Sexta-feira, 2 de Setembro de 2011

USOS EM DESUSO

Rudolph Wendelin, Janice Northcutt

 

O património de alcunhas nas Aldeias está ferido pelas gentes desmemoriadas dos idos remotos e pelo desuso em que caiu no linguajar. Nome primeiro acompanhado por outro associado ao lugar de morada ou afazer é passado. Hoje, imperam apelidos tais como o notário os registou.

 

Mas são lembrados alguns, embora os utentes, na maioria, já tivessem entregue a alma ao Além. Curioso era não se apoquentarem os alcunhados. A Emília ‘da Carvalha’, habitava junto ao carvalho frondoso no adro da Igreja. A ‘tia Costureira’ ou Emília ‘do Canto’ associava lugar de morada à profissão exercida com pundonor. O José ‘da Volta’ tinha casa à curva do Prado e, logo abaixo da escadaria que ao mesmo lugar ascendia, morava o ‘Senhor Barbas’. O Joaquim e a Emília ‘do Largo’ viviam no Largo da Igreja, a Céu ‘Forneira’, no centro do 'povo', cozia pão no forno comunitário.  

 

Do casal Joaquim e Alice ‘das Risadas’ lembro a curiosidade e o sorriso melífluo da mulher, pais extremosos de menina que casaria cedo, talvez com dezasseis anos. Tornou-se mulher bonita que recordo elegante na postura ao atravessar a cidade. A Senhora Céu ‘Americana’ fora emigrada nos Estados Unidos da América. Voltara com fortuna, enfeites e ouros no pescoço, também ao dependuro em todas as extremidades salvo pés. Óculos excêntricos para a moda local, lábios pintados com carmim espesso, cabelo enrolado em «banana» ripada. Simpática e generosa.

 

 À Fernanda ‘do Sargento’, filha de militar falecido que aquele posto desempenhara na GNR, solteirona, caracterizava-a o silêncio, a afabilidade, o ar maltrapilho conquanto tivesse posses de sobra. Combinar roupa extravagante era a sua especialidade. Irreverente, pouco lhe importava o que sobre ela era falado nos dizeres aldeões – persistia nas idas e vindas diárias, a pé, para a cidade que os mil e poucos metros facilitavam. Discreta, não era mulher para ‘levar e trazer’, o mesmo é coscuvilhar. Parece que por ter sido o pai republicano aguerrido, não paravam junto à casa onde morara padre, andores, anjinhos e banda nas procissões.

 

A Emília ‘Romeira’, mulher simples no pensar, amiga dum copito mas sem exagero, trabalhadeira como poucas nos campos, tinha um filho: o Menã. Dele recordo chuchar no dedo até tarde e ser protegido pela família/madrinha Brojo. Tornar-se-ia homem desempenado e hábil em construir futuro. Mais lembro: muito pequeno, tendo sido incumbido pela mãe de um recado, chega-se à avó ‘Mamia’ e atabalhoa:

_ “A minha mãe dixe assim: vai à menã que t’empreste a tesã.”

Habituada ao entaramelado do fedelho entendeu de imediato o que para outros seria código impenetrável _ “Vai à madrinha e pede emprestada uma frigideira”.

_ É obra!

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:48
link | Veneno ou Açúcar? | ver comentários (2) | favorito

últ. comentários

Olá. Posso falar consigo sobre a sua tia Irmã Mar...
Olá Tudo bem?Faço votos JS
Vim aqui só pra comentar que o cara da imagem pare...
Olá Teresa: Fico contente com a tua correção "frei...
jotaeme desculpa a correcção, mas o rei freirático...
Lembrai os filhos do FUHRER, QUE NASCIAM NOS COLEG...
Esta narrativa, de contornos reais ou ficionais, t...
Olá!Como vai?Já passaram uns meses... sem saber de...
continuo a espera de voltar a ler-te
decidi ontem voltar a ser blogger, decidi voltar a...

Julho 2015

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

pesquisa

links

arquivos

tags

todas as tags

subscrever feeds