Mathew Carlton, John John
Tenho amigo que resiste à designação ‘Funcionários Públicos’. Classifica-os como ‘Colaboradores do Estado’. Fundamenta: _ “Toda a pessoa que exerce profissão em qualquer sector da actividade pública não é um servidor, nem um assalariado, nem mero funcionário pelos contributos que devem ser valorosos no serviço comandado pelo Estado a favor da sociedade.”
A conversa sobre o tema bailou durante jantar com seis presenças: duas crianças, um trabalhador privado, três funcionários públicos. Entre garfadas de arroz de pato à transmontana, um tinto de fazer vibrar o basalto das calçadas e petiscos mais, o bailarico/diálogo foi agitado sem que perturbasse a calma do palato e do pós-prandial.
O ‘privado’ lembrou as horas fiadas de labor depois de findo o horário ou falta dele – neste caso, prolongada a dedicação ao trabalho e consequente rapinice ao tempo privado da vida. Dois dos ‘públicos’ como tições pelos 5 a 10% surripiados ao vencimento mensal. Adiantou um: _ “No meu sector, é consensual diminuir o labor em percentagem semelhante à do novo rendimento. Quem não manduca, não trabalha e mais não há a dizer. Carreiras iniciadas com perspectivas que o Estado assumiu, negam fundamentais e brutais mudanças de regras indo a meio o jogo em relvado mal semeado e ralo.” O segundo concordou. Fez denúncia dos abusos das chefias, da subserviência requerida, das lutas intestinas para “o meu brilho ser maior que o teu”. O ‘privado’ não se ficou: _ “Não restrinjas ao desconsolo do teu umbigo a queixa feita. Desde há muito, conhecemos os tropeções que descreves e constam do desafio na progressão da carreira. Para nós é simples: _ És de bom para cima, ficas; és suficiente ou medíocre e segues caminho para a rua. Sem contemplações. Diz-me se no público é assim.”
O ‘público’ terceiro entrou na roda. Entende razões de todos e constata falhas de sucessivos poderes que desgovernaram um caos trôpego de velho e cujo músculo cardíaco entrou em falência. Tanto se empanturrou pela satisfação de apelos/colesteróis primários, que entupiu os vasos por onde o sangue vital circula. Agora geme, respira mal, move-se com a Europa inteira em carrego nas costas. E mais se curva perante ela. Lerdo, não lobriga melhoras. Pois devia – mudar radicalmente de cima para baixo, explicar segundo a regra do espelho, constituir exemplo coerente sempre convenceu.
Terminou o repasto e o serão em gargalhadas apetitosas. Português é assim: da desgraça faz graçola.
CAFÉ DA MANHÃ
Cortesia de Anónimo
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros