Vem do céu. Quando esperada, rebelde como é, fica ausente. Se a surpresa lhe alimenta o vício do aparecer intempestivo, de um momento para o outro, cerra o horizonte. Torna-o diáfano. Pinta-o com brancura mesclada, com mistério enrolado em frio e em quentura interior. Que entreabram as cortinas e lhe espreitem o surgir. Silencioso. Que a desejem e não a temam – liquefaz-se num suspiro despudorado. Derrama o que era seu.
Não lhe importa a fidelidade às antecipações que dela fazem. Desdiz e diz e contraria e aceita e é submissa quando partilha o querer e o estar e o sentir. Que seja noticiado o excesso se dele precisa e dispõe dar. Que interrompa vias por onde circulam afectos. Motorizados. Ser banida com cloreto de sódio e pás não a assusta – sabe das memórias que prevalecerão. Noites longas, fervura íntima, dias brancos. De tudo constitui património e herança.
Por ora, Vila Real e Bragança sentem-lhe a alvura. Isola povoações. A região da Guarda substituiu-a por gelo. Sabe o que perdeu. E a mulher vive saudade da neve na Beira Alta que ama. Do crepitar da lenha e do fogo latente nas brasas. Porque o Natal já é e terá apogeu daqui a uma semana, pela totalidade dos presentes embrulhados com amor e sem consumo que a consuma, lembra a pista de sky na cidade, as luzes dum alongado Natal vivido há dois anos, os imaculados farrapos caídos do céu que fotografou.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros