Terça-feira, 23 de Agosto de 2011

CONTENÇAS, ABRUNHOSA, GOUVEIA

Robbie Bushe, Richard Whitney

 

Pela importância na produção de têxteis e agrícola da região, pela necessidade de a escoar, ficou completa a Linha Ferroviária da Beira-Alta que ligava Figueira da Foz a Vilar Formoso. Inaugurada no dia 3 de Agosto de 1882, distinguia apeadeiros de estações. A de Gouveia distava parcos quilómetros do centro urbano, cumpridos de táxi ou de camioneta em estrada sinuosa que dava voltas a estômagos por resistentes que fossem.

 

Terminado o último período escolar nos princípios de Junho, precedendo o tempo de praia, a pequenita ia de férias para casa dos avós, enquanto os pais, em Coimbra, aguardavam o descanso anual. Senhora amiga da família propôs-se acompanhar a garota e deixá-la no recato devido. Amorosamente, a mãe cuidara dos detalhes emalados: sandálias e vestidos novos para a filha, para as bonecas fatos à medida, seira que as acomodasse forrada a chita florida, folhos e laçarotes nas bordas. Um primor!

 

Passada a estação de Mangualde, o apeadeiro de Contenças, alguns passageiros recolhiam bagagens preparando saída em Gouveia. Ora, durante a viagem, cansada de olhar a corrida da paisagem, a miúda não resistira e, aquiescendo a acompanhante, retirou da mala, seira e bonecas para se entreter e satisfazer a vontade do novo estrear. Ansiosa por chegar, já em Contenças tentara industriar a senhora amiga para se aproximarem das portas. _ Que era cedo demais, que reuniria os pertences após Abrunhosa, estivesse descansada. Mas não estava. Insistiu. Foi-lhe cumprida a vontade - junto à saída, arrebanhadas malas. Na mão, seira e bonecas. Comboio em andamento, portas abertas, vento refrescante da montanha deslizando forte com a velocidade da composição fez voar os brinquedos. Lágrimas contidas por saber dela a pertença da culpa pela teimosia.

 

Chegada a Gouveia, os avós tristes com a mágoa da neta deram conhecimento ao chefe da estação. Mulher mandada percorrer a linha até encontrar o perdido. Encontrou e fez chegar à menina caixa com os mimos. Jamais esqueceu a Linha da Beira-Alta que, adolescente, percorreria vezes algumas, bonecas substituídas pelo Paris Match ou o Jours de France.

 

Até ao desactivar do envio de mercadorias por comboio a partir da estação de Gouveia, receberia na "Grande  Alface" sacos de batatas, cabazes com fruta colhida nas propriedades. Eram um pouco das raízes adquiridas pela tradição do nascimento em casa dos ancestrais que, etiquetadas com a letra bem conhecida, levantava em Lisboa–Estação de Benfica.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 09:26
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Segunda-feira, 24 de Maio de 2010

COMBOIO FANTASMA

 

Robbie Bushe

 

“J. M.S. acha bem o TGV. Já que não há Feira Popular, pelo menos ficamos com um Comboio Fantasma entre Caia e o Poceirão.”

 

Li e reli. Ri depois. Não de soslaio, mas com bandeira desfraldada. Talvez fosse do sol espampanante, invasor dos olhos cerrados. Talvez fosse dos óculos de sol na cabeça e não protectores do suposto. Mal pus do avesso o peito ao astro maior, vi manchas. Amarelas. Prevenida, atentei. Compasso de espera. Os flashes persistiam. Comprimento de onda inusitado, frequência reduzida. Mas não. A retina persistiu e não descolou de su sitio.

 

Pelos desencontros das ondas subidas e descidas ao sabor da lua, das comunicadas por outras de ⋏ menor _ da rádio em particular _, das chaminés que debitam comentários e ideias e notícias outras, a mulher saboreava e ria. Bikini por lingerie que topo e algodão cobriam. Esplanada de restaurante marítimo. A mulher respirava alívio esquecido pelo trabalho contínuo. Quem assina Teresa C. com ânsia pelo segundo dia de Junho. Que espera a concretização do desejo de comentar quem a comenta e a reflecte sem pôr em causa tarefas prioritárias. Por horas, respirou. Por horas, serenou e esvaziou o saco das obrigações.

 

Ao lembrar o lido, a gargalhada foi aprovação e liberdade da mulher que ama comboios. TGV curto e nosso para quase nada, para empregar fundos comunitários sem garantir mais do que emprego precário, para lograr quem, como eu, espera tudo do tecido empresarial e da produtividade e da contenção. Ou o sol fruído estava em desoras, ou o (des)governo ensandeceu.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

 

publicado por Maria Brojo às 06:39
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