Francis Bacon – Three Studies for a Portrait of Lucian Freud
Do ontem tardio, costumo saber pela alvorada. Bebericando chá verde, vigio o amanhecer e ouço as primeiras atrasadas. Intervalo o estado de sentinela com café doméstico ao abrir-me para as novas do mundo. E soube. Entre muitas que de repetidas cansam. O tríptico “Três estudos de Lucian Freud” do pintor irlandês Francis Bacon mantido em privado durante 45 anos fora arrematado no leilão da Christie's, em Nova Iorque, por 142,4 milhões de dólares (106 milhões de euros). Após seis minutos de licitação emotiva que deitaria a perder transmontana pacífica, ultrapassou o recorde atingido pelo “Grito de Munch” (119 milhões de euros). Lembrei o meu naufrágio nos sentimentos contraditórios na exposição de Bacon em Serralves correndo o ano de 2003.
Francis Bacon, descendente colateral de Francis Bacon, filósofo que deu brado no período «Elisabetano», na infância, era garoto asmático brutalmente educado(?) por um pai que entendia enxertos de chicote como método pedagógico para do petiz ‘fazer homem’. Não surpreende o desprezo que desenvolveria pela Irlanda onde nasceu em Dublin, a 28 de outubro de 1909. Neste desdém, muito bem acompanhado por Oscar Wilde e James Joyce. A brutalidade de que foi vítima e própria do mundo da época, conferiria ao seu trabalho rápida passagem da influência de Rembrandt para uma pesquisa grotesca, audaz, austera. Tendo a mania de destruir muitos das suas obras primeiras, pouco exemplares existem, maioritariamente em museus americanos e europeus.
Parte substantiva das pinturas de Bacon exibem figuras desoladas, enredadas em construções geométricas e cores violentas, sugerindo na fluidez dos óleos sentimentos exacerbados como a raiva, o horror, a degradação. Nos últimos retratos, alivia o colorido, se bem que extremos de distorção persistam.
Informa uma «Wiki»: “A sua primeira exposição individual na Lefevre Gallery, em 1945, provocou um choque e não foi bem recebida. Toda a gente estava farta de guerra e de horrores, só se falava da "construção da paz" e as imagens de entranhas dos quadros de Bacon, com os seus tons sanguíneos, provocaram mais repulsa do que admiração. Como homem do seu tempo, Bacon transmitiu a ideia de que o ser humano, ao conquistar e fazer uso da sua própria liberdade, também liberta a besta que existe dentro de si. Pouca diferença faz dos animais irracionais, tanto na vida - ao levar a cabo as funções essenciais da existência como o sexo ou a defecação - como na solidão da morte; representando o homem como um pedaço de carne.”
Bacon, finado em 1992, e Lucien Freud eram amigos e cúmplices. Poucos eram os dias em que se não viam, ora jogando, bebendo no Soho ou pintando-se mutuamente.
Neste leilão, porque superado o valor de “O Grito de Munch”, apetece saber além da pintura mais vezes roubada no mundo (...)
Nota: texto publicado na íntegra aqui
CAFÉ DA MANHÃ
Douglas Hofman, autor que não foi possível identificar
Amor tussisque non celantur - O amor é como a tosse: impossível ocultar.
«Era» deveria ser o tempo verbal. Como os espirros, não fossem as castradoras normas sociais. Ou o nariz a pingar, que o tempo vai mais para isso do que para romantizar enlevos. À conta de me aventurar em namoro nocturno com ignoto jardim da capital, de uma penada, ganhei pacote inteiro. Simulei o «cantando à chuva» que caía - adocei o passo, arredondei gestos, fiz dos braços asas, e, com as mãos semi-fechadas numa concha afilada pelos dedos, simulei ave lépida. Da insanidade que não curo, ficou o amor pelo jardim, mas acresci tosse e constipação.
Sapientia longe preestat divitiis - Acaba-se o haver, fica o saber.
Lembraram-me, com erudição humorada, que no funeral de Beaudelaire, presentes trinta pessoas, no de Willy, dezanove e no do Oscar Wilde, sete. A mulher que sempre afirmou não desejar complicações – um pijama usado serve para embrulho, bem como qualquer pedacito de terra (não ocupa muito espaço) - deu por ela num delírio ao cogitar qual o tipo de ofício fúnebre que iria bem com o respectivo passamento.
Importante seria «maquilhadora» com mínimo de jeito para disfarçar o branco arroxeado de cadáver perturbador de familiares e amigos. Garantida a posição horizontal eterna e por decoro, vestido comprido em cetim fúcsia do estimado Nuno Baltazar. Sapatos, ele sabe: _ Nuno vá pensando, por favor! Entre roupa, calçado, maquilhagem, mais o tempo que a querida Guida vai demorar com o cabelo, dois dias de preparos devem chegar. O meu amigo/irmão Fernando ficará com a gestão do fundo musical - jazz, light como a finada, nada de muito estridente que incomode acompanhantes fãs de toadas mais doces. Como o haver já deixei e o reduzido saber levo comigo _ "Não se macem, vão para dentro!"
Sendo desejada tertúlia depois de terminada a função, invadam frigoríficos e armários ou tragam coisitas leves para trincar; nada de fritos que deixe a casa empestada. Brindem, salvo com água, não venha a superstição interromper-me o trajecto direito ao Céu. Ou ao Purgatório. O Inferno? _ Aqui d’el rei q'isso não! Esborrata a pintura e queimar cetim é estragação.
CAFÉ DA MANHÃ
Sugestão de Veneno C.
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros