Rhoda Yanow, autor que não foi possível identificar, Rhoda Yanow
A noite pedia serão caseiro. Fora, a neblina, o brilho húmido do alcatrão e das calçadas, o frio desaconselhavam surtidas na cidade. Mas, em São Carlos, o tentador “Romeu e Julieta” pelo corpo de bailado da Companhia Nacional contrariava a conjugação dos elementos na atmosfera invernosa. O ingresso estava ao lado, veio o apetite e o fruir outro da noite tornou-se irresistível. Afinal, a neblina bailava com as luzes, tornava misteriosa e feérica a cidade, a casa oposta ao teatro respirava a magia de Pessoa.
Se tempos houve em que a Companhia Nacional de Bailado nem sempre adoçava a boca dos espectadores, ontem, casa cheia, a técnica impôs a diferença. A beleza da música de Prokofiev, a coreografia de John Cranko e o argumento que adaptou, a inspirada cenografia, os figurinos, a harmonia da Orquestra Sinfónica Portuguesa dirigida pelo talento e saber da maestrina Joana Carneiro deleitaram. E porque o lucro de bilheteira revertia a favor da “Casa do Artista”, ‘actores, actrizes e atrasados’ (por esta pago direitos ao autor) enxameavam a sala. Ante-estreia de solidariedade. Memorável, digo eu, como ‘atrasada’ que sou – o amor pelo bailado e os inúmeros espectáculos a que assisti não me concederam ainda saberes além do 'suficiente menos'.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros