Na Rua do Duque, o nº 20 vê de baixo a Rua do Alecrim.
Ali, o entardecer desce cedo pela arquitetura alta e pobre. Numa sexta-feira, rondando as vinte horas do dia, é iniciada a enchente de automóveis e gentes. As varandas da Casa de Pasto, permitem reter imagens/testemunhos. Em destaque, a sinalização do lugar pelo luminoso porco branco.
O interior do restaurante dividido em salas, permite convívios mais aconchegados ou alargados consoante o tamanho da sala escolhida para degustar a plêiade de entradas e propostas da pièce de resistance da refeição. Decoração entre o kitsch e Arte Nova. Pontifica como forro das paredes a minha amada Chita Dona Maria. Trazida da Índia pelos portugueses, foi rainha como tecido decorativo pelas classes sociais em que o dinheiro escasseava devido ao preço módico. Hoje, refinou e é moda na classe social com maior poder de compra. A variedade de motivos pictóricos confere alegria, muita cor a ambientes elaborados ou minimalistas.
Porque as casas de banho de qualquer lugar público que visite são, para mim, importantes, não resisti a fotografar a destinada ao sexo feminino. Originalidade a rodos. O extenso e iluminado painel representando nabos grelados é divertido. Não resisti à captação de imagens.
Na casa de banho masculina, cenouras pendentes são o mote. Provocação deliciosa.
Sala de fumo. Vitrais simples não impedem olhares apreciadores de saguões de antanho. Perco-me ao vê-los. As cadeiras cuja origem presumo ser um teatro conservam os números em esmalte. Ambiência decadente conforme era apanágio da zona. Sedutora.
CAFÉ DA MANHÃ
Ai cais do Sodré
ai cais do Sodré
mais vale parecer
que ser o que é
ai cais do Sodré
ai cais do Sodré
nem todo o sapato
te serve no pé (…)
As visões primeiras dum palpitar do coração de Lisboa. Para quem não é «useira» nem «vezeira» em saídas noturnas, o retomar dum encanto onde a cidade respira ícones. Restaurado o espírito da Restauração.
Artistas plásticos convidados, impuseram magnificência rara. O fado presente, as obras expostas recordaram o devido e às muitas almas presentes trouxeram festa em véspera de feriado que era e agora abastardado.
A obra da pintora Graça Delgado, além da magnífica localização na sala primeira, do fascínio das texturas, da composição e leveza da técnica, retida a mão da artista que deu vida ao suporte outrora vazio.
Subindo ao jardim, de baixo para cima, detalhes dum espaço acolhedor que a noite fria respeitou com a suavidade possível.
À saída, o grupo reunido optou por jantar alegre num lugar de bem comer que cerca é.
Porque marcar não lembrou e pela hora tardia, foi rumo o Cais do Sodré onde mais amigos se ajuntaram no pós-exposição. Repasto terminado, nem toda a companhia foi desfeita. Lugar/símbolo da nova 'movida' lisboeta recebeu os que ficaram. No 'kitsch' de idos, prostíbulo de facto, relembrada época onde os cavalheiros da cidade e ricaços do interior se curavam das regras (f)rígidas das esposas em recato. Tivessem ali ouvido cantar a sina, melhor cuidariam do matrimónio.
CAFÉ DA TARDE
Na do Alecrim, o Tejo e seu azul enfeitam o Cais do Sodré.
É de suspender a rota, fazer paragem na "Pensão Amor", 19. Surpresa e encanto dum antigo bordel tornado oásis na cidade para quem na zona ribeirinha peregrina. Cocktails servidos dentro ou no aconchego da esplanada rente ao gradeamento.
Mas fora outro o propósito da entrada no 19 - reencontrar a mui querida Rita Barata Silvério (quem não leu ainda a humorada e deliciosa Rititi?), partilhar com ela o lançamento do segundo livro, rever sorrisos amigos de sempre. A querida Sofia Vieira não podia faltar. Assim se reuniram novamente algumas das figuras dinossáuricas do mundo dos blogues.
Invejei, sentimento feio, a perfeição dos sapatos da Rita feitos para o momento. A Sofia Vieira e a Rita, sempre lindas 'de morrer'. O novo livro exposto em altar apropriado.
Fernando Alvim também apresentou o "Manual de Instruções para sobreviver aos 40 e continuar sexy, com alguma vida sexual e não parecer uma lontra". O humor do Fernando e da Rita acresceram ainda mais alegria ao espaço cheio.
Chegada a casa, li-o de uma penada tal foi a ansiedade. A amiga dedicatória da Rita comoveu-me e fui-me à descoberta da fasciante ex-casa de meninas de aluguer.
Resquícios do ambiente de outrora encantam e são história.
Sala de entrada por onde, em idos, as generosas meninas deviam circular tentando o mais pacato dos cidadãos. Na "casinha" das senhoras, detalhes. Mais e mais há para ver.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros