Lembro boémios doutras eras que, com classe ou falta dela, tendo emborcado uns jarros de vinho ou mistura mais fina, eram personalidades faladas na Lisboa da cultura, conhecidas dos estalajadeiros, donos de tascas e hotéis, caveaux e livreiros.
Fialho de Almeida, cumprem hoje cento e três anos mais um mês após a sua morte, era um deles. Demorou os estudos e somente aos 38 concluiu Medicina como cumpria a estudante que mais desejava fazer e saber do que nomes de cada osso e víscera do corpo humano. Quando em forma de livro dão à estampa “Os Gatos”, nele, Fialho explica o título _ “Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, e fez o crítico à semelhança do gato. Ao crítico deu ele, como ao gato, a graça ondulosa e o assopro, o ronrom e a garra, a língua espinhosa e a câlinerie. Fê-lo nervoso e ágil, refletido e preguiçoso; artista até ao requinte, sarcasta até à tortura, e para os amigos bom rapaz, desconfiado para os indiferentes e terrível com agressores e adversários.» [...] Desde que o nosso tempo englobou os homens em três categorias de brutos, o burro, o cão e o gato – isto é, o animal de trabalho, o animal de ataque e o animal de humor e fantasia – porque não escolhermos nós o travesti do último? É o que se quadra mais ao nosso tipo, e aquele que melhor nos livrará da escravidão do asno, e das dentadas famintas do cachorro.”
Eça de Queiroz, senhor na boémia elegante e endinheirada, fez crítica à obra: _ “O artigo do Fialho – est tout à coté. Quero dizer, dá grandes golpes, mas (…)
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros