Segunda-feira, 23 de Abril de 2012

POR AMOR

Richard Whitney, Edward Collier

 

Deixar de responder a comentários, não é bonito nem se recomenda perante aqueles que, generosamente, lavram reflexões. Delas, Não perco uma. Ainda assim, por razões particulares que o gosto da privacidade impede denúncia exaustiva, acrescento que por amor da mãe não me sobra tempo para cumprir o devido.

 

Na vida, há intervalos de tempo como este - das prioridades, respeitar ordenação estrita. Sendo mulher de afetos e paixões que outros julgam nadas e para mim são tudo, quando neles embrenhada, deixo para trás o gozo pessoal como este de opinar sobre os dizeres generosamente aqui deixados.

 

Tempo mais liberto chegará é certeza que arrecado. Então, regressarei mais interveniente, disponível para de todos comentar os escritos. Por ora, que me entendam, é um pedido. Entendo desistências do publicado por autora muda. C’est comme ça la vie!

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Na companhia de Stacey Kent, que esta segunda inicie para todos uma semana ótima e colorida. (Pintora Mariana Kalacheva)

 

publicado por Maria Brojo às 12:37
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Sábado, 29 de Outubro de 2011

CONCHITA

Greg Hildebrandt , Daniel Green, Richard Whitney

 

Na vida adulta dos meus avoengos, o pecado da luxúria falava espanhol. Melhor, encantava em espanhol, convencia por gemidos e obtinha através de beicinho e volúpia. Os casinos da Póvoa de Varzim e da Figueira da Foz desfaziam, no Norte e Centro, fortunas em menos de um Pai Nosso rezado, com fervor e de joelhos prostrados, frente aos oratórios pejados de Santos e santinhos pelas mães e «esposas» devotas e (des)enganadas.

Os desvios do bom caminho de um ‘rapaz de família’ começavam nas 'Repúblicas Coimbrãs', aí continuavam até o enérgico «Basta!» do pai de família ao temer exaurida a bolsa. Tinham interlúdio no casamento por amor ou «arranjado» que legitimava discretas e ocasionais derrapagens desde que na ignorância da respectiva e ao jantar, servido a horas, ninguém faltasse. Um sossego!

Amornados os sentimentos, a modorra instalava-se. Os negócios entediavam e os ímpetos careciam de potenciados estímulos. Os parceiros de tertúlia garantiam:

_ “Do que precisas é da Conchita! Ficas outro!”

E ele ia. E ficava. Enrubesciam as faces, o olhar coruscava, o riso bailava e a vela dos negócios enfunava como se alísio soprasse. Tudo corria de feição até o homem se apaixonar. Aí começava a pensar, falar, comer e gemer em espanhol sob o imperioso domínio da horizontalidade das artes de nuestra hermana. A Conchita florescia, a fortuna do homem diminuía, o tabelião afiava as unhas, a Conchita abalava e as mágoas perdiam-se à mesa de jogo. As devotas mães e esposas continuavam prostradas de joelhos, levantando o olhar fremente para os Santos e santinhos. O oratório, esse tinha desaparecido.

 CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:32
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Terça-feira, 23 de Agosto de 2011

CONTENÇAS, ABRUNHOSA, GOUVEIA

Robbie Bushe, Richard Whitney

 

Pela importância na produção de têxteis e agrícola da região, pela necessidade de a escoar, ficou completa a Linha Ferroviária da Beira-Alta que ligava Figueira da Foz a Vilar Formoso. Inaugurada no dia 3 de Agosto de 1882, distinguia apeadeiros de estações. A de Gouveia distava parcos quilómetros do centro urbano, cumpridos de táxi ou de camioneta em estrada sinuosa que dava voltas a estômagos por resistentes que fossem.

 

Terminado o último período escolar nos princípios de Junho, precedendo o tempo de praia, a pequenita ia de férias para casa dos avós, enquanto os pais, em Coimbra, aguardavam o descanso anual. Senhora amiga da família propôs-se acompanhar a garota e deixá-la no recato devido. Amorosamente, a mãe cuidara dos detalhes emalados: sandálias e vestidos novos para a filha, para as bonecas fatos à medida, seira que as acomodasse forrada a chita florida, folhos e laçarotes nas bordas. Um primor!

 

Passada a estação de Mangualde, o apeadeiro de Contenças, alguns passageiros recolhiam bagagens preparando saída em Gouveia. Ora, durante a viagem, cansada de olhar a corrida da paisagem, a miúda não resistira e, aquiescendo a acompanhante, retirou da mala, seira e bonecas para se entreter e satisfazer a vontade do novo estrear. Ansiosa por chegar, já em Contenças tentara industriar a senhora amiga para se aproximarem das portas. _ Que era cedo demais, que reuniria os pertences após Abrunhosa, estivesse descansada. Mas não estava. Insistiu. Foi-lhe cumprida a vontade - junto à saída, arrebanhadas malas. Na mão, seira e bonecas. Comboio em andamento, portas abertas, vento refrescante da montanha deslizando forte com a velocidade da composição fez voar os brinquedos. Lágrimas contidas por saber dela a pertença da culpa pela teimosia.

 

Chegada a Gouveia, os avós tristes com a mágoa da neta deram conhecimento ao chefe da estação. Mulher mandada percorrer a linha até encontrar o perdido. Encontrou e fez chegar à menina caixa com os mimos. Jamais esqueceu a Linha da Beira-Alta que, adolescente, percorreria vezes algumas, bonecas substituídas pelo Paris Match ou o Jours de France.

 

Até ao desactivar do envio de mercadorias por comboio a partir da estação de Gouveia, receberia na "Grande  Alface" sacos de batatas, cabazes com fruta colhida nas propriedades. Eram um pouco das raízes adquiridas pela tradição do nascimento em casa dos ancestrais que, etiquetadas com a letra bem conhecida, levantava em Lisboa–Estação de Benfica.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 09:26
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Quarta-feira, 3 de Agosto de 2011

TOMATES, “COURGETTES”, COMPOTAS E MARMELADA

Richard Whitney, Bo Bartlett

 

A Sr.ª Dona Ventura é mulher para setenta anos. Criou três filhos, sozinha pelo falecimento prematuro do marido. Foi empregada doméstica a tempo inteiro provendo o sustento da prole. Porque eficiente e bondosa, patrões compreensivos permitiam levar com ela as crianças. Conserva mãos habilidosas que, nos serões, bordam encomendas, de dia, lavam pratos em restaurantes. No ano inteiro, zela casas cujos donos só em férias as ocupam. Talento culinário faz dela cozinheira de eleição. Bem arranjada, sem avental confecciona refeições de truz para família outra reunida em cada Agosto. Miúdos e graúdos aplaudem os petiscos. Nas esperas dos assados, estrugidos e sopas divinas, ordena gavetas, limpa armários. Almoça, arruma a cozinha sem na roupa que usa deixar mácula. Entra e sai senhora respeitada.  

 

A Leonor, trinta e seis anos, cabelo liso preso com elástico num «rabo de cavalo» terminado nas costas, é vendaval nas limpezas e no passar a ferro. Carrega história pesada – o marido alcoólico sovava-a até a deixar negra, tantos eram os hematomas. Sem uma queixa pelo medo que ele lhe inspirava e julgando assim preservar de ofensas físicas as duas filhas pequenas. Morreu novo. Casou segunda vez e é feliz com o seu homem. Bem disposta, esconde por detrás do riso fácil a mágoa do desemprego. Deita mão ao que aparece e, anualmente, assina o ponto no casarão cheio nas três primeiras semanas de Agosto. Almoça com a Sr.ª Dona Ventura na sala de estar – rejeitam a longa mesa da família que, pela amizade, de bom grado lhes faria lugar em troca das animadas conversas sobre as novas da pequena cidade. De há meses para cá, assaltos, muitos, contam, por bando de quatro vindo de Gaia que aterroriza quem trabalha e deixa a casa cerrada ou circula nas ruas e estradas. Dia, noite, amigos do alheio abarbatam o que podem. E podem muito, como provam moradias esvaziadas, o surripiar vil das carteiras sob a silenciosa luz solar. Não foram vizinhos atentos que chamaram a polícia, continuaria em expansão a carreira dos larápios.

 

Acontece que a Sr.ª Dona Ventura «campainhou» em hora não prevista e do saco surgiram mimos de lamber os beiços – tomates rijos e no ponto, courgette gigante, três compotas caseiras, diferentes, marmelada do ano anterior. Diga quem nas cidades «autofágicas» faz vida, se gestos desprendidos, regalos idênticos, contabilizam.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:51
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Terça-feira, 19 de Janeiro de 2010

35%, 4% E A SENHORA DONA LOURDES

Richard Whitney

 

Funcionária exemplar. Profissional conscienciosa e sabedora – dos laboratórios conhecia segredos que, discreta, sugeria mal eram verbalizadas dificuldades ou carências. Jamais arredada do lugar – não lhe lembro faltas ao trabalho, mesmo quando instada a dar meia-volta e regressar a casa por maleitas; algumas sérias. Ficava. Sorria e as rugas desvaneciam-se.

 

Vez por vez, surgia com o rosto maltratado. Caíra, batera na porta do armário como explicações comuns. Casamento de muitas décadas. Filhos e netos que a amavam. Retribuía com a dádiva que na (im)pessoalidade laboral a caracterizava. Viu-me crescer como mulher e trabalhadora. Conheceu-me aos vinte e três anos. Meus. Continuou na profissão anos a fio além da reforma. O limite de idade remeteu-a à domesticidade exclusiva. Homenageada. Incensada. Mereceu.

 

Soube agora que, três anos após a saída, está num lar. O marido, culpado da violência que lhe marcava o rosto, finalmente!, fê-la procurar refúgio num sítio tranquilo. Teve sorte – 18000 idosos aguardam instituição que os receba quando a vida conta anos demais para utilidade reconhecida. A paga do lugar é incompatível com o líquido da reforma. Emocional e afectivamente apoiam-na filhos e netos. Reconhecidos pelo feito. Sem possibilidades económicas para tudo.

 

Ignorando ainda dados últimos do Eurostat - 35% dos portugueses não têm sistema de aquecimento apropriado em casa e  4% sem direito a refeição completa de dois em dois dias –, o local de trabalho mobilizou-se. Bateram fortes os corações. Partes dos salários empregues em bens e ajudas de primeira necessidade que à Srª D. Lourdes satisfaçam. Que lhe lembrem afectos/tributos por anos de dedicação honesta. Ninguém reteve 'quentinhos' apaziguadores da consciência pelas ajudas prestadas. Tomaram, não fossem precisas!

 

Perdoada seja a lamechice. Partidas da emotividade deixam-me indefesa.
 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

When I was seventeen
It was a very good year
It was a very good year
for small town girls
And soft summer nights
We'd hide from the lights
On the village green
When I was seventeen

 

When I was twenty-one
It was a very good year
It was a very good year for city girls
Who lived up the stair
And it came undone
When I was twenty-one

 

When I was thirty-five
It was a very good year
It was a very good year for
blue-blooded girls
Of independent means
We'd ride in limousines
And their chauffeurs would drive
When I was thirty-five

 

But now the days grow short
I'm in the autumn of my years
And I think of my life as vintage wine
From fine old kegs
From the brim to the dregs
And it poured sweet and clear
It was a very good year

 

publicado por Maria Brojo às 06:08
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