The Travelling Companions by Augustus Leopold Egg Autor que não foi possível identificar
“O que mal começa tarde ou nunca tem arranjo”. Adágio certeiro. O povo acumulou sabedoria que traduziu em sínteses rimadas e curtas. Ditos populares, ouvidos desde a infância, merecem reverência.
Madrugar num fim-de-semana só por obrigação ou masoquismo. Mas a agenda existia, reclamava cumprimento e, pelas seis, guinchou no despertador. Destino: Porto. Alfa Pendular como veículo – quem aos comboios reserva apreço mítico, não resiste; entre as quatro rodas atentamente comandadas e o descanso na viagem que demora o mesmo, a escolha é simples: comboio. O Oriente recebeu duas mulheres em abafos quentes e providas de chapéus pelo frio mais a chuva anunciada.
Já o alumínio embalava sonolência desacomodada havia duas horas, quando parou fora de sítio. Na inusitada Pampilhosa, inquirido o revisor. Explicação:
_ “Um desafortunado, colhido entre linhas, pela morte interrompera o andamento das vidas passageiras. Imprevisível a retoma. Imprevisível espera pela vinda do Delegado de Saúde, identificação da vítima, remoção do corpo.”
Os telefones dos passageiros apitavam em cacofonia. Porque nas tragédias inevitavelmente se alevantam líderes, o do momento foi eficaz. Que ele e o sócio, pela urgência duma reunião, sairiam do comboio ali mesmo. Que o revisor no bilhete e por escrito registasse a causa. Saíram quatro passageiros: as duas mulheres, o líder e o sócio. Táxi como remedeio. Pelo conhecimento pessoal do chefe máximo da CP, o líder garantiu o reembolso dos 120 euros da corrida revelada amável pela simpatia e conversa das companhias, disse. Uma delas sugeriu “acompanhamento psicológico e ser indemnizada pela privação da magnífica imagem das escarpas, das pontes que ladeiam e unem Porto e Gaia que nunca vira a partir dos carris.” O «sócio» confessou aversão a comboios porque, pela mesma fúnebre razão, num regresso a Lisboa ficara retido em Espinho três horas.
Do dia e meio no Porto, pelo atraso, omitida a exposição em Serralves. Na Miguel Bombarda, chamariz pelas galerias e «movida» artística, houve demora imerecida. Na Foz, compras/fatalidade pelos saldos. Mais: um casaco em Santa Catarina, botas junto ao Aleixo. Nele, os filetes de polvo macios, o vinho verde da casa, a magnificência das rabanadas e da aletria. O mui querido Hotel Boa Vista fruído de menos.
No regresso, o equívoco de um Intercidades. A fome aguilhoando o sono pela ausência de serviço de bar, de encostos adequados, das paragens gritadas. À mulher que amava comboios acudiu o sonho impossível de um TGV cómodo, rápido e silencioso unindo, do país, as capitais.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros