mas sim, há azedume nas gentes e, em vez de ciúme, desespero. Em carreira, dias sofridos não perdoam o descaro daqueles que levaram (levam?) à pobreza quem era remediado, à mais porca miséria os pobres.
"Não venhas tarde!",
Dizes-me tu da janela,
E eu venho sempre mais tarde,
Porque não sei fugir dela
Tu sabes bem
De cada janela, de cada porta saia a bem ou fugindo a indignação e faça alarido proporcional aos muitos anos injustos.
Sem alegria,
Eu confesso, tenho medo,
Que tu me digas um dia,
"meu amor, não venhas cedo!"
O cedo da Justiça e da equidade social não existe. Vozes lúcidas se ergue(ra)m prevendo levantamentos populares. Também para estes o cedo escoou-se.
Por ironia,
Pois nunca sei onde vais,
Que eu chegue cedo algum dia,
E seja tarde demais!
E sem ironia, olhares duros nas faces, sabemos por onde vais Justiça! Não te multipliques em códigos que para nada servem excepto para atafulhar «papelões» e endrominar inegáveis direitos dos cidadãos.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros