David R. Darrow – “Uncork”
Uma questão de casca e habilidade. Da importância da casca que cobre o encascado, não sobra a dúvida. Há cascas e... cascas. A que protege, a que envolve, a casca polida das gentes, baça ou riscada por má sorte ou indiferença. A primeira abrigou gestação e infância, a segunda é rede que dá alento e segura, a última é a que mais se altera e exibe - atrai, repele ou não deixa registo. Uma casca perfeita requer material genético de primeira qualidade. Favores do tempo e criação. Prosperidade celular. Até, porque não, olhar zeloso. É o caso do encascado sobreiro e da excelente cortiça nacional - sai a casca, fica sem dano a árvore, nove anos pela frente e nova cobertura é gerada. O ciclo repete-se e o Grupo Amorim encarrega-se de a comprar. Riqueza renovável para os proprietários da terra onde assentaram raízes os sobreiros. Frágil pecúlio quando a incúria ou a maldade dos homens pelo fogo aniquila o que a natureza engendra.
Somos bons a fazer rolhas. Melhores do que a aceitar a «lei da rolha» dos partidos ou dos clubes de futebol. Na ronha rivalizamos com a excelência das rolhas que irão preservar vinhos, alguns reais tesouros que a seleccionados palatos irão deliciar. Tudo pacífico, sereno como as terras quentes onde a falada casca é manto de linho ou burel consoante a estação. Veio a química e meteu o bedelho - rolhas de plástico, logo derivadas do eteno e resultantes do cracking do petróleo. Ao contrário da ecológica e renovável cortiça, os plásticos não reciclados degradam-se dificilmente. Não cuidam com carinho do vinho, afirma quem sabe, não o deixam respirar. A minha simpatia está com a cortiça e com a habilidade de quem a trabalha, seja destino o bocal de uma garrafa, bikini, ou proteção do nariz de naves espaciais. A Nasa que o diga... A flecha vai para os grupos Montez Chapalimaud e JP Vinhos que trocaram a legítima portuguesa pela futriquice da imitação.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros