Autor que não foi possível identificar
Nem era diferente dos outros. Muro médio, mal conservado, desguarnecido, não fora o extremo onde obstinada roseira, contra securas e abandonos, insistia na pontualidade das rosas de toucar. Desabrochadas, não impressionava o encanto, todavia, quando em botão atrevido, embrulhavam os estames com a delicadeza rosada dos lábios amantes que enlaçam o seu homem.
Não é o muro que conta, mas a porta do rés-do-chão que a escadaria em suave sinusóide de acesso ao primeiro andar cobre. Porta estreita de madeira sólida e com batente em ferro grosso pintado, dando, directa, para o cascalho do jardim. Chovendo, não seria um reles tapete a impedir pegadas enlameadas na entrada da casa. Pouco faltando para o cimo da ombreira, uma placa informava: “Salão Mariazinha”. Afinal, ainda existia... a placa, porque o cabeleireiro há muito a Mariazinha o fechara. E nem foi mote o sumiço das clientes, antes o desprezo da moda pelos secadores de pé, ovais, metálicos, imponentes, mais os rolos e as molas e os bigoudis de que era mestra, todas diziam.
Debruçada no muro, pareceu-lhe ver ondular a fímbria da cortina que as portadas da janela entreviam. Não era som de rádio que ouvia à mistura com zunzuns de conversas e motores em giro? Desviando o olhar um tudo-nada para a esquerda, viu-a - à porta, especada, olhos baixos para o papel de seda dobrado que ambas as mãos seguravam. Teria cinco, seis anos? Ao tentar secar a lágrima, caiu ao chão o embrulho. Limpou-a e do papel de seda apanhou as tranças, morenas, rematadas por laços. Eram minhas.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros