Quinta-feira, 30 de Outubro de 2014

“ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE”

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Mulher do século XXI – Bravo da Mata

 

Assassinam-nas quando a relação entorta. Maridos, companheiros, namorados estão incluídos nos 71% dos agressores. «Ex» são, entre eles, 19%. Somando as duas parcelas no quadro da violência doméstica, temos que em cada dez assassinos, nove estiveram afetiva e/ou emocionalmente envolvidos com as vítimas.

 

É frequentemente letal para mulher que negue continuar num relacionamento moribundo o síndroma da rejeição de que padecem alguns homens. Vieram a lume números inquietantes a partir da comunicação social. A violência doméstica mata mais mulheres que o cancro da mama. Nos dez meses deste ano, dezenas foram assassinadas e centenas estiveram à beira do mesmo fim ao decidirem retomar a vida sem aqueles com quem partilharam um amor. Nos dados obtidos, são notícia homens vitimados por razões semelhantes, todavia em número residual, mais os que decidem procurar tratamento clínico antes dos comportamentos agressivos surgirem.

 

Para alguns homens, “até que a morte nos separe” é literal. Mais fundamentalistas do que a Igreja Católica que no ritual do casamento a idêntica jura obriga nubentes. O perigo social destes machos violentos advém das crianças e familiares serem vítimas potenciais. Bombas-relógio que atingem, preponderantemente, mulheres na faixa etária dos 36 aos 50 anos, seguida pelas maiores de 51 anos. Quase todas, sujeitas a décadas de maus tratos. Nestas situações, é leviandade afirmar “quem está mal, muda-se”, como se num estalar de dedos a tragédia se evaporasse.

 

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 09:52
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Sábado, 11 de Janeiro de 2014

FERVURA FÁCIL

 

 

 

Samuel Bak - Study                                                                                                          Samuel Bak - Crucified

 

Chegar a vias de facto. Os «psis» consagraram o «passar ao ato». Ambas as expressões vão dar ao mesmo - fazer ou dizer coisas impensadamente, por vezes em rutura com o comportamento normal do sujeito. Estaladas, agressões verbais, danos físicos, irreparáveis ou não. A morte. Num instante de loucura passar de cidadão banal a assassino.

 

Que motivações ocultas e recalcadas emergem à luz do dia que nem o próprio consegue explicar razoavelmente e com coerência? Quem assiste à bizarria do facto não entende a desproporção entre a (re)ação e o discurso. Da fraca ligação com o enquadramento. Escusada a compreensão quando o próprio não entende.

 

Manter a pose, a dignidade, ficar bem no retrato, são postiços que levedam agressividades, zangas interiores que num momento deflagram em erupções emotivamente vulcânicas. Oscilamos entre o sentimento de sermos os maiores e o de não passarmos de pequenos e maltratados.

 

A excreção de emoções formatada de modo desajeitado, não raro, dá asneira. Para o próprio e para os espectadores que não percebem serem balofas as cenas. Quando o são... Será monótono o comedimento como regra, mas fervura fácil queima aqueles onde o líquido derrama e de cicatrizes todos havemos bastantes.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:00
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Quarta-feira, 11 de Dezembro de 2013

COMO SE ESTIVESSE MORTO

 

 

Henryk Fantazzos

 

É homem das letras. Ensaísta, crítico de arte e literatura, poeta, amante da vida e do que dela afirma melhor: as mulheres. Casa e descasa por paixões – estando uma moribunda, outra se alevanta. Farto dos registos burocratas que legitimam amores, altura houve em que decidiu levar a cabo empreitada diferente das comuns. Calcorreou repartições em busca de alguma que, destemida, carimbasse inédito compromisso entre um homem e uma mulher: pacto mutuamente consentido, de exclusiva prática adúltera. Não conseguiu. Há vinte e cinco anos que vive com a «mulher-amada-amante» nas condições fora-da-lei então definidas.

 

Num fim de tarde adoçado por réstia de sol, o lençol do Tejo em frente, afirmou: “nunca falhei a uma mulher”. Bailaram insinuações brejeiras. Amigos de tempos que foram e são aproveitaram a deixa magistralmente encenada pela voz grave, gestos largos e lestos olhos azuis. Garantiram que alguma falha, alguma negação à sorrelfa da vontade, terá cometido o pedaço do corpo que nas vulvas encontra deleite. Negou. Deu razão: “a uma mulher, ou mais, se ajuntamento delas acontece, sempre disse: façam-me tudo como se estivesse morto! Ora, de um defunto nada há a reclamar. É milagre a ressurreição da carne. Alegre acrescento ao nada que antecipei.” Voaram risos e contestações no crepúsculo de folhas caídas.

 

Remoí a frase. No respetivo contrário, me fixei. Sendo um homem dado à multiplicação das grutas femininas que lhe recolham o sémen acresce consideração nos machos congéneres. As legítimas são consideradas “devotas e amorosas almas” respeitadoras do ‘pater’ que, com elas, família gerou. Mulher que se declare aberta a múltiplos dadores de fluidos e prazeres gera repulsa nas pares. Talvez comiseração. Talvez rótulo de “perdida” ou paciente que a ninfomania vitimou. Os companheiros guindados ao altar da infelicidade pelos enfeites na testa.

 

Mas também eles são vítimas dos «pré-conceitos» sexuais. Abeirando-se dos cinquenta, é memória ou surpresa rara a generosidade das «duas» consecutivas. «Uma» incondicional é rara sendo a base diária. Cada vez mais longo o recobro e o regresso do sangue à guelra e a passagem de defunto sexual a vivaço capaz de débito que povoe lugarejo – perdida, tempo atrás, a capacidade de, numa assentada, preencher cidades com novos habitantes. E alguns homens «pintam» com benevolente pastel as mudanças. Dizem-se mais sábios. Mais atentos aos jogos que antecedem a prova que espera a carne pendente. Mais desejados por ninfas pela demorada entrega que dos homens próximos em idade não obtém. Esquecem que, passada a novidade, a demora cansa as “lolitas”. E correm, alegremente, o risco de serem chutados para fora da pequena área. Que outros façam goleada com eficácia e pundonor.

 

A partir dos cinquenta, rala certos homens saber das mulheres, pares na idade, a gloriosa fase de não temerem gravidez e da fruição aumentada dos jogos de pele e corpo. E temem-nas. Alguns renegam-nas. Encantam ninfetas com o erotismo advindo de outros poderes. Pelo seu lado, as mulheres ditas maduras deparam-se com a realidade de homens distantes, para menos, na idade atentarem no fascínio das balzaquianas a que a modernidade somou vinte anos. Se Honoré de Balzac por cá andasse, em vez do título “La femme de trente ans”, pela certa escolheria outro: “La femme de plus de quarante ans.”

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:18
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Quinta-feira, 19 de Abril de 2012

O CORAÇÃO E A SEMANA

Autor que não foi possível identificar, Jann Bollaert

 

Tenho evitado assuntos candentes que lembrem a nacional miséria quer ao nível das decisões tomadas pela mediocridade dos governantes, quer pela desgraça social que das anteriores decorrem. Decidi não lamuriar. Decidi não ser eco das lamúrias alheias, salvo quando a gravidade das situações o impõe. Tantos os desastres noticiados, que optei por atenção ao que corre sob as pontes e nos desgraça, sem que do silêncio escrito passe.

 

Pelo atrás dito, doravante, escolho notícias que revelem opções outras de vida. Que interpelem. Que revelem coragem. Para hoje, escolhi fração da nova biografia do “Capitão de Abril”. Reza assim:

_ “Otelo divide, aos 75 anos, o coração - e a semana - entre Dina e Filomena.

De segunda a quinta-feira, Otelo Saraiva de Carvalho vive com Dina, com quem casou em 1960; de sexta a domingo, está com Filomena, mulher que conheceu em 1984, quando esteve detido em Caxias. A bigamia do cérebro do 25 de abril é revelada pela biografia "Otelo, o Revolucionário", do jornalista Paulo Moura.”

 

Incapaz de me atrever a moralizar a situação. Seria hipocrisia julgá-la adequada para mim. Mas quem legitima apedrejar formas diferentes de vida?

_ Não eu!

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 12:32
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Terça-feira, 13 de Março de 2012

DO ORIENTE

Mariola Bogacki

 

A Bita ligou, mal era chegada do Oriente, bússola de (des)encontros,  o Carlos ausência no vaivém dramático que a distanciava do metal ido. “Leia as mensagens, por favor! Da primeira para a última. Diga-me o que devo fazer.” No táxi, ainda enjoada pela oscilação do Intercidades escolhido pelo horário, li a meia dúzia de mensagens reenviadas. Dela e dele. Proposta de encontro. O sim inesperado. “Marco, ou não?” Ele havia de acordar cedo. Ir para fora de Lisboa. A Bita de voltar aos filhos – não a preocupava o asno/ex-marido que se impunha na casa da família, fora do redil até segunda.

 

Mais de um ano contava desde a última partilha de lençóis e prazer repetido. Ainda no táxi, a fala entrecortada ao saber-se ouvida, pela censura vigilante da casa, pelo pudor, pela infinitude do desejo. Na incompreensão do diálogo, sugeri espera. “Deixe-me chegar. Leio atentamente e ligo.” recisava de entrar no lima e ameixa. De encostar frente ao Ernãni Oliveira o nada de cabina. De escarafunchar o telemóvel, durando o fumo duma cigarrilha, na espera do escalda-chávena para o descafeinado lungo. Marquei Bita.

 _ “Não fale. Diga que a convido para sair. Marque o Don Pedro. A suite, pode ser. Aquelas meias pretas com liga enfeitada por laços encarnados, que disse ter e iguais às que me deu pelo Natal. Lingerie nos mesmos tons. Espere-o com uma túnica. A de seda comprada quando a minha. Saltos altos. Madeira no perfume. Tem tantos! Nua no intervalo. Vá à casa de banho em bicos de pés. No após, ronrone. Evite perguntas. Não gere clima romântico que sabe ele temer. Grite. É estranho, mas eles gostam como carimbo do desempenho. Do seu prazer não duvido, conquanto o masculino precise de evidências supérfluas. Ridículas para nós. Que ele durma como é costume no depois. E vá e venha. O resto é consigo. “Que sim, faço e aconteço. Beijinho, minha querida.”

 

Desliguei. Olhei-me ao espelho. Eu que ao momento largo gestos e emoções, pareci-me cronista de revista feminina na coluna “Como Prendê-lo.” Não fazia a menor ideia do sucesso da receita. Sabia-me espontânea e incapaz de obedecer a normas. Porém, dos anos multiplicados em intimidades decantadas e alheias, retivera sins e nãos. Com amigas e confidentes, o sexo não era falado. De filhos, engravidar, gerir rotinas malquistas, inovar amores, empregadas, doenças infantis muitoouvira. Pouco de amantes, além dos filtrados que inscrevia no rol.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 11:38
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Sábado, 11 de Fevereiro de 2012

“AULAS DE SEXO PARA CASADOS”

Anne Bascove

 

Pululam os salões eróticos. Este fim-de-semana, o Porto anima-se com o realizado anualmente. Novidade: “aulas de sexo para casados”. À primeira, pode surgir como risível. À segunda, dá para pensar. À terceira, é para levar a sério conquanto pedagogias género fast não inspirem confiança. Ainda assim, é ideia que não me desagrada. Quantos pares acasalados, caem nas rotinas desestimulantes do quotidiano? Insinuado o tédio, a vertente sexual ressente-se. Ora, a imaginação, o desejo de surpreender o amado sem ou com acrobacias estereotipadas – se o forem e corresponderem a fantasias do casal não vislumbro problema -, acompanhados de tolerância e compreensão, de nadas muitos, compõem a gratificação do conjugar vida a dois.

 

É facto incontestado que nestas exposições eróticas, em vez da maioria de homens sós, entram agora casais em número significativo. O espírito voyeur, quiçá esteja presente e julgo não fugir da realidade, em si não é um mal. Todos, de um modo ou doutro, o possuímos mesmo se aplicado à observação de quem se cruza connosco. E se há curiosidades obsessivas apenas focadas no sexo, sem outras o conhecimento humano restaria primário.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

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Quinta-feira, 27 de Outubro de 2011

DA FRENTE PARA TRÁS

Shinichi Noda, Sorayama, Mel Ramos 


2011

Ao despojamento íntimo chegou a mulher actual. Na pele nada protege as margens que o rendilhado pequeno não cobre. Airosa sensação do nada que à própria tenta! Minimalistas por fora, mais complicadas que nunca por dentro. De tal modo elaboradas (baralhadas?) que 1/5 do bolo masculino lida mal com o desejo e a respectiva concretização. O Relatório sobre a Situação da População Mundial em 2011 constata que “Portugal tem a segunda taxa de fecundidade mais baixa do mundo, o que na prática significa que as mulheres portuguesas estão entre as que têm menos filhos.” Neste relatório, “as Nações Unidas admitem que «a falta de mão de obra ameaça bloquear as economias de alguns países industrializados». As baixas taxas de fecundidade significam menos pessoas a entrar no mercado de trabalho, numa tendência que põe em causa o crescimento económico e a viabilidade da segurança social. A ONU diz que em alguns países mais ricos, a falta de jovens «significa incerteza sobre quem vai cuidar dos idosos e sobre quem pagará os benefícios dos mais velhos».” Esta é uma perspectiva utilitária do homem e da mulher enquanto parideira sem atender às razões (texto publicado no SPNI a 24 de Outubro deste ano de 2011).

 

1991

À-vontade na sexualidade, prestígio do corpo, abordagem liberal das relações dos homens e das mulheres. Elas conquistando terreno social, eles surpresos com os avanços nos seus territórios tradicionais. Perdem nas universidades, na prestação de serviços diferenciados e no domínio familiar. Hesitam como prima-dona a quem a figurante ameaça roubar papel e protagonismo. Viram-se para a própria cas(c)a, aprendem a fruir de modo mais solto e gracioso dos afectos. Aventuram-se na ternura exposta. Chorar sim, se for esse o sentir.

 

1981

Elas tomam, maioritariamente, a iniciativa do divórcio, decidem quando, como e com quem geram filhos. Fazem amor e odeiam a guerra. Das flores nascera símbolo de paz, continuava o tempo de delírios comunitários induzidos por substâncias várias. O corpo tenta, seduz, arrebata, mas é contido por limites que a moral convencionada e os preceitos sociais injectaram como adição. A «roupa interior» diminui em tamanho, cobrindo, todavia, o suposto desdém pelo estabelecido. Lá por fora, houvera, década mais trio de anos antes, Woodstock num descarado 69; por cá, nos setenta e meio, a ilusão do «tasse bem».

 

Gil Elvgren, autor que não foi possível identificar

 

1951

Ousadas? Nunca, salvo as delambidas de intimidade descarada. Corpo impressivo, curvas exuberantes, cintura de vespa não isenta de similar do espartilho. Cinto de ligas, cintas, sutiãs inteiros, vestidos rodados e soquetes ou saias esticadas revelando desafiadoras nádegas. Para elas, as delambidas, aquelas que obliquavam o olhar aos maridos das «esposas modestas». Estas, aos trinta, pelo aspecto da «farda» eram velhas sensaboronas, passadas, mães de família com rolos na cabeça ou apressadas na rua com sacos de compras na mão. Ele saía pela manhã, ficando dela a retaguarda familiar. Pelo final da tarde, ele demiti-a da função no acto de meter a chave à porta. No dia seguinte, mais do mesmo. Pelo mundo, os fifties impavam no maravilhoso(?) mundo dos reactores nucleares.

 

Belle Époque

Espantoso período do avanço cultural e tecnológico europeu. Surge o telefone, o telégrafo, a primeira fábrica Ford e o primeiro dirigível de Santos-Dummont. Depois, a belle époque foi iluminada pela lâmpada eléctrica, pelos filósofos nietzschianos e pela sexualidade abordada por Freud. Conheceu a arte da imagem através do cinema, a arte do som através da rádio, a arte de fotografar através da fotografia colorida, a arte da pintura e da música através dos impressionistas. O espírito europeu estava elevado e com ele todos os sentidos que instigavam a produção cultural. À mulher é permitida a curiosidade e o acesso à formação intelectual superior. Tem espírito incendiado e corpo confinado a pouco mais que a procriação. A «roupa de baixo» é muita, grossa, grande e feita à mão.

 

Autor que não foi possível identificar

 

Intemporal

Arenga para comportamento antigo em tudo semelhante ao presente - dois seres humanos, o desejo, a união. Novo ser depois? Manda o acaso, a guerra e a paz, o bem estar económico, social e da família.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:44
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Segunda-feira, 10 de Outubro de 2011

VIDAS EM BARCAÇAS

Joerg Wardawarda, G. Boersma

 

Ordenação: vidas vazias, meio cheias, repletas. Existem? Quem as classifica? Não subjectividades alheias ou do próprio. Este, imerso no desespero ou na tristeza, considerará sem âncora a barcaça onde navega, ainda que, ao lado, não falte quem o incentive e ofereça apoio incondicional. Borrasca desvanecida, esquece parcialmente o umbigo, as nuvens ainda grávidas de vapor de água a qualquer momento condensado assim que as mágoas individuais retomem a forma de pedras carregadas às costas. E, de novo, é pessoa que sorri, estende olhar aos outros, fica grato à barcaça onde amigos navegam com ele. Ergue âncora e aventura rotas esperançosas. Contudo, ao primeiro insucesso, não tenha aprendido o fluir natural do contentamento, agachar-se-á no convés sem coragem para, ao leme, enfrentar a chuva e a cinza do céu.

 

Vidas repletas são as alheias, as dos ricos por todas as gratificações lhes estarem asseguradas. Falácia. A banalidade do poder e ter acaba por contaminá-los e caem no vazio ou naufragam na ambição julgando que o mais possuir lhes suavizará as inerências da condição humana, talvez a proximidade dum Olimpo que esquecem mítico. Esquecem que vidas repletas somente as dos loucos ou daqueles que as oferecem aos carenciados e com passos miúdos consolidam obra que muitos ajudam. E não é falada a caridadezinha, mas entrega incondicional como foi reconhecido a trio de mulheres exemplares - a presidente da Libéria Ellen Johnson Sirleaf, a activista da mesma nacionalidade Leymah Gbowee e a iemenita Tawakul Karman.

 

O Comité Nobel Norueguês distinguiu as três mulheres «pela luta pacífica em defesa da segurança das mulheres e dos direitos das mulheres na participação total no trabalho de construção da paz».
- “Johnson Sirleaf, de 72 anos, economista formada em Harvard, é a primeira mulher presidente de África, eleita democraticamente em 2005, e continua lutar pela manutenção da paz no seu país.

- A activista liberiana Leymah Gbowee organizou um grupo de mulheres cristãs e muçulmanas para desafiar os senhores da guerra na Libéria e  foi a protagonista de uma «greve de sexo» que acabou com a guerra civil de 13 anos no país.

- Tawakul Karman, de 32 anos, tem três filhos e liderou a organização Mulheres Jornalistas sem Correntes, um grupo de defesa dos direitos humanos. Tem desempenhado um papel fundamental na organização dos protestos no Iémen contra o governo do Presidente Ali Abdullah Saleh, que se iniciaram no final de Janeiro.”


URL: http://www.tvi24.iol.pt/aa---videos---internacio/nobel-paz-nobel-da-paz-ellen-johnson-sirleaf-tvi24/1287049-5798.html

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:55
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Domingo, 9 de Janeiro de 2011

"MORTA E JÁ INCONSCIENTE"

 

Patti Mollica, Bascove, Keith Mallet

 

Que mania de, com estardalhaço, morrermos longe sem catástrofes ou outras razões naturais como causa! Melhor é ser tragicamente defunto no quentinho português do que exportar protagonistas com sangue fervente na guelra, sem capacidade de resolverem conflitos passionais com tartes de chantilly mandadas às bochechas de acordo com o cenário hollywoodesco de Times Square. Seria mais discreto e evitávamos ficar mal-afamados na ‘estranja’. Fosse americano o assassino, ainda vá – fazia jus à mítica, mafiosa(?) cidade de Nova Iorque descrita no cinema que avultada dinheirama rende por esse mundo fora. Fazermos lá o filme sem garantir direitos de autor, permitir rendimentos aos tablóides locais sem uma chavo p’ra troca, está mal. Pior: choca acordar e ouvir notícias pelas matinas em que a nossa jornalista afirma placidamente que “a vítima foi encontrada morta e já inconsciente” .

 

A violência é vil em qualquer lugar. As vítimas merecem compaixão e os culpados julgamentos e castigos. O mesmo com os assassinos que rolam nas estradas portuguesas. Semelhante com quem profana dignidades e, em geral, direitos humanos - no Haiti, são muitas as mulheres violadas pelos homens que rondam os campos onde, após a catástrofe, era suposta protecção. Infelicidade é não existir Novo Ano que, chegado o balanço último, altere substantivamente a contabilidade de tristezas e lutos inúteis.  

 

CAFÉ DA MANHÃ

  

 

 

publicado por Maria Brojo às 10:51
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Quarta-feira, 15 de Dezembro de 2010

RÁFIA E O ESSENCIAL

 

Autor que não foi possível identificar

  

Autor que não foi possível identificar

  

Vem do Brasil a sugestão: “Faça uma ceia de Natal por metade do preço”. Hipóteses: saladas para encher a mesa – fazem bem a tudo e conferem apetecível colorido à refeição -, em vez de peru, frango recheado com aromas e mimos – é menos seco, demora 1/3 no forno –, panetone trocado pelo pavê – adaptado aos nossos costumes equivale à permuta do arroz doce por pudim de pão que aproveita carcaças duras ou congeladas e reduz a energia dispendida pelo fogão. Aromatizado com canela e vinho do Porto é sobremesa de truz. À nossa medida, diminuir o consumo de fritos doces - inferior sobrecarga para o colesterol malino - alivia donas e donos de casa cozinheiros; com vantagem substituídos por bandejas com fruta partida, mimosa, disposta com arte. Queijos menos, patês caseiros que demoram três suspiros, haja batedeira e picadora à mão, vinhos sensatos sem desmerecer a qualidade, chocolate quente. Ora se os brasileiros que, financeiramente, não se afundaram tanto como nós apostam em economizar, ponderosas razões temos para repensar os convívios do palato que também completam as Festas das famílias.

 

Dos presentes convém tratar. Imaginação, horas poucas dedicadas e paciência originam lingerie brincalhona, cartões de Natal personalizados a que as palavras dos sentimentos veros acrescem alegria e promovem o ‘diz agora quanto amas, não deixes para tarde demais’. Simbolismo nas dádivas adequadas a cada um provam ternura na escolha, afecto implícito no cuidado. Rejeitar filas de espera para embalagens a esmo é poupança de tempo e desgaste psíquico. Num serão forrado a música, melhor é obtido com papel simples, ráfia terminada em laçarotes que aperta hastes de pinheiro, galhos esbeltos, folhas de hera vivas ou de plátanos caídas sem atropelos no chão. Fotografia impresssa em casa revelando o momento da recolha dos enfeites será memória com destino mais elevado que pendurezas compradas à dúzia e que, aberto o embrulho, acabam em desperdícios rasgados no impulso curioso. Perto, livro cosido à mão que recolha pensamentos e sentires de todos. Depois, há os beijos e abraços e sorrisos pela felicidade de ‘estar com’.

 

Existem dificuldades que vêm por bem nos detalhes do ser. Delas fazer bom uso é passo que importa. Venha um, venham muitos.

 

CAFÉ DA MANHÃ

  

  

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Terça-feira, 13 de Julho de 2010

COM QUATRO PATAS E SEM

Jan Boallert, Kim Parkhurst

 

Importada como é fatal. Atenção ao conhecido, moda, condescendência empresarial que da benesse retira proveito dobrado? No imediato, está garantida publicidade gratuita da Nestlé Portuguesa.

 

Ali p’rós lados de Linda-a-Velha, foi autorizado aos funcionários levarem animais de estimação para o local de trabalho. Dos cães e gatos, houve notícia, da passarada, coelhos e répteis, nada foi dito. Presumo ter sido oferecida jornada rente aos donos somente aos felinos e canídeos. Dias alternados para uns e outros, não surjam rixas sérias que esgadanhem os serviços.

 

Enquanto nos States vai sendo comum pasta numa mão e trela na outra a caminho do emprego, por cá é novidade. Razões alegadas: diminui a ansiedade dos donos, satisfeitos trabalham melhor, facilitado o relacionamento laboral. E vêm à boca de cena dois queridos primos no encanto beneficiados pela fortuna que, malgré tout, levavam à praia dote extra: o cão amoroso, bem tratado, apetecível. Num ápice, asseguro, o bicho aumentava a corte de amigas e conhecidas. Vez só, ganho para todos: o bicho sem razão e eles com ela e elas. Antecipado vinte anos o que os «psis» reconheceriam.

 

Se um animal de estimação pode constituir novo elemento agregador da família quando partilhada a responsabilidade que acarreta, não raro gera quezílias: _ “hoje, não limpaste, não o passeaste, não compraste a paparoca”. Como bicho de companhia é inegável o merecimento pela alegria, por compensar falta de doçuras afectivas e apaziguar solidões. Problemático é o dono considerá-lo amigo único e isolar-se em cada rotação mais um pouco. Desabafar com ele e ser incapaz de procedimento semelhante com um humano.

 

Será que logo à noite, no hipódromo de Cascais, afectos com quatro patas serão espectadores autorizados da Norah Jones?

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:39
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Segunda-feira, 15 de Março de 2010

ENTRE A MARALHA E A CAMBADA, OS (I)LUSTRES


Sorayama


Conforto no sobre a pele e calçado. Abdómen tenso, ombros bem colocados, caminhada de alguns quilómetros numa das mais belas e recentes manchas verdes da 'Grande Alface'. Água em cascatas e lagos. Papiros nas margens. Saltitar de laje em laje. Depois, retomar a cadência do passo e da respiração. Olhar deslumbrado pelo sol. Que se danem congressistas confinados! Começava eu, acabavam eles. Os (i)lustres, quais pendericalhos, suspensos dos tectos onde se julgam. Já mereciam, «tadinhos»! Em Mafra, espiolhados pelas comunicações sociais.

 

Gostei do Marques Mendes. Empolgado, foi directo e veemente. Recebeu aplausos devidos ao ex-líder e à intervenção. O resto foi clássico de futebol. E nem interessa se entre dragões e mouros ou mouros entre eles. Detalhes (des)casados: quem teve maior bater de palmas, quem alienou ou convenceu. Comentadores com (re)nome, ansiando ganhar o «seu», foram tempo de antenas e soma à mediatização. Alguns botaram discursos «acadelados» pelos interesses anteriores e posteriores. Maralha que diverte os portugueses sem dela entenderem o insulto:
_ Não existindo, como o «povão» analisaria, criticamente, o testemunhado?
Mas, à mesma, analisava e criticava e pensava:
_ Que cambada!

 

Não acontecesse estar o país necessitado de oposição adulta e responsável, mais Mafra, menos Mafra seria indiferente. Espantam-me os pacientes que ficaram noite dentro com olho assestado na portagem para, frase puída, “melhor Portugal”. Tanto espalhafato para acabarem rolhados!

 

Em vez de catarem líderes, melhor fora catarem sofás em hotéis de luxo. Desde pins a ouros, muito é possível encontrar. Basta penetrar entre bordas macias. Prazer risonho durante e depois. 

 

CAFÉ DA MANHÃ
 

 

publicado por Maria Brojo às 06:32
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Olá. Posso falar consigo sobre a sua tia Irmã Mar...
Olá Tudo bem?Faço votos JS
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