Eduardo Galeano foi-me referido por mulher que muito me honra com a sua amizade. Num daqueles telefonemas choramingas por desgosto familiar ou angústia pessoal, teve resposta assisada como sempre: _ “Lê Eduardo Galeano. Estás a precisar «miúda».” Estava de facto. (…)
(…) O percurso do Homem revela espírito inquieto, disponível para lutas políticas que lhe valeram ser proscrito pelo regime de Jorge Videla e constar o seu nome nos “esquadrões da morte”. Exila-se em Espanha e dá início à “Memória de Fogo”. Seguir-se-iam obras de maior êxito tendo como cenário a América-Latina.
Ler ou ouvi-lo é prazer:
_ "As pulgas sonham em comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico de sorte chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não choveu ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda doce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.
Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada. Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos: Que não são embora sejam. Que não falam idiomas, falam dialetos. Que não praticam religiões, praticam superstições.(…)"
Joaquín Torres García
(…) Como nas pinturas do compatriota Joaquín Torres García representado em museus do mundo, descreve a injustiça social, pensa utopias, ouve as raízes. E não é assim que deve ser?