Randis
Em Lisboa e noutros lugares, tem parcos anos o novo modelo de reinstalação dos, ainda há pouco, habitantes de bairro da lata - condomínios fechados ao lado de construções semelhantes na fachada, mas destinados a habitação social. Os reinstalados partilham ruas, espaços de lazer público e comércio de bairro. Por imitação, dizem, a segunda geração terá evoluído por espontânea vontade. Não sei se neste modelo somos precursores, mas faz sentido. Mais ideias venham que pensem cidades afáveis.
Já havia rabiscado sobre os "feios, porcos e maus" (designação que desdenho) dos subúrbios flácidos das cidades, sobre os gemidos, ais e gritos por culpa dos bicos de papagaio, varizes e artroses que as malhas urbanas adquiriram com os anos. A maquilhagem sem banho tomado dá bons retratos nos postais ilustrados. Consumidas de perto, assestada a vista, o olhar do observador sai enojado com farrapos das cidades nos centros ou nas periferias. Nada desculpa, porém, a condescendência que pensa como vítimas delinquentes à solta, traficantes de droga e criminosos tão light como a filosofia do hoje.
Todos podemos optar – felizmente, está por fazer o luto do livre arbítrio. Mais apertado para alguns, ainda assim com possibilidade de vidas lisas e direitas no horizonte. Sem esperar que o país indemnize infância cruéis. Evitá-las sim, sustentar vícios posteriores, não. Qualquer sociedade que prefere condescender com desvios em vez de incentivar quem pelo esforço e vontade contribui para o bem comum, erra. É injusta. Discrimina. A conversa dos «coitadinhos» sempre me “tirou do sério” - frouxa a sociedade que nada faz por evitar a proliferação de «coitadinhos» entupidos com droga e/ou miséria.
A justiça tem de merecer o nome. Não pode ser puta velha de dentes ralos, pintura esborratada. E quem tem dívidas que as pague, quem rouba seja punido, quem é corrupto, lava capitais ou trafica droga ou incendeia ou estropia ou mata na estrada, seja julgado em tempo útil. E pague. Pague pelo que fez. Que sejam convertidos em trabalhos comunitários delitos mais leves - boa altura para aprender o que, em devido tempo, não quis ou não pôde adquirir. Nunca é tarde. Esta coisa morna de nem é crime, nem deixa de ser, tem remate na máxima comum "só é criminoso quem se deixa apanhar." Fugir é fácil: mudança de casa, de trabalho, de cidade, de mulher, de ramo. Pagar é que não. Só para tansos. A maioria dos cidadãos.
Nota: há instantes, publicado no "Escrever é Triste" "Onde são tratadas memórias da vida e luta operária em cidade têxtil - Gouveia". Texto que amanhã será tema no SPNI.
CAFÉ DA MANHÃ
Randis
Recebi de leitor e comentador ocasional do SPNI:
“1
"Iremos ter um governo mundial, quer queiramos quer não.
A questão é saber se será conseguido pela conquista ou pelo consentimento”
-James Warburg, banqueiro e conselheiro financeiro de Franklin Roosevelt, 17 de Fevereiro de 1950.
2
Até que ponto foi a 'dinâmica' esquerda/direita um meio de manter os cidadãos divididos enquanto se preparava o sistema de dominação global e/ou! até que ponto, em presença disto, foi ou não a URSS um retardador?
Off-topic e vendo o assunto de trás p'a frente ie. nos seus antecedentes remotos, veja a discussão que o sr. Timothy Snyder faz em 'Bloodlands: Europe Between Hitler and Stalin'
(Basic Books ISBN-13: 9780465002399)
ou, em português,
'Terra Sangrenta, a Europa entre Hitler e Stalin'
(Bertrand ISBN: 9789722523639)”
Dá-se o caso de ontem ter mantido conversa onde foi especulado o destino da Europa e de Portugal. O e-mail entrado na minha caixa de correio privada veio a propósito. Das reflexões limitar-me-ei aquelas que abrangeram este país que já foi nosso e hoje é de todos menos do povo que o habita. Nova ordem social é precisa e inevitável. Defendo que iremos de derrota em derrota até à derrota final. Paulatinamente, ou de supetão. O interlocutor aventou que ou os «taratas» - assim designa os militares – tomam conta do assunto como no Abril comemorado, ou é o naufrágio do rectângulo, outrora independente, mais ocidental da Europa. Um dos argumentos foi a inexperiência da ‘garotada’ que nos (des)orienta. Esgrimi outro: os militares em funções cresceram e formaram-se no estropiamento dos valores sociais que tem afectado as sucessivas gerações e governações. Somente armas deles fazem esperar diferente.
O sistema fede. Continuará a feder até ao insuportável. O despudor não tem limites: duas caixas multibanco, uma em Cascais, outra em Gaia passam a dispensar ouro e notas; o representante da polícia numa autarquia que entendi do Norte em vez de cartão natalício tropeçou num engano e enviou imagens de meninas pouco vestidas acompanhadas de legendas adequadas. A Saúde e a Justiça rastejam como lesma que deixa sinal pegajoso. Enquanto isto, a sopa dos pobres já não chega para encher a tigela dos necessitados cujo número é maior a cada dia. A nova Lei Laboral é mais flexível que junco na margem dum ribeiro. Protecção social? _ Nem vestígio de competência.
Portugal e a Europa e o mundo pela desgraça de milhões chegarão, fatalmente, a novo ciclo na história da humanidade. Terramoto maior que o de 1775.
CAFÉ DA MANHÃ
Recolhido no Facebook via João Marques de Carvalho e achado pessoal.
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