Sábado, 25 de Agosto de 2012

APRESENTAÇÃO

Paul Wolber

 

E o começo foi assim:

 

“No tempo das amoras rubras amadurecidas pelo estio, no granito sombreado pelos pinheiros, nuas de flores as giestas, sentada numa penedia, a miúda, em férias, lia. Alegre pelo silêncio e liberdade.

 

No regresso ao abrigo vetusto, tristemente escrevia ou desenhava. Da alma, desbravava as janelas. Algumas faziam-se rogadas ao abrir dos pinchos; essas perseguia. Porque a intrigavam, desistir era verbo que não conjugava. Um toque, outro e muitos no crescer talvez oleassem dobradiças, os pinchos e, mais cedo do que tarde, delas fantasiava as escâncaras onde se debruçaria.

 

Já mulher, das janelas ainda algumas restam com tranca obstinada. E, tristemente, escreve. E desenha e pinta. Nas teclas e nas telas, o óleo do tempo e dos pinceis debita cores improváveis sem que a mulher conjugue o verbo desistir. Respira o colorido das giestas, o aroma dos pinheiros nas letras desenhadas no branco, saboreia amoras colhidas nos silvedos, ilumina-a o brilho da mica encastoada no granito das penedias.”

 

Hoje, o tema é outro.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:52
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Terça-feira, 26 de Junho de 2012

SILVEDOS E AMORAS

Paul Wolber

 

Silvas beiram caminhos rurais onde gentes aventureiras ou pastores por eles calcorreiam horas de esperança ou de tédio. Amoras pendem ou eriçam-se voltando a face ainda rubra ao sol. Quem por elas passa cobiça os frutos e não resiste à suculência prometida. Rejeitar à conta do pó acumulado? _ Nem pensar!

 

E a mulher erguida desde a madrugada, após visão em malvas do dia nascente, da frugalidade dum café frente à montanha, provida de ténis e cantil, abandona o silêncio da casa dormida. Cuida de não bater com força o portão fronteiro.

 

A peregrinação pela escalada de outrora e d’hoje é iniciada ali. Ensaia passo estugado como quando eram quinze os anos contados. Por esse tempo, o grupo caminheiro era maior: mãe, pai e tia. Todos andarilhos na montanha. Todos surpreendidos por detalhes novos ou encobertos nas caminhadas anteriores. Faziam grupo feliz interrompendo o silêncio da calmaria com diálogos e risos.

 

Hoje, a mulher inspira liberdade solitária. Não recorda idos por doerem. Olha adiante o carreiro. A esperança. A vida.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

“Depois da curva da estrada

Tem um pé de araçá

Sinto vir água nos olhos

Toda vez que passo lá

Sinto o coração flechado

Cercado de solidão

Penso que deve ser doce

A Fruta do coração



Vou contar para o seu pai

Que você namora

Vou contar para a sua mãe

Que você me ignora

Vou pintar a minha boca

No vermelho da amora

Que nasce lá no quintal

Da casa onde você mora”

 

Poema de Renato Teixeira

 

publicado por Maria Brojo às 10:54
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Quarta-feira, 13 de Outubro de 2010

AMORAS MADURAS

Ken Martin, Paul Wolber 

 

Da sedução dizem ser arte. Dom. Talento. Passível de retoques e evolução como a escrita ou a música ou a escultura ou a representação. Envolvendo técnicas que o exercício, e dele a aprendizagem, apuram. Não subscrevo: a sedução ultrapassa arte limitada a encenado e comezinho estar. Seduz quem dos outros quer saber. Ouvir. Arredados artifícios langorosos ou dicas de manuais. Seduz quem não teme a vida, aprendeu a dor e os (des)encantos e a graça de um sorriso. Avaro nas emoções centradas no umbigo pode usar máscara e simular agrados; porém, virá rajada que arranca o postiço e o olhar sapudo acumulado com gelo egoísta.

 

Quem se quer bem recolhe dos dias, uma a uma, todas as amoras maduras. Sabe que arranhadela ao estender as mãos à suculência dos frutos ensina – de futuro, cuidará de afastar pelo extremo tenro os ramos cheios de picos, sem desistir de, amorosamente, sentir na boca o fruto. E para que existem amoras se não para serem colhidas? Definharem no arbusto, cobertas de pó e roídas por bicharada imprecisa é desbaratar a perfeição da natura.

 

Porte desafiador do longe, espírito empreendedor e destemido, sorriso pronto da alma, olhar que muito deseja receber e devolver são encantos ganhadores aos comuns saltos-agulha, enredos prometidos por vestido coleante que a pele despe, cabelos brilhantes pelo meio das costas nuas, pernas de cetim que fecham e entreabrem promessas. Seduz quem de si gosta. Quem não descura o espírito que também recomenda cuidar do corpo e da imagem por respeito/agrado ao próprio. Seduz quem nos outros cria desejo de mais e mais para o devir.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:47
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