Stevan Dohanos, Pal Fried
Não é usual barbeiro ser notícia quando a tumba o recebe, salvo se tornado bem-sucedido empresário ou ministro ou investigador ou criminoso ou artista. Porém, na biografia deste que aos noventa e cinco se despediu nada consta de relevante excepto ter aparado pêlos a Salazar. À época, devia ser honra equiparada à da depiladora da Rainha Isabel II ou à pedicure que lhe cuida os pés. A diferença essencial reside no aproveitamento pós-morte dos famosos que os sobrevivos prestadores de serviços íntimos fazem. Nalguns lugares estrangeiros, sopram com força o trombone e espalham aos ventos quatro muitas e porcas misérias. Tablóides e jornais sérios publicam, livros entram no prelo, despontam amantes ocultos, filharada incógnita. Almas farisaicas vendem confidências a troco de vultuosas lentilhas.
Por cá, somos mais puros. O Sr. Manuel da Encarnação Marques, durante quarenta anos após o falecimento de Salazar, pouco mais disse do que ser o “Doutor muito educado, mas muito cabeça no ar”. Por tal, confessou não ter sido causa da doença e morte a queda da cadeira desengonçada, mas pomposo trambolhão. Sobre mais não descoseu o silêncio. Nada sobre os elegantes e fátuos romances do pinga-amor António de Oliveira Salazar no Vimeiro e fora dele. Se confidências outras houveram entre barbeiro e o seu habitual cliente, para sempre afundadas na cova.
Isto, sim, é dignidade. Reste como exemplo. Que o 14 de Janeiro figure no calendário nacional como o Dia da Discrição. Ao menos uma vez no ano, contenham-se gorgomilos destravados e não emprenhem ouvidos. Fineza agradecida pelo povo.
CAFÉ DA MANHÃ
No tempo do flower power, finou-se o pregador. Cortesia do Pirata-Vermelho.
Anne Pevec, Pal Fried, autor que não foi possível identificar
As raízes eram sólidas. Antigas. Bem alimentadas na fundura do solo – provavam-no folhas novas que despontavam. Pelos anos ou pelos ventos ou por ambos, fora-se o porte erecto. Inclinada para lá do aceitável, prometia sucumbir à gravidade por não atinar com o centro da força apontada para a base de sustentação. Escudos protectores foram discutidos e adiados. E a palmeira caiu. E o tronco pesado matou e feriu. Ter interrompido festa foi dos males o menor.
Em causa, mais do mesmo português – tomara que não caia, que não advenha tragédia antes de chegar o tempo da prevenção. Adiado. Consciência pesada do autarca presidente, de imediato, atira prece aos céus:
_ Tanto para decidir impede ser culpabilizado por incúria. Juro que daquele lugar faço coisa nunca vista e p’ra melhor. Amanhã, nem mais um dia, mando fotografar o local, não se armem em fortes as palmeiras companheiras. Que maçada! Que azar! Que não me imputem fiasco. Que, à custa dele, não me impeçam reeleição.
Mas abarrotam com rezas semelhantes os canais celestes que à Virgem conduzem. 'Não te fies na Virgem e corre’ devia a Senhora bradar nos céus até ser ouvido em Portugal. Porque uma de duas: ou a força da gravidade tem, por cá, maior intensidade, ou em vez de correr, rastejamos.
LUTO
Autor que não foi possível identificar
Estamos de luto com o horror das muitas mortes e feridos graves nas estradas A25 e de Salamanca, em Porto Santo. A Teresa C. está solidária com os familiares dos que partiram e dos que, sofrendo, lutam por continuar a vida.
CAFÉ DA MANHÃ
No quadro da quase insolvência do Estado, o nosso, especialistas declaram insensatos aumentos na Função Pública. Alegam inexistente margem para aumento da despesa. Reduzi-la é prioritário para retoma de credibilidade no espaço financeiro internacional. Elevar encargos incompatível com redução da despesa estatal. Aconselhado: tendo em conta a deflação, manter estável a fatia do lobo público.
No ano que finou, foi significativo, relativamente aos anteriores, o aumento nos vencimentos dos empregados pelo Estado. Manobra eleitoral? Talvez! Porém desacompanhada de maior produtividade, como provam dados objectivos. Pau de muitos bicos, este: congelados os salários nesta fracção importante dos trabalhadores, o consumo não aumenta tal como a colecta de impostos directos: IVA e IRS, entre outros. Subtraído fluxo numa das entradas principais de renda para a governação. Mais difícil a convalescença económica do país.
Porque a maioria dos funcionários públicos é paga com pouco, convém olhar atento à vida e sobrevivência árdua que faz deles esforçados resistentes. Ganham quase nada mais do que o salário mínimo. Se este foi acrescido, porque não aumentos com valor fixo nas pagas laborais que dele se abeirem? E que todos, pobres e ricos ao serviço do comum, produzam o máximo. Viver por conta é desonesto. Rejeito. Porém, não podem ser os mais desfavorecidos, funcionários públicos ou privados, a custear despesismos ociosos em tempos de crise.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros