Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2014

«ESGRAVATA-CÉUS»/«TÊZEROS»

 

 

    

Don Dixon                                                                                                                                     Bill Fogé

 

Eles levantam ouro nas caixas ATM; nós enviesamos o olho ao ler papelote do saldo cuspido pela máquina. Eles têm petróleo; nós possuímos solo exaurido e ausência de recursos. Eles cavam fossos sociais; nós do mesmo não saímos. Eles têm mulheres subservientes, outras condenadas porque na venta arrebitam os pêlos; nós, assim possamos, fugimos dos ditadores domésticos como da cruz o diabo e, à «fartazana», eriçamos, comummente, inestéticos pêlos sendo casa as narinas/ventas. Eles misturam «esgravata-céus» com adobe e tijolo sem revestimento nas habitações; nós construímos condomínios/clausuras de elite e a maioria vive em prédios roídos e na ruína. Eles cativam turismo de luxo; nós os assalariados medianos duma Europa falida. Eles compram griffes como nós adquirimos atum de lata. Eles têm hotéis de milhares de euros por noite, em que tudo sobe e desce automaticamente, quiçá os atributos enrolados na cama XXL; nós disponibilizamos aluguer de sítios com charme para ricaços e «têzeros» que os pelintras, todos quase, utilizam para ir ‘a banhos’. Eles estão cheios do muito que roda o mundo; nós de nada. Eles não viram o Papa; nós folgámos dia e meio. Eles são uns tristes, mas abanam as ancas; nós trememos dentro e fora. Eles vivem em Abu Dhabi nos Emirados Árabes Unidos; nós em aldeia abandonada na qual se transformou o país todo. Nós temos, entre outras, heranças do Saramago, da Amália, do Nadir Afonso, do Eusébio, mais a Paula Rego, o Querubim Lapa, a Manuela Pinheiro e fado e Fátima e futebol de jeito. Temos a palavra saudade, verdes a rodos, liberdade de nos exprimirmos conforme normas a passo mais apertadas, democracia carnavalesca, juntamos no mesmo palco B. B. King e Rui Veloso. Eles não.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:29
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Quinta-feira, 22 de Agosto de 2013

ESTRADA, BELEZA E OVÁRIOS

 

Rendo-me ao humor de Gil Elvgren e de Graham McKean.                                                                

 

Na comunidade científica, há quem defenda que quanto maior é o nível de estrogénio, a principal hormona sexual feminina produzida principalmente nos ovários, mais bonitas são as mulheres. Por outro lado, estudos criteriosos afirmam o estrogénio como uma das razões das mulheres terem menos acidentes que os homens. Sem sobrepor a minha dúvida metódica ao que os especialistas concluem, custa-me a crer que mistura de estrona, estradiol e estriol, também conhecidas como E1, E2 e E3 respetivamente, tenha o condão de nos poupar aos desconchavos automobilísticos. Mais credibilidade me merece outra razão apontada: a capacidade do cérebro feminino de se desdobrar em várias perceções simultâneas.

 

Não fico surpresa pelo reconhecimento dos benefícios vários da nossa atenção repartida. Displicentemente afirmada como dispersa, se não volúvel, a ela é devida a capacidade de gestão de uma multiplicidade de tarefas psíquicas num dado momento. Executar um gesto profissional rigoroso enquanto delineamos as faltas na despensa e pensamos na Inês que foi para o colégio com uma pontinha de febre. Como a qualquer virtude está associado um defeito, também aqui o mesmo sucede. Os homens são invejavelmente mais eficazes na separação dos compartimentos psíquicos, nomeadamente no modo como dos alhos arredam os bugalhos emocionais. Já para a mulher, lidar com as emoções é enredo como novela sem happy end à vista.

 

Das generalizações, conhecemos abusos redutores; todavia, denominadores comuns existem e nos sexos ajudam ao entendimento. Por isto distingo pela positiva a atitude diferente de alguns homens perante descarada infracção ao código da estrada. Ainda ontem, efetuei inversão da marcha em franco despropósito. Os espectadores da manobra arregalaram o olho, e adivinhei-lhes palavras mal-encaradas ao rematar o quadro com estacionamento em sítio proibidíssimo – garantida a cautela de a ninguém lesar com a manigância. Abandono o carro, piscando desvairado, e vou-me à compra rápida. Ao passar pelos expetantes olhares, em vez de tirada admoestadora ouço piropo. Assim vai a tolerância entre sexos.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Em nada associado ao texto, porque gosto. Muito.

 

publicado por Maria Brojo às 09:12
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Terça-feira, 18 de Junho de 2013

EFEITOS DA COISA/CRISE NA SAÚDE PORTUGUESA

 

Andre Kohn, Paola Angelotti

 

Porque os idosos falham nas tomas diárias dos medicamentos receitados ou nem aviam nas farmácias a medicação prescrita ou não adquirem aparelhos auditivos e óculos pela falta de recursos económicos, segue cópia dum texto de hoje na edição online da TSF.

 

“O alerta é do Observatório Português dos Sistemas de Saúde no relatório anual. A denúncia surge pelo segundo ano consecutivo, baseada no aumento da ansiedade e depressão dos portugueses.

 

O documento cita dados nacionais e regionais para concluir que em paralelo com a crise assiste-se a «um aumento da depressão, da taxa de tentativa de suicídio e das mortes prematuras».

 

Os investigadores dizem que os efeitos da crise sentem-se, por exemplo, nas despesas: 20 por cento dos portugueses estão a gastar menos com a saúde, numa percentagem que duplica entre os desempregados.

 

O relatório sublinha que várias fontes apontam ainda para um aumento da ansiedade e da depressão no país. O estudo citado de seguida foca-se na Unidade Local de Saúde do Alto Minho onde vivem 250 mil pessoas. Nessa região, o último ano teve um aumento de 76% nos casos de internamento compulsivo, o que pode dever-se ao agravamento das situações clínicas de doença mental ou à má adesão aos tratamentos.”

 

Nuno Guedes

 

Nota: recomendo a leitura da crónica “Desejos Perversos do Invejoso” publicada na “Dobra do Grito”. Excelente!

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:41
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Segunda-feira, 11 de Fevereiro de 2013

MANCHA DE BATOM

 

Sally

 

Tornar inteligível a miséria atual do país é como tentar explicar à mulher mancha de batom alheia no colarinho da camisa do «seu» homem – este pode ter sido sempre fiel, mas convém que a justificação, por ridícula que seja, tenha consistência.

 

Nota: publicado aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

"Não queiras saber de mim

Esta noite não estou cá

Quando a tristeza bate

Pior do que eu não há

Fico fora de combate

Como se chegasse ao fim

Fico abaixo do tapete

Afundado no serrim

Não queiras saber de mim

Porque eu estou que não me entendo

Dança tu que eu fico assim

Hoje não me recomendo

Mas tu pões esse vestido

E voas até ao topo

E fumas do meu cigarro

E bebes do meu copo

Mas nem isso faz sentido

Só agrava o meu estado

Quanto mais brilha a tua luz

Mais eu fico apagado

Dança tu que eu fico assim

Porque eu estou que não me entendo

Não queiras saber de mim

Hoje não me recomendo

Amanhã eu sei já passa

Mas agora estou assim

Hoje perdi toda a graça

Não queiras saber de mim"

publicado por Maria Brojo às 07:53
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Terça-feira, 28 de Junho de 2011

FLORIDA TAMBÉM AQUI

Carlos Botelho

 

Ao novo ministro da Economia e do Emprego, Álvaro Santos Pereira, já foram tecidas loas devidas também ao respectivo percurso como brilhante académico. Funções iniciadas, lamentou não ser Portugal a Florida da Europa. Temos latitude semelhante, clima ameno, gente afável, soberbo território e tradições que surgem como factores/lastro da possibilidade.

 

Em belezas naturais fica a perder a Florida e ganha por muitos o nosso país. Se houve alturas em que rejeitei liminarmente a ideia de sermos o INATEL europeu, a história recente do descalabro económico que nos enferrna obriga a avaliar outros pensares. Atrasámo-nos em relação a Espanha que a tempo lobrigou o potencial turístico planeado com qualidade assente na procura e sem preocupações selectivas – o designado ‘pé-descalço’ tem direito a lazer e divertimento que o calce em forças para o resto do ano.

 

À boa maneira das vistas curtas portuguesas, estragámos pérolas ambientais, demorámos a dar formação aos empregados e patrões do sector turístico, apostámos no improviso e no laxismo. Restando quase impolutas certas regiões, é hora de inaugurar nova era. O Alentejo e o Norte e o Centro com magníficas serras e águas termais e belezas de espanto merecem atenção. Que o planeado seja bem estruturado e formoso, que seja promovido o termalismo.

 

Não sendo possível emendar erros antigos, que o novo aprenda com eles. Entre outras, existe área empresarial capaz de ajudar eficazmente a recuperação económica: turismo de excelência para «estranjas» e nacionais.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 07:13
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Quarta-feira, 17 de Março de 2010

PORTUGAL EM CAMISA

Greg Horn


Parece subir a moderação nos gastos e a vontade de emagrecer a coisa distante chamada Estado. Se até aqui sempre os anónimos mexilhões pagaram enquanto em cima a boa vida era lagosta, nela surgem indícios de troca por camarão-tigre. Ainda longe das «lameginhas» catadas na maré descida. Todavia, diminuído o tamanho do bicho. Augúrio a sublinhar.

 

A norma ‘trindade saída por unidade entrada’, passou dos funcionários públicos às viaturas estatais. Normativa menor do PEC: “abate de pelo menos 3 viaturas por cada nova adquirida quando até à data a regra era de ‘1' por ‘1', excepto quando se trata de novas necessidades." Dos cinquenta e seis mil pares de rodas em serviço, fatia dos que transportam correm o risco de ficarem apeados. Pagar a tantos o ronronar, avec chauffeur ou não, cansava desempregados, pobres e remediados. Não basta, conhecidos os milhões desembolsados em prémios e reformas multiplicadas que os maiorais arrecadam. Não chega pela fome exposta e pela envergonhada. Não é suficiente, embora a Europa a muitos e o Dr. Durão publicitem Dominus Vobiscum. Mais seria inadequado? Afastaria os realmente capazes da política e gestão dos bens públicos? Por isto, mercenários, ou humanos com ambição? Ficaríamos entregues aos arrivistas ansiosos por momentos de ‘vã glória de mandar’? Mas não é este o presente comum?

 

A propósito, excerto duma delícia:
Espicaçado por todos os lados, farto das lutas intestinas que todos os dias lhe faziam azia ao jantar, e do fogo de guerrilhas da vizinhança, um dia o conselheiro Torres, um dia em que estava cheio de alegria porque apertara a mão ao sr. Conselheiro Fontes e porque tinha para o jantar chispe com ervas, o seu estadista e o seu pratinho favorito, ao sentar-se à mesa declarou solenemente à família ali reunida, que sim, que consentia no teatrinho.”
 

Gervásio Lobato in “Lisboa em Camisa”

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 06:24
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Segunda-feira, 25 de Janeiro de 2010

ATÉ QUANDO, OCIDENTE?


Antonella Cinelli

 

A Itália apresenta ‘saldo natural’ negativo – diferença entre nados e mortos. Com a Alemanha, o mesmo. Mais países desenvolvidos, ou em vias de tal, não diferem, substantivamente, do panorama. Quando muito, empatam taxas de mortalidade e natalidade.

 

Por cá, oitavo país do mundo mais envelhecido, o dito saldo também foi menor que zero no último par de anos. Causas? Algumas: a famigerada penúria, bem como a diminuição, sem parança, do número das mulheres em idade fértil. No dealbar dos anos 80, o primeiro filho era nascido, em média, aos 23,5 anos; agora, aos 28,4. Para as mulheres procriarem sobra menos tempo útil e vontade pelos empregos instáveis, progressão na carreira e parcos apoios sociais. Quando tínhamos ‘o rei na barriga’, em 2000, a fecundidade foi promissora e reflectiu o desapertar do cinto guterrista. As políticas económicas, dentro e fora, são condicionantes que importam. 

 

No Ocidente, a imigração atenua o decréscimo da natalidade. “Os imigrantes em idade fértil tendem a ter mais filhos e, porque mais jovens, morrem menos.” Para os nativos daqui, ir além da segunda ou terceira gravidez somente para ricos ou para condenados a miséria hereditária. Sem lado de dúvida, perpetuada como gene maldito até que a excepção aconteça e quebre o ADN de espírito.

 

Mais idosos desfiarão ócios, baralhos e memórias nos jardins. Energeticamente insustentável, continuado o desperdício, a sociedade ocidental entrou em declínio. Por tudo, depende daqueles que a procuram oriundos do mundo pobre. A vida escreverá direito mesmo sendo tortas as linhas.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 06:33
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