Don Seegmiller
Todas as casas têm história e estórias para sussurrar a quem as saiba ouvir. Escorrem entre o tijolo e o estuque, alagam o chão pisado, cirandado, dançado por pés nus em dias de lua cheia. Porque os há _ são aqueles em que a noite de prata não se esvai com a madrugada. Em que o sol aparecido não encandeia o íntimo lunar. Em que preguiça na cama corpo húmido do ido e pelo haver. E a casa vigia. Sem sono. Nem surda, nem muda. Dedos invisíveis tacteiam os espíritos que a vivem. Recolhidos se suspeitos.
Um dia, desbocam intimidades. Soltam gemidos e ais e suspiros se o presente não condiz com ausências. Mesmo estreada por quem nela ainda é, a casa não se conforma. Lembra risos e o arranhar dos móveis ao entrarem. O caos encaixotado. Ao monte. A glória de se sentir prenha de vida quando saídos cartões e penduradas etaminas. Quando os livros e as fotografias e as telas respiraram o lugar. Quando entrou a primeira braçada de goivos e o aroma trouxe Maio mais o amor antigo, novo ali. E sabe da espera envolta em cetim cereja. Da pele macia arrebatada de sentir e perfume proibidos. Das janelas gargalhando deleite voado para a rua. Deserta e em construção. Como ela ao rendilhar liberdade nova.
E a casa das estórias conta parte da história da mulher. Tão livre. Tão outra no mesmo rosto. Tão igual se verte prazer.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros