Jan Bollaert
A família do “Escrever é Triste” tem vindo a libertar-se dalgumas contenções linguísticas. Num rabisco, perorei sobre elas a partir de São Tomás de Aquino: “brincar é necessário para levar uma vida humana”. Defendo o mesmo: gargalhar repõe no espírito energia que o corpo e os dias agradecem – é dado como provado que o riso liberta hormona, endorfina, que para o cérebro importa sensação de bem-estar, alivia dores e tensões. Uma boa piada ou encarar os fatos com bonomia e humor, são melhor remédio que pílulas a granel. Porém, o que faz grasnar de alegria um sujeito ou um povo não garante que noutro, diferente, almeje o mesmo. Os ingleses pelam-se por trocadilhos, os franceses e alemães pelo nonsense, os stars & stripes preferem gracejar sobre assuntos locais. Seja qual for a língua ou a herança cultural, afirmam sabedores que o gracejo deve brincar com o efeito surpresa para a universalidade do riso acontecer.
Richard Baxter
Por cá, o autêntico vernáculo, condimentado pela gíria, está para as anedotas, como a batata para a sopa; se de legumes melhor - grelos, ervilhas, nabos, ***alhos, tomates e pepinos servidos por curto e eficaz enredo, levam muitos portugueses a lágrimas galhofeiras. Noutra vertente, explosão de génio servida por um vigoroso “porra!” dizem fornecer maior alívio do que um “fosga-se!” desenxabido.
Millôr Fernandes defendia que “o nível de stress do indivíduo é inversamente proporcional à quantidade de “foda-se! que espirra.” Perguntava se existe algo mais libertário do que o referido conceito para, em seguida, justificar: “O foda-se! aumenta a minha auto-estima, torna-me uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Liberta-me. "Não quer sair comigo?! - Então, foda-se!". Rematava abonando o direito do termo na Constituição.
“Filho de muitos pais” veio substituir com a clássica «delico-doçura» social expressão antiga que envolve ‘senhoras’ dadas a acasalar se remuneradas. Não tem enésimo de expressividade da antiga. Perante desmando institucional ou privado, um "puta que o pariu" bravo e forte põe nos eixos a emoção.
E pensar que não me atrevia além do “puxa”, do “caraças”, ou d’une merde ocasional.
CAFÉ DA MANHÃ
Richard Baxter
Nascida em localidade prosaica, fascinam-me nomes extraordinários dos sítios. Ainda pequenota, engraçava com a designação dos respectivos habitantes. Cabra, por exemplo, situada numa das margens cimeiras do Mondego; chamar «cabrões» aos que ali foram nados ou viviam não me parecia sensato. Mudança ajuizada, e a terra passou a Ribamondego, entrando tudo nos eixos.
De casos semelhantes está o país cheio. Cabrão e Cabrões resistem em Ponte de Lima e Santo Tirso, respectivamente. Ah valentes! «Vendas» há quatro: dos Pretos, das Raparigas, da Porca e das Pulgas. Vaginha, Vale da Rata e Vale de Mortos não desmerecem em originalidade. Punhete, para os lados de Valongo, Picha em Pedrógão e Purgatório são embaraço bastante paro os nativos que têm de o fazer constar. Cabeçudos, Bicha, Às Dez e Aliviada são decentes terras nortenhas. Decentes, mas um estorvo: Nascimento? Às Dez. Ou Aliviada. Ou Bicha. Configure-se, nestes casos, o fácies do burocrata de serviço e a reacção da fila que atrás aguarda, senha na mão e desespero no rosto - um pavor!
Teclas amigas informaram:” Bustos, Ancas e Mamarosa, formam o triângulo amoroso de Aveiro. Um pouco mais a Norte, a terra com menos letras de Portugal: um "U" e um "l" apenas: Ul, a escassos km de Oliveira de Azeméis. À entrada de uma bonita vila Alentejana, lia-se a placa "Manço". A população insurgiu-se por faltar o "s" no final - é que ali, não era só um, eram todos mansos, ou melhor, de Manços.” “Na EN 109, direcção Aveiro/Figueira da Foz, Carapellhos) é localidade.” E mais haveria para anotar, fosse profundo o conhecimento do país.
CAFÉ DA MANHÃ
Centenário do nascimento de Manuel da Fonseca.
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros