Modigliani por Picasso Amedeo Modigliani Portrait of Jeanne Hebuterne
Pessoa que muito estimo e sabe da minha ânsia de mais saber nas artes plásticas, recomendou-me o filme. Mais fez: colocou-mo à disposição. «Nadas» da vida adiaram ócio em que o desfrutasse sem neurónios à bulha devida a preocupações imediatas. Num fim de tarde, eu e a casa postas em sossego, houve tempo calmo do tempo para o ver. No filme, a minha subjetividade declara irrelevantes falhas de realização, planos do cenário repetidos, alguma inabilidade na iluminação, ‘et cetera’ – orçamento baixo, pensei.
Justificações da dispensa de olhar ácido sobre o filme: o percurso dum homem transportado aos limites do viver, a intensidade emocional debitada no ecrã, a ambiência do princípio do século vinte numa sociedade artística do ‘bas-fond’ em Paris à mistura (Renoir e Picasso, exceções) com mecenas pomposos, a pesquisa fervilhante dum além artístico ao costumado na época, a rivalidade (ou atração de génios?) entre Modigliani e Picasso. E se li o filme classificado como dos piores de sempre, a minha discordância vai ao ponto de o considerar um dos filmes para não esquecer e rever. Não diminuo assim a excecionalidade do “Pollock” dirigido por Ed Harris e estreado em 2000. Tão pouco o faço em relação à história fictícia de “Rapariga com Brinco de Pérola”, 2003, realizado por Peter Webber onde o pintor Joannes Vermeer é tratado.
Desde há muito, Amedeo Modigliani é um dos meus pintores de eleição. O enamoramento cresceu ao sentir-lhe a técnica e, mais que tudo, a alma numa temporária que me levou ao Thyssen em Madrid. É que se visitar museus faz e sabe bem, são nas temporárias dedicadas a um só artista que mais aprendo sem dispersões. Na falta delas, agendei para este fim-de-semana “Os Fantasmas de Goya”. Darei notícia do visto e sentido depois.
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Detalhe de "Le Bal a Bougival" - Renoir
Lioz é o que se enxerga primeiro. Escadaria forrada a encarnado, dourados depois. Assentos dispostos em meias luas até à pista modesta. Balcões servem de alívio às cruzes dos herdeiros marialvas que dardejam olhares carnívoros às peças femininas. Eles e elas podiam ser atores escolhidos a dedo pelo Ettore Scola para filmar “O Baile”. Também neste lugar escuso das noites de Lisboa são curtos os diálogos, palpável a tensão emocional, a dramaturgia sustentada pela linguagem dos gestos. Quem ali se aventura é melhor estar preparado para incursão no mundo da pantomima das relações humanas, urbanas, maganas.
A premissa do lugar é, como no “Baile”, imutável: diluir a solidão, encontrar parceiro que aqueça noites e o momento no carrocel duma pista de dança. O elenco permanece: a florista, o jovem do subúrbio, a manequim reformada, a alcoólatra, a dama-pipi, a refugiada/imigrante, o sacristão à procura do ámen duma ela, a «pernas-e-mamas», o «homem-que-veio-de-longe» e não é o Gabin, o pós yuppie, o aluno de Apolo, o empresário, o suposto herói de guerra, o aristocrata, o rufia com jaqueta de couro e topete, o ‘mister músculo’ lá do bairro. Elas esperam convite para dançar daqueles que as negas não temem; os tímidos aguardam que alguma traduza em tiques convite de enleio.
A mise-en-scène garante aos prováveis enredos a cola do conhecimento dos corpos à cause le pot pourri musical – (...)
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Autores que não foi possível identificar
Ontem, partiu Antoni Tàpies. Escultor e pintor catalão é “considerado um dos maiores representantes europeus da arte abstracta do pós-guerra”. Tinha 88 anos. Em Barcelona, a Fundação Tàpies surpreende também pela concepção na mostra das obras do autor. O sentir inicial pode ser de estranheza. Todavia, à medida dos passos visitantes, o idear artístico de Tàpies impõe-se e tudo faz sentido.
Ouvi hoje que se nos clássicos (recordo Charles Dickens) era certa uma ideia por página, no publicado agora, uma por livro é uso. Por outro lado, as descrições de Dickens envolvem uma realidade que, dois séculos após, preservam a essência das vidas actuais: desigualdade social, o haver é poder, a ganância como objectivo. Volver aos clássicos e ler uma página por dia nem sabe o bem que lhe fazia!
Truffaut, completaria ontem oitenta anos, “é sinónimo de inocência, de rebeldia, de liberdade, de cultura francesa, e claro, é sinónimo de cinema. Mas Truffaut era um realizador bastante diversificado, pelo que nos seus filmes podemos encontrar um pouco de Chaplin, de Renoir e de Hitchcock. Passou por vários géneros como film noir americano em “Disparem Sobre o Pianista” (1960) e ficção científica em “Grau de Destruição” (1966). “Jules e Jim” (1961), “A Noiva estava de Luto” (1967), “O Menino Selvagem” (1970), “O Último Metro” (1980) e “Finalmente, Domingo!” (1983) (o seu último filme) são ainda algumas das suas melhores obras e de enorme referência para o cinema francês.” De todos, prefiro “Jules e Jim”.
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