Quarta-feira, 12 de Março de 2014

AMY CHUA, GAO XI, COMENTADOR E EU

  

Nguyen Dinh Dang, Tháng Một

 

Notícia: da China para Yale. Professora de Direito. Pais imigrantes. Nome: Amy Chua. Autora do livro Battle Hymn of the Tiger Mother, sucesso na curiosidade dos média e nas vendas. Amy Chua descreve a intransigência da educação familiar chinesa que defende e condena a permissividade dos pais do Ocidente. Dizer à filha mais velha “és um lixo!”, ameaçar a mais nova, três anos, de ser posta na rua, impedi-la de jantar, de celebrar aniversário durante anos próximos até tocar sem defeito peça de piano, são exemplos elucidativos da pedagogia que defende. Justifica-a pelo êxito dos pais ao criarem-na sob padrões idênticos, pelo comportamento exemplar dos filhos educados segundo a tradição chinesa de humilhação e inflexibilidade. Muitos geniais em matemática e noutras áreas. Alguns filhos não aguentam serem diariamente induzidos aos limites e preferem dizer adeus às curtas vidas pela vergonha do insucesso, pela culpabilização decorrente. Outros submetem-se, prometendo jamais repetir o exemplo quando adultos.

 

Facto: Gao Xi é chinesa. Os pais são imigrantes em Portugal. Há três anos, ignorava uma só palavra portuguesa. Hoje lê, interpreta e escreve a nossa língua, conquanto se socorra de caracteres chineses numa pressa. Na oralidade, manifesta fluência suficiente. Aluna brilhante e equilibrada nas atitudes. Jovem integrada nos grupos de amigos e de estudo, linda, risonha, solidária, empenhada na execução perfeita das tarefas que lhe competem. Inquirida sobre a preferência pelo sistema de ensino português ou o praticado na China, opta pelo último. Declara o nosso facilitista pela exigência diminuta e potencialmente castrador da competitividade do indivíduo com ele próprio – qualquer outra é enganadora.

 

Comentador escreveu: “os sistemas de ensino foram e serão sempre fonte de perplexidades quando se comparam realidades incomparáveis - as sociedades orientais adaptam-se a outras necessidades.
Porventura, o sistema (?) de ensino em Portugal é melhorável, desde logo pelo quotidiano empenhamento no incentivo que a escola pode oferecer aos jovens para o despertar da curiosidade e para uma consciência quanto à importância dos hábitos de trabalho e regularidade, de exigência própria.
A componente do "sistema" pode contribuir para o fortalecimento desse papel no quotidiano do triângulo escola-docente-aluno, a que deverão juntar-se outras valências como a Família, a comunidade e o Estado. Mas nem tudo pode ficar à espera da última das modas, tanto mais que a comprovada resistência corporativa, a exiguidade de meios e a ainda maior exiguidade de uma proveitosa gestão de tais meios poderão sempre relegar para as calendas e para resultados imprevisíveis o esforço sistémico para indução de níveis acrescidos de qualidade
O ensino chinês pode ser muito bom, mas Portugal não é a China. Sobretudo, Portugal não devia querer ser a China, nem qualquer outra coisa - o facto de termos muito a aprender com todos (e vice-versa) não é razão para se abandonar a via da identidade própria.”

 

Acrescento: está provado que famílias permissivas educam mal. Necessária autoridade, e estímulos tendo como objetivo comportamentos adequados. Recomendada a via do entendimento, de reprimenda perante irresponsabilidades. Castigos, sim. Autoritarismos, não. E relembro frase batida, lema pedagógico: “primeiro, olha o que faço, depois vê se digo o que faço.”

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:25
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Quarta-feira, 2 de Outubro de 2013

ANÁLISE DAS AUTÁRQUICAS PELO ESCRITOR MIGUEL MIRANDA

 

Miguel Miranda e um dos seus muitos e bons livros

 

Lições de vida

1- Um dinossauro pode ser bom ou mau. Mais vezes mau que bom. Só se vem a saber ao certo, depois de sufragado.

2 - Mandar uma "figura" nacional para fazer de cabeça de turco num qualquer território já não resulta. O pessoal já não se impressiona com esses galões, e o mais certo é acontecer um desastre.

3 - Fazer uma campanha a enchousar o povo com porco assado, QuÍm. Barreiros, Tónico Carreira e José Cid, dá mau resultado: o pessoal manja o porco, atura o Quím., o Tónico e Cid., e depois vota ao contrário.

 

4- Se um bicho-de-sete-cabeças é mau, uma liderança bicéfala é pior. Isto de falar em stereo para o povo, não dá. Que o digam os coligados Paulo e Pedro, e os blocados Catarina e Semedo.

5 - Usar aparelho nos dentes é coisa que ninguém gosta. O abuso do aparelho nas escolhas de candidatos também não dá, foi severamente condenado.

6 - Os independentes passam a ficar dependentes da sua independência.”

 

Perguntas à solta

 

“_ Porque só havia dinossauros e não há registo de «dinossauras»?

_ Porque só há líderes partidários homens, e apenas uma meia líder mulher (que foi copiosamente derrotada)?

_ Porque quase só há presidentes da câmara homens, eleitos?

_ O machismo larvar da política pode ser um dos males de que esta enferma?”

 

Miguel Miranda, escritor e médico

 

Joyce K. Schiller - Dinosaur Parade

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Na campanha para as Autárquicas, tivesse sido dançado "Tuca Tuca" a preceito, talvez menos eleitores ficassem em casa. Porque é no contacto interpessoal que aprendemos a ser um todo e não somente a parte mais ou menos sortuda. Dos Pink Martini aprecio as roupas novas com qualidade que vestem canções d'antanho. Importa o primeiro vídeo por revelar como sorrir e interagir com os outros é decisivo para vidas melhores. Em simultâneo, remete à lembrança do segundo.

 

publicado por Maria Brojo às 05:57
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Sábado, 28 de Setembro de 2013

SHIUUU... DO NOT DISTURB!

 

Gil Elvgreen

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 10:08
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Sexta-feira, 23 de Agosto de 2013

ESPÉCIE DE SONATA

 

Autor que não foi possível identificar                                                                           Jennifer Garant

 

Desfolho memórias dos soalheiros entardeceres nos campos de golfe algarvios. Sinto o aroma manso dos pinheiros, vejo o ouro solar esbanjado no tapete verde, lembro multiplicados arco-íris caídos em gotas aspersas na relva/tapete, o cascalho desembocando em miradouros e falésias e recantos debruçados na língua arenosa, confinando um mar indeciso entre o turquesa e o esmeralda.  Lembro mais: a paz, os carreiros rumo ao apetecido «buraco» - salvo seja!, que apetites há muitos e brejeirice nos buracos também - ou ao banco de privilegiado cenário em que o livro descansa, por momentos, no regaço.

 

O swing no driving range arrisca, ao espreguiçar-se no tempo, introduzir tédio num jogo de sentidos e serenidade. Corpo e razão. Estímulo do empirismo primacial. Vagar e controle. Ida a fase primeva, troquei a seguinte por dispersas caminhadas após o duche de final de dia, quando estio. Cabelos pingando as costas, pele brilhante pelo do fluido cremoso que a perfumou, sapatos rasos, vestido leve seguindo, atrevido, no ar a brisa. Tacos alguém os carrega. O livro ficou comigo. Detenho-me no piado das aves e na inclinação da luz.


Com o ténis o mesmo. O «serviço» adequado troco-o pela surpresa de um brilho na árvore até aí discreta, uma gargalhada é apetite maior que a certeza duma «esquerda» sem defeito. De seguida, centro habilidade e o adversário que se cuide, que isto de apoucar a natural competitividade não me descreve. Divertem-me, sim, os que odeiam perder, mesmo sendo feijões o troféu. Pelejam na vida por coroas de lata pintada. Ostentam no peito inchado a faixa de campeões do bairro. Nela, pendurados, feitos voláteis como balões. O que me intriga é porque destes não aproximamos fina agulha de crochet.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 11:35
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Sábado, 18 de Agosto de 2012

MADEIRA ENCASTRADA

Autor que não foi possível identificar, Jim Warren

 

A Isabel assentiu em casar contra decisão fundamental que lhe regia partilhas d’alma e corpo. O futuro noivo ainda não se prostrara de joelhos, exigência brincalhona que dela partiu e ele aceitou. Sugeriu anel de noivado feito de arame encastoado com pedaço das madeiras que o amor/amante gosta de trabalhar. Concordou. Enfiou o anel dela no mindinho dele e, a olho, soube a medida. A Isabel desconfiou, pressentiu design outro quando o namorado mencionou ourivesaria, das melhores em Sevilha, disse, onde trabalho o conduz três vezes numa semana. Após, confessaria:

_ A dona tem bom gosto e conheço-a há anos. Mostrei-lhe fotografia tua para conselho assisado na compra do símbolo que gostes e, uma vez enfiado, jamais tires do anelar.

E ela num sim gargalhado, não por troça, mas pela intenção que desejava ver concretizada. Ainda assim, lembrou o arame mais a madeira encastrada, conquanto o romantismo a deixasse comovida.

Foi então que o amado acrescentou:

_ Achou-te elegante, clássica. Depois atirou-se a mim. Ignorei, claro. A mulher da minha vida és tu.

A Isabel, misturou contentamento e ciúme - o último sentir engoliu, não exibisse vulnerabilidade que desejava contida no âmago da cebola onde residiam segredos. Um a um desvendados sendo do tempo o tempo a dois.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:28
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Terça-feira, 3 de Julho de 2012

ELBA

Pierre Farel

 

Estreia num cruzeiro pelo Mediterrâneo. Dúzia de dias de feitiço saberia depois. Vim a conhecer outros navios, mais sofisticados, imponentes, autênticos resorts flutuantes em mares suaves, poucos alterados. Mas foi o primeiro que contou. O sonho alcançado, a viagem mítica, a inexperiência de tudo constituiu novidade.

 

Antes, fora o emalar da trouxa cuidada, vestidos de noite, de cocktail, trajes de dia e de piscina, acessórios requintados e vários. Um «malão» onde nada fora esquecido segundo conselhos de marinheiros de repetidas viagens. Voo e embarque. O deslumbre. Arrebatada como criança a quem fora ofertado brinquedo novo, quis lá saber da bagagem! _ Os camaroteiros tratariam dos pertences. Percorri o navio de lés-a-lés, tentei descobrir numa só assentada os serviços, os meandros, a popa e a proa. E deixei-me ficar contemplando o mar que rodeava a ilha sobre ele.

 

Quatro dias não eram passados, ilha de Elba. Cheiro à Itália desejada. Peregrinei por ruelas e acabei nas compras. Não existindo o euro, provi-me de quantias razoáveis em notas de cada um dos países e cartão multibanco. Cheques, não arrisquei; arrecadados no cofre, alguns valores. Na véspera, a meio da tarde, previdente sacara as liras para a carteira que usaria no dia seguinte. Fascinada por uma mala de mão, decido comprá-la. Libras nem uma. Boquiaberta e sem refletir, entrego o plástico do dinheiro. Gesto automático, a funcionária enfia-o na máquina manual. Partiu-o até mais de meio. Com espontaneidade latina, olha-me espantada e depara-se com a minha infelicidade. Incapaz de balbuciar palavra, entendeu a desgraça, oferece-me a mala e acompanha-me à porta numa ladainha sem fim.

 

Até ao final da viagem, consegui levantar dinheiro por a fortuna ter estado do meu lado: a banda magnética não fora atingida. E as liras? Como haviam desaparecido? De regresso ao navio, encontro o camaroteiro. Peço-lhe que entre e relato o acontecido. Disse:

 _Claro que o culpado não é o senhor.

_ Quem sabe não teria sido eu a mudar de sítio as liras?

_ Ao aparecerem, tudo seria resolvido de forma pacífica e nada reportado ao comandante.

 

No mesmo dia, antes do jantar, as liras apareceram no bolso dum casaco que somente vestira no primeiro dia.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 11:41
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Sábado, 28 de Abril de 2012

MELHOR ERA O ILUSIONADO TEMPO DESTE ESCRITO?

Jeffrey T. Batchelor

 

Até meados de Maio, os funcionários por conta alheia trabalharam para o sustento do país. Pagos os impostos, sete meses restam aos forçados cumpridores das obrigações fiscais para proverem às necessidades particulares. Ora o pessoal levantou-se cedo, aturou filas de trânsito, greves nos transportes, atendeu bizarrias dos chefes, obrigações familiares, compromissos financeiros, viu-se e desejou-se para sobreviver negando a revolta e conservar acesa a esperança duma vida melhor. E compra revistas de automóveis que jamais conduzirá, vê novelas, papa concursos das televisões, aos livros diz não como um terço dos portugueses. Por Feira do Livro entende promoção desinteressante do hipermercado. Ainda se fosse de vinhos e queijos...

 

Subindo degraus sociais, a preocupação é outra – feitas as contas, pedir a exoneração do cargo profissional é maior poupança que o recebimento do ordenado. _ “Tenho tantos projetos para satisfazer enquanto o fim não chega, que todo o tempo é pouco. Pagar para trabalhar? Nessa evitarei cair!" Chegada a idade da reforma, o pagante será o Estado que há muito não viu a cor do meu dinheiro.” Havendo solidez nas finanças individuais, esta é belíssima decisão para quem trocou cometimentos pelo apaixonado zelo profissional. A cegueira das paixões cura-se se for escasso o retorno e descarado o assalto ao bolso. E depois, quem aceita ser comido por parvo ainda que o condimento seja gostoso?

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Desbravar o desconhecido na “Feira do Livro” nem sabe o bem que lhe fazia!

 

publicado por Maria Brojo às 10:47
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Segunda-feira, 6 de Fevereiro de 2012

SOBRE FEL E SURFAR

Kenney Mencher, Katherine Doyle, autor que não foi possível identificar

 

Falava e saía fel. Nem a contento dos pontos de passagem de sólido a líquido, depois nem a vapor condensado através de refrigerante de Liebig a separação das partes da mistura era possível. A mulher pasmava com venenos despropositados. Eram comuns, conquanto o progressivo exacerbar a surpreendesse. Por natureza cordata, almejava, ao ouvir, entender meandros do espírito revelado pela fala. E dava com novelos sem ponta objectiva à vista por rejeitar rótulos imediatistas em precipícios da matriz original que desconhecia. E ouvia. E tentava entender sem o conseguir.

 

No discurso debitado em catadupa, escasseavam intervalos que do monólogo fizessem partilha de interesses e saberes. E ela tudo sentia com desprazer, pena, o tal sentimento pequeno. Por ser homem de coração bom, tinha provas, lastimava o apertado carreiro seguido quando muito e belo podia trazer aos outros.

 

A vida consequente e feliz obriga a mais que desgraças importadas dos jornais e telejornais. Requer perguntas ao (in)consciente, saber ouvir e aprender, fornecer borlas de alegria e esperança. Quem nada inquirir sobre si voga em ondas gigantes onde não sabe surfar.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 12:45
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Quinta-feira, 24 de Fevereiro de 2011

AMY CHUA E GAO XI

Nguyen Dinh Dang, Tháng Một

 

Da China para Yale. Professora de Direito. Pais imigrantes. Nome: Amy Chua. Autora do livro Battle Hymn of the Tiger Mother, sucesso na curiosidade dos média e vendas. Nele descreve a intransigência da educação familiar chinesa que defende e condena a permissividade dos pais do Ocidente. Dizer à filha mais velha “és um lixo!”, ameaçar a mais nova, três anos, de a pôr na rua, impedi-la de jantar, celebrar aniversário durante anos próximos até tocar uma peça de piano com perfeição, são exemplos poucos, mas elucidativos da sua pedagogia. Justifica-a pelo êxito dos pais ao criarem-na sob padrões idênticos, pelo comportamento exemplar dos filhos educados segundo a tradição chinesa de humilhação e inflexibilidade. Muitos geniais em matemática e noutras áreas. Alguns não aguentam serem diariamente induzidos aos limites e preferem dizer adeus às curtas vidas pela vergonha do insucesso, pela culpabilização decorrente. Outros submetem-se, prometendo jamais repetir o exemplo com filhos próprios.

 

A Gao Xi é chinesa. Os pais são imigrantes em Portugal. Há três anos, não entendia uma só palavra portuguesa. Hoje lê, interpreta e escreve a nossa língua, conquanto se socorra de caracteres chineses numa pressa. Na oralidade, manifesta fluência suficiente. Aluna brilhante e equilibrada nas atitudes. Jovem integrada nos grupos de amigos e de estudo, linda, sorridente, cabelo negro, liso, forte, comprido, solidária, empenhada na execução perfeita das tarefas que lhe competem. Inquirida sobre a preferência pelo sistema de ensino português ou o praticado na China, opta definitivamente pelo último. Declara o nosso facilitista pela exigência diminuta e potencialmente castrador da competitividade do indivíduo com ele próprio – qualquer outra é enganadora.

 

Famílias permissivas educam mal. Crianças, adolescentes e jovens precisam de autoridade e estímulos para comportamentos adequados por via do entendimento, da condenação dialogada dos desajustes gravosos. Castigos, sim. Agressões ociosas que emotividade descontrolada, que frustração paternal vinda d'antanho geram, nunca. E relembro frase batida, lema pedagógico: _ Primeiro, olha o que faço, depois vê se digo o que faço.

 

Nota – fonte do primeiro parágrafo: jornal Público de ontem.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:54
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Quarta-feira, 20 de Outubro de 2010

AS ÚLTIMAS MOICANAS

Santala, Tim O’Brien, Autor que não foi possível identificar

 

Metáfora perfeita. Não se chamam Cora ou Alice que precisam de Uncas, o último dos moicanos de Cooper, para encontrarem o pai. Foram traídas, certeza, pelas conjunturas que dizem macro das económicas e (inter)nacionais sem rosto do índio Magua. À mesma e como ele, raposas matreiras. Aqui a ficção é invertida: anulada versão romântica do destino das vítimas e dos desmandos exterminadores de humanos; final sem prever salvação das infelizes irmãs.

 

Das moicanas e moicanos orgulhosos da sua condição que restam e lutam e continuam sonho de décadas, sobram poucos. Até Dezembro, obrigados a decidir entre devoção e amanhã menos ladrão. Médicos e professores, de facto aqueles dos banais trabalhadores públicos melhor recompensados economicamente, entraram na carreira iludidos com garantias estatais. Mudados anos e vontades, confrontam-se com o óbvio: iniciaram a vida activa cedo demais. Tivessem reprovado anos a fio, limpo o pó aos assentos da faculdade durante período maior que o expectável, desobedecido aos valores familiares que clamavam responsabilidade, esforço pessoal e aos vinte e um, vinte e dois na idade caminho na vida activa, no hoje e na profissão estariam iguais aos colegas madraços. Interroga a consciência colectiva a validade dos princípios educativos orientadores. Mutáveis, é sabido; todavia, culpados da actual infelicidade de moicanos/filhos cumpridores é surpresa maldita.

 

Abandonarem a profissão/amor é desgosto quando o sangue pulsa vigorosamente, com ele o músculo cardíaco e os ideais de vida inteira. Futurar velhice longínqua que não faça jus à dignidade sempre comedida companheira d’anteontem, d’ontem e d’hoje é pesadelo. Por tudo, até 30 do mês último deste ano, opção: sacerdócio até aos 65 sem altar e toalhas terminadas com renda fina, ou pragmatismo duro como carne de boi que nem pressão de panela hermética atenra. Renegando o trabalho já, maior a recompensa mensal que o salário em 2011. Menos despesas, menos cuidados e a possibilidade de exercício privado.

 

Aflição maior é o reconhecimento das situações contadas serem relativas a privilegiados. E os outros? Os (des)empregados a tempo incerto? Os reformados e trabalhadores que vivem na miséria – chamar-lhe pobreza é afronta. “De contente dói o dente”? _ Verdade insofismável e dolorosa para as(os) últimas(os) moicanas(os).

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Cortesia de Açúcar C.

 

publicado por Maria Brojo às 07:51
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Sábado, 29 de Maio de 2010

EM LX, CORETO DE TRONCOS FEITO

Babis Kiliaris

 

Há projecto da Câmara Municipal de Lisboa para inovar o largo que medeia a subida do Rato pela Rua da Escola Politécnica, de seu nome Jardim do Príncipe Real. Bem-vindo se respeitasse a nobreza da rua onde desafiam modernidade mal «enjorcada» o prédio Gonzaga Ribeiro, o Palacete Castilho, o Palácio Rebelo de Andrade Seia, o Palácio Cruz Alagoa. Em frente do Real Colégio dos Nobres, depois Escola Politécnica, por detrás e ao lado o Jardim Botânico, a Casa das 11 Portas. Da Real Fábrica das Sedas, vestígios que alojariam o café “Flor do Rato”.  

Numa das colinas mais nobres, num jardim histórico que abre para moradores e quem passa a serenidade verde, abater quase meia centena de árvores a favor dum parque de estacionamento, é crime. Lembra o assassinato da Avenida dos Aliados no Porto:

_ Onde estavas com a cabeça e o engenho Siza?

 

No Jardim do Príncipe Real, não existe coreto; substitui-o roda imensa nascida de troncos enlaçados. A propósito, destaco reflexão do António sobre a Praça de Espanha inserida no aqui publicado a 4 de Fevereiro deste ano. Merece ser lida, relida e treslida. Fascina-me este texto cujo final igualmente deslumbra.

 

(…)

“b) vai daí um dia tiram-nos a Pausa de Espanha a poder de homotética viadutização (ou tunelização santanal, é facilitar a vereação e...) de tão desaproveitada Praça onde só raramente pastam vaquinhas alentejanas sob pavilhão açoriano, e então tiram muito que é o pouco que lá há, caras conhecidas meia dúzia, os da Cais, os dos jornais que já foram mais dados, o do pé a descoberto, o negro malabirista entre sinais, os romenos arredios ou intermitentes, ora os do pára-brisas arranhado a esfregão da loiça infecto de ameaças, ora uma esquadra de romenas perfiladas de bébé ao colo em cada cruzamento, ora a venderem Bordas d'Água, ora pensos rápidos, ora papelinhos atrelados a boneco sebento e vai-se a ver estava escrito tenho fome dê-me dinheiro e vá de proceder a despachadas recolhas no preciso momento em que muda o semáforo, mais as pombas e agora cada vez mais gaivotas e feirantes e seus clientes matinais em bares de contentores numerados, romarias à Oncologia e arrepia-se ao passar no sítio exacto onde o verdadeiro artista português viola a fila de pacientes condutores meio entorpecidos da manhã sem ponta prolongada por toda a hora do santo dia e uns viram nos semáforos se estão no primeiro ou último lugar da fila enganada, uns atravessas que arriscam a vida para quê? para recuperar minutos atrasados que o próximo metro poderá devolver se as buzinas forem só de raiva pelo inesperado e forçado recurso do travão e por muito que se queira dali não se tira uma canção, não é (ai) Mouraria nem rua do Cá-á-rmo ou Chiado acima acelerava à ida e à volta do trabalho e claro que o das línguas de sogra não é bem línguas de sogra são uns abolachados como as baunilhas dos gelados mas em cilindro em vez de cone e por vezes compra-se um saquinho ou dois daquilo a contentar o sujeito, nem tanto o vendedor que arrecada tão magras moedas como a sua tremelgante figura mas antes o sujeito que tenta aliviar o mal estar de quem está refastelado em bela viatura e se dirige à família em preparos de refeição e egrégora a que o solitário e esforçado baunilheiro não pertence e uma vida inteira depois ali está no meio da via, no meio da via... quase transparente!

c) coreto: a magia e a memória e o namoro e a música e a poesia e a alegria e o mistério e a surpresa de um beijo inesperado de tão secretamente esperado, retribuído e, porque não?, recordado em todos os coretos, lugares de reencontro, reformulando bio-ritmos, humores e amores!”

António

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 09:34
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