Aços cruzados, revestidos com protecção duradoura. Catedral, abside de arquitectura apurada pelo mestre Calatrava. Qual o sentimento de quem no esquiço adivinha obra feita e a vê, solitariamente, antes de construída? Semelhante, presumo, ao do escultor que mármore ou madeira ou granito informe cinzela até brotarem partes do todo que modelou no espírito. O mesmo do compositor que antes de ser já ouve a melodia, do pintor que na tela branca vê diálogo com a paleta.
O céu recortado era matutino, ainda de aço a moldura sem ouro solar que a alindasse. Comboio parado, outro que não vinha. O desejo impunha acelerar relógio que na estação anunciava horas e chegadas; voz feminina dizia cumprimento de horários. Nem um suspiro após, olho luminoso surgia ao fundo vindo doutra Lisboa ribeirinha.
Carris alinhados, juntas de dilatação espaçadas. Arte conjunta da ciência e tecnologia. A ilusão postada na linha férrea _ Quem verei desembarcar no cais além do rosto amado? Após nadas imensos que valeram anos e séculos e milénios, era trémula pela ansiedade que em si não reconhecia desde a adolescência remontada/revivida há quinze anos. Outro o rosto causa. Infinitamente melhor a emoção. E que a memória seja poupada a acusações por deslutre do que foi passado.
Pinheiros de copa redonda, mansos e saborosos como os pinhões chegando o tempo deles, mexem com o Sul da alma onde afectos espigam e ciciam sussurros de leito e deleite. Vista breve ao horizonte conhecido – o casulo em espera venceu opositor por belo que fosse. Nas boas-vindas ao perto urgente, seria dos corpos a fala e a batalha com armas doces.
Antes do regresso à beira-rio, fora o 28 trilhando seus carris. Nas ruas o deslizar. Nas madeiras do interior, estórias inúmeras e com fins. O guarda-freio, silencioso, guia, na maioria, estrangeiros. Com o tremelicar do ‘amarelo’ sobem corações. E ao descer os degraus, ruelas e becos e travessas e a prata do Tejo olhada de cima. Sem fastio ou cansaço, os corações continuam a subir. Somente depois, a fronteira rasa do rio, modernidade na arquitectura boa.
Raças que se encontram num espaço/emblema recente da Lisboa cosmopolita, agora mais do que nunca. Harmonias tocadas por dedos hábeis na arte de bem lidar com as cordas, voz que solta saudades do país origem e doutros que nunca viu e tão bem souberam exportar música, hoje, do mundo. No cacho de caracóis rematados ao alto, beleza; porque está em toda a parte, basta atentar.
Adeus cidade, boa-tarde Oriente! Tem boa-noite no Sul.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros