Rowena
Rua Marquês de Fronteira. Muros altos faiscando por via da luz refletida na calçada e no alcatrão até morrer, manso, no parque. Para quem vem de S. Sebastião, subida tímida é passadiço entre verdes e muros. À esquerda, terra, à direita, betão, este nela incrustado como ponto negro em pele suave. O Palácio da Justiça é a mancha maior (Questiona a pretensão de julgar palácio mera oficina burocrática em que andar ou desandar não é opção - não (des)anda, ponto!)
Por ordem, e à direita de quem sobe a aristocrata rua onde desagua o ex seleto, hoje degradado, Bairro Azul, há palácios e palacetes: Palacete de Mendonça com alvura impressiva no viçosa jardim, e o Palácio(?) da Justiça. Assim que a rua aplana, segue a direito o Estabelecimento Prisional de Lisboa, vulgo Penitenciária. Qualquer dos edifícios não cai na cinza indiferença. O primeiro atrai, o segundo intimida – ‘vade retro Satanás’, não me deixeis cair em covil tão vândalo e cruel! - o terceiro mistura medo e piedade. E mulheres. Sempre mulheres.
Chegam devagar e aos poucos. Mulheres de coração preso entre grades e normas, e distância e ferros e violência. Detêm-se; algumas fazem encosto da parede que ladeia a porta apertada. Chegada a hora, ela as escoará para a goela da prisão. Sustêm no pulso, prendem nas pernas, pousam no chão, gordos sacos de plástico - contêm mimos e pedidos dos seus homens. Idosas, jovens, grávidas e crianças, ciganas, negras e brancas, cuidadas, confiantes, arrastando a dor no andar, desiludidas e envergonhadas aquelas para quem a primeira visita faz pesar o olhar até ao chão, porventura húmido pela saudade e pelo estigma do afeto recluso a bulir.
São as mulheres dos presos em Lisboa. Sem nome nem história. Salvo a que escorre do coração para os sacos. Esperam de braços cruzados. Porque a espera lhes cruzou as vidas.
CAFÉ DA MANHÃ
Rowena
“Quando é que manda o 'serviço da ministra' à... Quando é que deixa o métier?”, pergunta o Pirata de eleição – vermelho e a sério não conheço outro, salvo arremedos corriqueiros que saltitam como pulgas em todos os lugares. Respondo:
_ Mando à… quando, muito antes do tempo regulado, a paixão esmorecer.
Por vezes tenho o apetite, noutras m’arrependo e julgo ficar intacta. A cada ano, pedaço a menos. Chegada à desilusão média semanal, malvas serão o destino da dita, coitada!, que anda p’ra li às voltas ignorando como mudar a fralda ao bebé.
Espanta-me o espanto pelo noticiado dos 500 médicos que pediram reforma muito antecipada. O terror do Sistema de Saúde ficar «sanguessugado». Ora, ora!… Brincamos? Trabalhando em condições inomináveis, alteradas expectativas, mudam para melhor: para quem, no privado, mais paga e oferece ambiência favorável. Qualquer faria o mesmo. Depois, fossem precisos mais médicos, porque continuam ignoradas as licenciaturas obtidas por portugueses na República Checa, em Espanha ou em Toulouse? Graus menores que os nossos contemplando vinte estudantes a palpar um mesmo doente muito, muito paciente? É que acrescentar vagas aos ‘décimos segundos’ concluídos que almejam Medicina, não é solução. Seria no caso de mais hospitais-escolas, convenientemente equipados material e humanamente, ministrarem ensino credível. Sitos no interior. Também pela localização fixando os licenciados onde as necessidades duma saúde para todos mais falta.
Recuso corporativismos. Rejeito desigualdades. Remeto aos piores atavismos lusos o princípio do indivíduo acima do todo. Solidariedade? Valor remoto. Clamada como tal quando não o é: apenas serviço a favor de interesses pessoais. Indispensável progredir nos valores dignos do étimo que determinam atitudes. Eliminar vícios desenrascados do Estado e dos cidadãos. Perfumes envenenados. Todos.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros