Quarta-feira, 24 de Junho de 2009

ORA ET LABORA DIXIT

Jim Warren
“também os romanos deram cabo das florestas dos territórios que crescentemente tinham que ocupar, ampliando a expansão do império energívoro que conceberam para alimentar o modo de vida que constituía o seu padrão civilizacional, a poder de consumo exponencial de carvão, argila, ouro, prata e outros recursos finitos ou demoradamente renováveis

claro que os jardins suspensos da Babilónia aproveitavam e desperdiçavam água, claro que as barragens afectam ecossistemas para evitar o recurso à energia nuclear ou combustíveis fósseis para manter o modo de vida energívoro que caracteriza as sociedades actuais, como as que nos precederam, em escalas diversas

também a agricultura, a caça, a pesca, o vestuário, a habitação são hábitos humanos que agridem a natureza, o planeta e o equilíbrio da biodiversidade

outros animais e muitos fenómenos naturais afectam e agridem a natureza e o equilíbrio dos ecossistemas e da biodiversidade, por vezes irreversivelmente

mas há um nível de conhecimento e de proporcionalidade entre meios e necessidades para garantir a satisfação das comunidades humanas, tanto quanto possível permitindo à natureza reconstituir os desejáveis equilíbrios

as barragens estarão certamente nesse caminho de proporcionalidade - melhor, só a energia não consumida, por exemplo, sem computadores, ar condicionado, frigoríficos, automóveis, ou com medidas drásticas de ordenamento racional do território, com radicais limitações de mobilidade e liberdade, substituindo o modelo social que vivemos por outro(s) de esfera desconhecida, porventura susceptível de maiores impactos sobre a natureza e sobre a humanidade tal como existe hoje

por outro lado, as barragens são projectos e realizações reversíveis a prazo - 100 anos?

há pontes e estradas romanas que ainda funcionam, 2.000 anos de pois da sua construção - mas num ápice são substituídas por uma variante e deixam o lugar voltar à sua forma anterior (sim, original não sabemos qual seria...) apesar de certamente haver novos e quiçá inquietantes impactos decorrentes das novas vias ou alternativas construídas - a menos que se assumisse a tal redução (ou eliminação!) de mobilidade...

daí, as barragens substituem uma parte considerável dos estragos que as centrais termoeléctricas causam ao planeta: um cento electroprodutor como o de Sines devora uma barco de 400.000 toneladas de carvão todos os 15 dias - para vermos telenovelas, utilizarmos computadores, andarmos de elevador, haver semáforos nas artérias rodoviárias, comboios eléctricos, secadores de cabelo...

ao cimo da Terra, há milhares de centrais como a de Sines, só a China constrói mais do que uma por semana...

o que acontece é que extraímos minerais do subsolo, para queimar na produção de energia eléctrica e se evaporar na atmosfera em fumo e cinzas que danificam gravemente o ambiente

mas pode continuar a não se fazer barragens, pelo menos enquanto houver resto de minerais fósseis e espaço na atmosfera para o fumo

em Portugal, foi o que a hipocrisia conseguiu fazer durante os últimos 20 anos

quanto aguentaremos mais?”
Subscrevo. Todinho! Formidáveis pensadores/comentadores que por aqui se reúnem. Tão pobres os meus escritos se comparados com as reflexões que originam e motivam e me fazem alimentar os desafios e a exigência que lhes conheço!
CAFÉ DA MANHÃ
publicado por Maria Brojo às 08:33
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