Vladimir Kush – “Arrival of the Flower Ship” e “Privedentsev Gennady”
O mundo, a Itália, a Eritreia estão em luto. O desespero pela miséria vivida continua a matar. Os emigrantes partiram com pensar florido de ilusão. O fogo e o naufrágio à beira do paraíso foram derrota imerecida. Será verdade que Deus leva os que mais ama?
Como homenagem às vitimas, dos Pink Floyd, High Hopes - The division Bell.
“Além do horizonte do lugar em que vivíamos quando jovens
Em um mundo de imãs e milagres
Nossos pensamentos vagavam constantemente sem limites
O soar do sino da divisão começou
Ao longo da Grande Estrada e de sua calçada
Será que ainda elas se encontram na encruzilhada?
Havia uma banda que tocava fora do tempo seguindo nossos passos
Correndo antes dos tempos, levaram embora nossos sonos
Deixando incontáveis pequenas criaturas tentando nos prender ao chão
De uma vida consumida por uma lenta decadência
A relva era mais verde
As luzes eram mais brilhantes
Com amigos por perto
As noites de surpresas
Olhando além das brasas de pontes resplandecendo atrás de nós
Um relance do quão verde era do outro lado
Passos rumo ao progresso são tomados, mas em seguida regredimos de novo
Puxados por uma força interior
Às alturas, com a bandeira desfraldada
Alcançamos as rarefeitas alturas daquele mundo tão sonhado
Sobrecarregados para sempre por desejo e ambição
Ainda há um desejo insaciado
Nossos olhos cansados ainda se perdem pelo horizonte
Apesar de que, por esta estrada, termos por várias vezes passado
A relva era mais verde
As luzes eram mais brilhantes
O sabor era mais doce
As noites eram maravilhosas
Com amigos por perto
A brilhante névoa do amanhecer
A água correndo
O rio sem fim
Para sempre e sempre.”
CAFÉ DA MANHÃ
Michele Del Campo e autor que não foi possível identificar
Na Refer, na TAP, na Carris e Metro, na ANA fervem greves nas alturas decisivas das necessidades dos cidadãos. Não fora assim, quem notaria as revindicações dos trabalhadores abrangidos por aquelas entidades? Tendo sindicatos tão pobretanas quanto eles e o país – inexistentes fundos que remunerem grevistas inscritos nas fileiras sindicais -, perdido o salário dos trabalhadores à conta de nada? Não seria arguto, muito menos eficaz na força da greve como forma de luta contra as injustiças perpetradas, lesivas dos direitos laborais.
É inaceitável a prepotência do Ministro da Educação ao não acatar a diretiva do Colégio arbitral que rejeitou serviços mínimos na greve dos professores no dia 17 em que ocorre o exame nacional de Português abrangendo a quase totalidade dos alunos do 12º ano seja qual for a área frequentada (Humanidades, Ciências e Artes). Depende de Crato e seus acólitos remarcar o exame referido para outra data não abrangida pelo intervalo de tempo previsto na duração da greve. Talvez, quem sabe, aspira ao cognome de Iron Man. Imerecido, de facto, pela argila mal cozida das medidas até aqui tomadas que não retiraram a condição de reféns aos alunos, suas famílias e professores.
O Ministério continua a transmitir aos portugueses a ideia de serem os professores cambada de madraços. Desautoriza-os. Generaliza a ideia de privilégios incomuns como reduzida carga horária, férias a rodos e proventos a mais quando da profissão deviam fazer sacerdócio. Mentiras que colam na opinião pública. Soubesse esta da burocracia inenarrável às costas dos professores que lhes retira tempo para um serviço educativo de qualidade, das deploráveis condições de segurança nas escolas onde os pais deixam os filhos, outra seria a reação das famílias. Fazer dos professores bodes expiatórios é o rumo populista mais fácil. Desfoca o essencial.
Importa saber os exames nacionais como decisivos para discentes e docentes. Uns e outros consideram-nos momentos altos pela avaliação do trabalho desenvolvido anualmente. O caminho da greve é o último que os professores aceitam, salvo quando reconhecem em perigo a qualidade do ensino que prestam e os direitos dos alunos por via do autismo governamental.
CAFÉ DA MANHÃ
René Magritte (Perspectiva II: O Balcão de Manet), Édouard Manet (A Varanda), Francisco Goya (Majas à Varanda)
Personagens: a Varanda de Manet e a de Magritte.
A de Manet:
_ Olha para mim tão bem «esgalhada»! A de Goya, “Majas al Balcone”, foi inspiração, mas nesta tive a coragem de pôr o homem de frente.
A de Magritte não se contém:
_ E que culpa tenho das Majas estarem mortas e enterradas quando nasci na pintura? Muito bem conservados estão os caixões!
Nota: inspirado no texto que publiquei aqui.
CAFÉ DA MANHÃ
Liza Hirst, Vladimir Kush
Entreabertos os olhos, espreitadela ao relógio. O calor da pele que a noite fez crescer diz não ao acordar. Vira-se para o outro lado, tacteia o corpo da partilha, afaga-lhe ao de leve o rosto, enrosca-se mais. Que os ponteiros andem ou desandem tanto faz. O dormido ainda, como se fora complemento do sono/sonho, abraça-a, ajeita-a para a colar a ele. E ela acorda para a manhã, sem atrever movimento que o desperte de vez. O escuro cúmplice, por artes de contra-luz que pouca há, destaca o perfil de abandono no abraço.
Fosse outro tempo, ter-se-ia levantado com mansidão, deixaria que gestos leves a transportassem à cozinha. Rechearia os tabuleiros do pequeno-almoço, forraria com música dolente e em tom de murmúrio as paredes fechando portas de comunicação. No agora, o estar mudara: fruía do quente mútuo, voltava a dormitar. Que arribasse em simultâneo a consciência, que os corpos se entendessem de novo, que nada fosse perdido das ondas na praia-mar. Com sussurros de búzio na ilha onde eram, (re)começou a valsa lenta que fora adormecer.
CAFÉ DA MANHÃ
An He
Finalmente, esperança de quietude aventurada nos idosos da família! Bom dia serenidade! Bom dia alegria que em ti me revejo!
Confiante em haver tomado uma das melhores opções na barcaça da minha vida, foi-se a angústia, suavizou-se o rosto franzido, nova luz apaga olhar mortiço. E sinto-me deliciosamente centrada no umbigo dos afectos, por escassos dias, somítica no pensar do que move o bairro, a cidade, o país, o mundo.
Lavam mágoas os pingos de chuva no rosto entremeados por Sol no suspense do brilha, não brilha. E quando tudo ilumina, evapora no perto o molhado, as dores da alma, sombras de breu com borrascas dentro, permite leitura remoçada do acontecido e por acontecer, escrever sem o peso insuportável do lastro dorido que arrasta para fundos malfazejos, que a racionalidade adquira o de sempre papel de filtro com poros de curto diâmetro. Por ora, é este o sentir.
CAFÉ DA MANHÃ
Michael Nobius
Subscrevo o António no comentário ao "Ossos com Sobejos Podres" aqui publidado a 24 de Fevereiro. A ‘má imprensa’ suja o todo que a inclui. Nem lavada com sabão azul limpa a face.
"má imprensa é a capa da Visão de hoje, 25/10/2010
a Visão nem costuma abusar de capas vergonhosas ou de mulheres nuas pois até é uma das revistas menos exploradoras do sensacionalismo a que a má imprensa recorre sem escrúpulos - também, diga-se, por ter clientela à altura, além de clientes que até consideram qualquer sabujice como boa imprensa mas desta vez, nem a Visão resistiu ao mórbido, usando a exposição de um cadáver para aumentar audiências, vendas e lucros
ora, quer porque os responsáveis (?) da comunicação social perderam as referências ou foram mesmo recrutados por as não terem, quer porque o público e os consumidores se alienam perante o abjecto que se vai tornando normal de tão frequente, certo é que é à luz desta propensão para o escatológico, para a dejecção e sabujice que se tem que interpretar a "normalidade" com que tantos encaram a aberração indecorosa, o mau gotoso ostensivo e a violação repetida de todas as regras deontológicas ou a sua ausência contumaz
independentemente da instrumentalização a que se sujeita, a má imprensa não se enxerga e não tem vergonha nem se dá conta do anedótico ou da evidência dos interesses ocultos que prossegue - basta ver os jornalistas deputados, os comentadores advogados, os analistas candidatos, os colunistas sem qualquer competência ou especialização que lhes justifique o tempo de antena, os directores arregimentados e outros espécimes que fazem sucesso na má imprensa sem mérito, concurso público nem prestação de provas, nomeados por familiaridade, cor partidária ou participação em negócios
mas há pior que a má imprensa - é não querer vê-la ou, pior um pouco, não o saber...”
CAFÉ DA MANHÃ
Magnífica sugestão do Zeka:
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros