Sábado, 2 de Fevereiro de 2013

A PEDRA QUE AMA

 

Rupes Nigra

 

Gabriel Garcia Marquez, em “Cem Anos de Solidão”, descreve a chegada dos ciganos à aldeia de Macondo. Conta:

“Todos os anos, pelo mês de Março, uma família de ciganos esfarrapados plantava a sua tenda perto da aldeia e, com um grande alvoroço de apitos e tambores, dava a conhecer os novos inventos. Primeiro trouxeram o íman. Um cigano corpulento, de barba rude e mãos de pardal, que se apresentou com o nome de Melquíades, fez uma truculenta demonstração pública daquilo que ele mesmo chamava a oitava maravilha dos sábios alquimistas da Macedónia. Foi de casa em casa, arrastando dois lingotes metálicos e toda a gente se espantou ao ver que os caldeirões, os tachos, as tenazes e os fogareiros caíam do lugar, e as madeiras estalavam com o desespero dos pregos e dos parafusos que tentavam desencravar-se, e até os objetos perdidos há muito tempo apareciam onde tinham sido mais procurados e arrastavam-se em debandada atrás dos ferros mágicos de Melquíades. ‘As coisas têm vida própria’, apregoava o cigano com áspero sotaque, ‘tudo é questão de despertar a sua alma’.”

 

Como o descrito, nas «magias» que assarapantavam os aldeões, ímanes eram protagonistas. Antigos como a Terra. Integram minerais. Recolhidos pela vez primeira na Ásia Menor, na zona da cidade de Magnésia. A magnetite deve-lhe o nome. Na Arrábida, subindo do Portinho, estrada com inclinação acentuada obriga a esforço dos automóveis maior que o costumado em situação semelhante noutras. Dizem-na rica em magnetite. Recusa deixar o crédito da atração pelos metais cair em saco furado. Talvez por isso o significado da palavra íman como ‘pedra que ama’. A língua francesa foi mais longe: designa-a como aimant. Em português, «amante».

 

 Geomag Coords

 

A Terra é gigantesco íman. Possui dois pólos magnéticos: o Norte e o Sul. O primeiro quase ao lado do pólo Sul geográfico e dos esquimós; o segundo, consequentemente, ronda o geográfico pólo Norte e os pinguins. Mas não foi sempre assim. Em seis vezes durante os últimos quatro milhões de anos, os pólos magnéticos terrestres inverteram a posição. Somente quando as profundas do planeta forem integralmente conhecidas será possível entender as mutações.

 

Willian Gilbert

 

Nos estudos sobre o magnetismo, Willian Gilbert, sábio inglês na entourage da rainha Isabel I, menciona portugueses. Refere o ‘Colégio de Coimbra’, Garcia de Horta – ‘ A pedra que ama faz bem à saúde e, em pequenas doses conserva a juventude’. Arrasa Pedro Nunes e o seu ‘Instrumento de Sombra’. Gilbert enaltece Roderigues de Lazos, navegador luso, reporta a «bússola portuguesa», faz análise crítica das observações de Bartolomeu Dias nos mares do Sul por causa do batismo de ‘Cabo das Agulhas’ a lugar no Sul de África que baralhava as bússolas (pequenos ímanes).

 

 Magnetic detection – iron filings

 

Curiosa é a divisão dum magnete em pedaços: todos com pólos Norte e Sul e propriedades magnéticas. A menor porção designada spin. Indivisível. Efeito quântico que Heisenberg explicou e encontrou resistência em Einstein, certamente esquecido de ter brincado com bússolas quando menino.

 

Nota: há instantes, texto publicado aqui.

 

CAFÉ DA TARDE

 

publicado por Maria Brojo às 13:08
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