Varian Rebecca Jacobson
"És bom demais para mim." Abundam relatos em que este dito pontifica. O olhar perplexo da vítima é eloquente. E já revirou, dissecou, especulou sobre razão e significado de tão absurda classificação na escala da bondade. Entre quem disse e ouviu, tudo parecia encaminhar para elo romântico com direito a ternuras e mimos e seduções várias. Até um dia. O tal em que a guilhotina cai sobre o afeto. E o remate? _ O mesmo! Bondade a mais, faísca a menos.
Quando eles ou elas dizem frase de aparência tão banal e elogiosa, a descodificação é simples -"és uma excelente pessoa mas como isqueiro falta-te gás!" Ou então - "o que tivemos deu o que tinha a dar. Toca a «basar»!" Fica um remoendo e o outro voando sem culpa à conta de, até no final, ter sido tão, mas tão bonzinho. Um anjo de autoajuda. Pois se até cuidou de não deixar na sarjeta a autoestima do preterido...
Nos amigos vitimados por tal veredicto, constatei denominador comum: entregam-se com tal denodo aos retoques do amor idealizado apaparicando o alvo do afeto que, este, de duas, uma - ou abafa sob tamanha devoção ou se atemoriza pelo retorno a que se sente obrigado. Excluídos deliberadamente os voadores afetivos sistemáticos.
Por sorte e sem que fuja um angström da verdade, nunca tal fatídico dito ouvi ou me saiu da boquinha que, longe venha o dia!, engelhará como leque. Demasiado frontal para isso. Com aquela mania de não alinhar em caridadezinhas oportunistas. A substância do pensado obriga a discurso coerente. Polir sem embonecar. E se amigo que muito prezo substitui verdade por casca de banana da falsa bondade como mandamento adequado para descarte feliz, é lá com ele. Rio ao vê-lo discorrer sobre a receita. À prática digo não.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros