Paul Wolber
E o começo foi assim:
Hoje, o tema é outro.
CAFÉ DA MANHÃ
Paul Wolber
Silvas beiram caminhos rurais onde gentes aventureiras ou pastores por eles calcorreiam horas de esperança ou de tédio. Amoras pendem ou eriçam-se voltando a face ainda rubra ao sol. Quem por elas passa cobiça os frutos e não resiste à suculência prometida. Rejeitar à conta do pó acumulado? _ Nem pensar!
E a mulher erguida desde a madrugada, após visão em malvas do dia nascente, da frugalidade dum café frente à montanha, provida de ténis e cantil, abandona o silêncio da casa dormida. Cuida de não bater com força o portão fronteiro.
A peregrinação pela escalada de outrora e d’hoje é iniciada ali. Ensaia passo estugado como quando eram quinze os anos contados. Por esse tempo, o grupo caminheiro era maior: mãe, pai e tia. Todos andarilhos na montanha. Todos surpreendidos por detalhes novos ou encobertos nas caminhadas anteriores. Faziam grupo feliz interrompendo o silêncio da calmaria com diálogos e risos.
Hoje, a mulher inspira liberdade solitária. Não recorda idos por doerem. Olha adiante o carreiro. A esperança. A vida.
CAFÉ DA MANHÃ
“Depois da curva da estrada
Tem um pé de araçá
Sinto vir água nos olhos
Toda vez que passo lá
Sinto o coração flechado
Cercado de solidão
Penso que deve ser doce
A Fruta do coração
Vou contar para o seu pai
Que você namora
Vou contar para a sua mãe
Que você me ignora
Vou pintar a minha boca
No vermelho da amora
Que nasce lá no quintal
Da casa onde você mora”
Poema de Renato Teixeira
Ken Martin, Paul Wolber
Da sedução dizem ser arte. Dom. Talento. Passível de retoques e evolução como a escrita ou a música ou a escultura ou a representação. Envolvendo técnicas que o exercício, e dele a aprendizagem, apuram. Não subscrevo: a sedução ultrapassa arte limitada a encenado e comezinho estar. Seduz quem dos outros quer saber. Ouvir. Arredados artifícios langorosos ou dicas de manuais. Seduz quem não teme a vida, aprendeu a dor e os (des)encantos e a graça de um sorriso. Avaro nas emoções centradas no umbigo pode usar máscara e simular agrados; porém, virá rajada que arranca o postiço e o olhar sapudo acumulado com gelo egoísta.
Quem se quer bem recolhe dos dias, uma a uma, todas as amoras maduras. Sabe que arranhadela ao estender as mãos à suculência dos frutos ensina – de futuro, cuidará de afastar pelo extremo tenro os ramos cheios de picos, sem desistir de, amorosamente, sentir na boca o fruto. E para que existem amoras se não para serem colhidas? Definharem no arbusto, cobertas de pó e roídas por bicharada imprecisa é desbaratar a perfeição da natura.
Porte desafiador do longe, espírito empreendedor e destemido, sorriso pronto da alma, olhar que muito deseja receber e devolver são encantos ganhadores aos comuns saltos-agulha, enredos prometidos por vestido coleante que a pele despe, cabelos brilhantes pelo meio das costas nuas, pernas de cetim que fecham e entreabrem promessas. Seduz quem de si gosta. Quem não descura o espírito que também recomenda cuidar do corpo e da imagem por respeito/agrado ao próprio. Seduz quem nos outros cria desejo de mais e mais para o devir.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros