Michael Godard
Quem se alheia do tecido social arrisca progressivo desentendimento dos outros e de epifenómenos que marcam o tempo em que é. Na frescura da manhã, ouvido o disparar dos lucros da Santa Casa da Misericórdia à conta da doudice aguda e abrangente pelo «raspa» das Raspadinhas. Raspa quem pode e quem não possui proventos que satisfaçam dignamente a sobrevivência. Porta-moedas mais gordo, esperança comum. Adição a este tipo de consumo, risco também comum. Não raro, é esgotado em raspadelas, fração substantiva do salário. As dívidas chegam depois.
Cartão de aparência inocente – barato e à venda em qualquer quiosque seja de esquina ou não -, responde, de imediato, à ânsia do saber se por baixo do abracadabra em forma de película a raspar há pilim a receber. Euromilhões, jogos online, exigem mais paciência e/ou recursos de suporte.
O trevo sedutor, endoudando os mais recetivos ao vício do jogo, leva muitos de volta ao tinir das moedas nas máquinas dos casinos donde haviam saído a custo. E se não é o tratado a diabolização das Raspadinhas, é preocupante quando um povo náufrago em vez de procurar boia segura se apoia a jangadas de cartão.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros