Olivia de Berardinis
Mal saem de casa, ficam solteiros _ basta perfume de mulher inundar-lhes as narinas. Nas idas e vindas para o emprego, alongam o olho para a cabeleira ruiva ao volante do carro ao lado na fila de trânsito. Fantasiam pequeno-almoço com ela. Guinam, azucrinam quem os segue, piscam quando a ruiva piscou se ela, notando-os, não exibe enfado. «Vêem-na» de pernas e pés nus fora da janela da viatura, ali mesmo nos semáforos de Entre Campos. Saia para cima e pormenor em renda pendendo dos dentes deles. Epopeia individual prosseguida no elevador. A Lina da tesouraria comprime a fartura do peito nas costas dele. Repartido entre sim e não. A Paula, estagiária, não oculta mamilos empinados e vinte centímetros de barriga de veludo. Ele acusa para os botões: _ “É pecado uma miúda sair de casa nestes preparos!” Ainda ela sorri e o cumprimenta com timidez, sabendo apenas da sedução que inspira, já ele a imagina espalmada contra a parede e lambendo a lisura do ventre. Ouve-a:
_ Bom dia! Precisa de mim agora?
Silêncio aterrado. Apetite:
_ Estenda-se na secretária e não faça nada. Trato de si.
Mas não. Os neurónios vencem a guerrilha. Articula:
_ Verei ao chegar.
No andar/destino, para a secretária:
_ Conceição, traga-me os documentos de ontem.
Até ao gabinete, ela pisa sexo com os saltos no encalço da ordem. Selados às costas da mulher, olhares. Colegas irónicos ou reprovadores invejam a sensualidade rija e selvagem que a miúda não censura; eles vidrados na sorte do director. Enquanto isso, a Carla do rabo grande recebe sms: “sonhei contigo em duche a dois!”
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros