Vladimir Kush – Heavenly Fruits Vladimir Kush – Clockwork Apple
Acordei tresmalhada – mulher que sonha com Newton mais a macieira da lenda gravítica a poucos minutos de abrir para o dia as pestanas não pode estar sã. Algum bicho incubou larva em ninho cerebral identificado, conquanto ignoto o lugar da procriação. A macieira, juro porque ‘vi’, era árvore pequena num bosque de outras centenárias. Encontrá-la foi demanda longa, maior que a do Santo Graal.
Carvalhos de seiscentos anos, faias de trezentos, teixo de mil, castanheiro que dum milénio passou. Senhor ilustre que de lado nenhum conheço, Brian Muelaner, disse: _ “Ficar perto de uma árvore antiga, que viveu séculos de história, pode ser uma experiência de humildade.” É verdade – sem dispensa da ordem precária, passam no largo incomparavelmente mais avantajado que o meu. Idear a morte não me aflige, mas testemunhar vidas milenares deixa-me mais pequena que no momento do arribar da consciência lógica. Se árvores velhas morrem majestosas, hirtas e enramadas nas copas cheias, o ser humano minga com o deslizar do tempo enguia, fugidio como ela ou peixe.
Newton, o génio que no campo buscou refúgio da cidade malsã, surge como símbolo de quem esbraceja contra a penúria vivida e a pior anunciada. Outra interpretação do sonho espreita: vontade de encontrar a raiz do talento que de poucos faz maiores no caldo anónimo. Não é delírio este sinal de utopia falhada? Mal digerida? Ou ambição de resistência à dúvida de chegar a horizontes longe? Nem com par de doses de cafeína curta encontrei resposta. Nem esperava. O mistério dos sonhos é substrato para interrogações e procuras e crescer.
CAFÉ DA MANHÃ
Graham Mckean
Observando o nosso povo, arrisco: já somos velhos no primeiro «buá-buá». Houvera dicionário «buá-português» e dos recém-nascidos o choro seria lamento – “que não, que não podia ser, que estavam tão bem aninhados no útero, era direito adquirido desde a conceção, não tinham sido avisados do aluguer a prazo do lugar, e era injusto, ou lá se era!, verem-se obrigados a, dolorosamente, encher de ar os pulmões.
No estado adulto e na essência, as lamúrias, não diferem – somos infelizes ou desafortunados pela incompetência do poder político, pelo sobranceiro domínio do dinheiro (quem diz dinheiro diz petróleo ou água num qualquer amanhã). Pouco mais que traças sem agasalho para esmoerem. Sociedade que ignora a justiça, é cruel e arrivista. Só para os graúdos no «ter» a vida é rosa bebé. Nem para esses, vendo bem: uns esmifrados pelo crescimento dos lucros, sem tempo para a família, para eles, para fruírem dos milhões acumulados, enrolados em affairs de carne ou iates ou de contas bancárias que lhes deem a precária ilusão de vivos numa vida amortalhada. Faltam génios como alguns de outrora: um Newton, Churchill, um Mahatma Gandhi, um Einstein, um Eisenhower, Aristides de Sousa Mendes. Inventivos. Corajosos. Determinados.
E há fatia de verdade no reduto da insatisfação. Que não é de hoje - sempre houve e existirá. Fado? Sim por ser natural no pensar humano a ânsia por melhor. Louvável por negar o espírito contentinho no pensar e exigir. Não por que as sociedades são dialéticas e se renovam. Não por nos faltar distanciamento imprescindível para ler os acontecimentos numa perspetiva conjuntural. Não por serem indistintos nos seis mil milhões de terrestres os motores de arranque das mudanças geniais e as hordas de boas-vontades solidárias. E quando os vemos despontar, depressa tentamos aniquilá-los com clichés: lunáticos, excêntricos, incumpridores na peneira do fisco, social ou moral.
Quantos anos de cadáver corroído por biliões de vermes são precisos para atribuir genialidade a quem, na atualidade, a possui?
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros