Sábado, 17 de Março de 2012

ENTRE DENTES

Tom Alberts, Paul S. Brown

 

Tinha de existir razão para o encarquilhado sorriso dos portugueses. Sim, sei, a nostalgia e a diluída crença em melhores dias ajudam a esborratar o riso. Mas mais havia. Tinha de haver. Quando um compatriota anónimo arredonda para cima os cantos dos lábios, a paisagem é, não raro, devastadora - dentola amarelada, vazios ocupados por gengivas descaídas, próteses bailarinas em risco de serem cuspidas, ferros dentários nas crianças, nos «andropausas» e «menopausas», estes rangendo dúvidas existenciais sobre o desempenho sexual das hormonas resistentes. Arreganhar os dentes não é fácil para os portugueses. Talvez por isso prefiram falar por entre dentes, dar com a língua nos dentes, dar ao dente ainda que o petisco custe os dentes da boca e só caiba na cova de um dente. Aguçar o dente, fazem menos mal, porém muitos excluíram dos dias agarrarem-se com unhas e dentes às prioridades pessoais.

 

Quando honesto recém-chegado ao estado adulto que a tempo e horas teve papeira, varicela, cabeça rachada por murraça em briga escolar, cuida de emprego com salário digno, contrato que legalize a procriação, comida a horas, roupa lavada e casa de banho sem tapete de pêlos, julga que durante anos a fio as favolas estão seguras, eis que a inutilidade dos sisos intervem. E doem e moem e desfazem no indivíduo a convicção de vigor imune a ridículos de cotas que, no mínimo, três vezes ao dia esfregam os dentes nas mãos.

 

Afinal, a precária e mal cuidada dentição lusitana foi vítima de pasta de dentes falsificada. Não qualquer uma, mas a tradicional Golgate que durante anos e anos branqueou o sorriso de todos. A boa fé do povo foi ludibriada, a marca enxovalhada e, quiçá, para sempre saída dos copos-de-dentes perfilados sob telhado de pó ao lado das escovas do cabelo encardidas, perfumes e amostras de produtos com pedigree em dia de sorte ofertados. Falsificar a Golgate é tão, mas tão grave, que semelhante só galo de Barcelos pintado à moda do falecido Warhol.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 12:43
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Quinta-feira, 9 de Setembro de 2010

“SEXO? SIM, MAS COM ORGASMO”

Barbara Cole, Paul S. Brown

 

Porque não Moçambique como sujeito das rebeliões sociais que por esse mundo correm? Tem dias, mas o recuo governamental nalguns dos itens que tornariam (mais) insuportável a vida ao povo aconteceu. Os protestos continuam, em lume brando agora, podendo atiçarem-se de um instante para o outro. Houveram mortos e chamas altaneiras nos ânimos. Do rescaldo, ainda não é sabido o reatar do incêndio popular ou acalmia.

 

A um país de distância, cerca portanto, em França, 2,5 milhões protestam na rua contra os 62 anos de idade cumpridos para o direito à retraite oficial. Em 65 vamos nós e continuamos quedos pelo fantasma erguido das pensões de reforma, se permitidas antes daquela idade, não chegarem para todos. Pela pobreza atávica que nos persegue, demos em insatisfeitos mas caladinhos, não esteja mal desvendado o terceiro segredo de Fátima e escondido um quarto – acabaremos como há quase quarenta anos começámos, o mesmo é dizer na pedincha, sujos pelo medo das reformas não darem para o pão e farmácia e para quem as receitas passa.

 

Após anos de trabalho e condições umas (iniciais), a magreza do Fundo de Pensões transformou noutras duras de ruminar. Para nós e para os franceses foi-se o sonho de retraite descansada, viajante, alegre com a descendência ‘piquena’, segura, com tempo para vida boa e projectos por concretizar, para sexo sem despertador cruel apontando a madrugada. Razão tem a Guida Maria, de quarta a domingo no palco do Auditório do Casino Estoril, em dissertar sobre sexualidade isenta de tabus e com boas práticas dos intervenientes em qualquer idade. A comédia "Sexo? Sim, mas com orgasmo" de Franca Rame e Dario Fo ironiza sobre a importância do orgasmo e deu largas ao congeminar da mulher/escriba. Porque será tão importante para um homem que a mulher se liquefaça e esparrame em gritos no auge do prazer? Se dispensar o foguetório habitual não o sentiu? Porque será, segundo alguns eles, ser-lhes penosa erecção no sexo sem a masculina prova líquida consequente e evidente? Porque não aceitam como gratificante sexo em que a erecção não arribou e pelo facto experimentam o terror do fim, ainda que seja lonjura o peso dos anos? Porque não valorizam formas outras de prazer que deles a parceira recebe? Porque será que o estigma da reprodução nos coitos lhes ata ainda a jugular?

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Cortesia de Açúcar C.

 

publicado por Maria Brojo às 08:24
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