Fra Angelico, A Adoração dos Magos (1445)
Com burro e vaca o presépio tradicional. Retirando os animais, falta o bafo quente que teria aquecido o Menino, nado em Nazaré, em seu berço de palha. As ovelhas disseminadas pelo musgo nada têm de bíblico como os animais agora excluídos por via de livro papal, o último duma trilogia iniciada há nove anos quando Bento XVI ainda era Cardeal Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Os dois primeiros volumes da trilogia Jesus de Nazaré – Do Batismo à Transfiguração e Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição - datam de 2007 e 2011 respetivamente.
Sem burro nem vaca passam a dinossáuricos o diálogo de Veríssimo bem como o poema de Drummond de Andrade que os referem; ambos ouro da literatura brasileira. Mais há a considerar: o pavão no presépio de Fra Angelico. E porque tradições há muitas, cada povo tem a sua, Deo gratias! Batem o pé as beatas que pouco sabem da Bíblia mas servem com devoção o horário das missas, rezas e confissões do prior da freguesia. Que inundam de flores os altares com duvidoso gosto no arranjo. Que, domingo a domingo, trocam as toalhas de rendas antigas por da sacristia conhecerem segredos e lugares. O sacristão, coitado, obedece-lhes ou as mestras devotas atiram-lhe às bochechas indiscrições que podem ir à passada terceira geração da vítima e ameaçam tornar públicas. E o desgraçado anui por saber que regimento de mulheres belicosas, línguas afiadas como faca de laminar picanha, é invencível.
Em Priscos, concelho de Braga, conhecido pelo pudim mistura de abade com toucinho e por, anualmente, apresentar o maior ‘presépio vivo’ da Europa, é certo não faltar burro e vaca na manjedoira. Arrisco: na maioria dos ‘lares católicos’ onde presépio completo tem lugar de honra, o mesmo, ou o Manelinho e a Mariazinha, Mica fosse pobre, entram em rebelião por no colégio da Opus Dei aprenderem que ser conservador é respeitar tradições da Santa Madre Igreja. As vergastadas com cilícios vêm depois. Enrijam a fé, dizem.
Nota: texto publicado aqui.
CAFÉ DA MANHÃ
Ari Roussimoff, autor que não foi possível identificar
Mas que estranha coisa esta de cada um, ao ocupar cargos maiores, ter de divulgar se é mação? Por acaso alguém reclama pela ocultação de pertencerem à Opus Dei? E se os há espalhados por tudo quanto é sítio e são lobby reconhecido e engendram poderes e ascendem como se propulsionados por alavanca que Arquimedes reconhecia erguer o mundo.
Complô de influências existem com ou sem secretismos. Esta ribalta da maçonaria, somente entendo pela ligação maçonaria/secretas. Pelas escutas dum «secreta» a jornalista. A classe jornalística, corporativa pois então!, reagiu e destelhou quem pôde. E não é que num país queimado a chama proliferou?
Todos os excessos enjoam – confirmo-o pelo meu gosto por ‘torresmos do rissol’ que no dia de ontem revoltaram o fígado como se tivesse cometido pecado. E cometi, todavia consciente de optar entre alimentação saudável e satisfazer deleite atrasado. Lá suportei o mau estar sem lamúrias oficiosas – as oficiais são menos más. Se pertencesse à confraria dos torresmos e por magia fosse guindada a governante ou deputada ou presidente dalguma fundação poderosa seria obrigada a divulgá-lo?
Não me venham com transparências indispensáveis como se o ser humano fosse celofane. Todos ocultamos privacidades gostosas sem prejuízo da comunidade/pertença. Curioso é proliferar a chulice dos cidadãos mandantes sem que seja indagado qual a praia a que pertencem; por uma vez o Paulo Portas teve graça: _ “Fui educado nos Jesuítas e a maçonaria não é a minha praia.” Pois não. Ele é mais Aspen. Tem bom gosto.
CAFÉ DA MANHÃ
Porque me apetece.
Didier Ferry
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros