Don Dixon Bill Fogé
Eles levantam ouro nas caixas ATM; nós enviesamos o olho ao ler papelote do saldo cuspido pela máquina. Eles têm petróleo; nós possuímos solo exaurido e ausência de recursos. Eles cavam fossos sociais; nós do mesmo não saímos. Eles têm mulheres subservientes, outras condenadas porque na venta arrebitam os pêlos; nós, assim possamos, fugimos dos ditadores domésticos como da cruz o diabo e, à «fartazana», eriçamos, comummente, inestéticos pêlos sendo casa as narinas/ventas. Eles misturam «esgravata-céus» com adobe e tijolo sem revestimento nas habitações; nós construímos condomínios/clausuras de elite e a maioria vive em prédios roídos e na ruína. Eles cativam turismo de luxo; nós os assalariados medianos duma Europa falida. Eles compram griffes como nós adquirimos atum de lata. Eles têm hotéis de milhares de euros por noite, em que tudo sobe e desce automaticamente, quiçá os atributos enrolados na cama XXL; nós disponibilizamos aluguer de sítios com charme para ricaços e «têzeros» que os pelintras, todos quase, utilizam para ir ‘a banhos’. Eles estão cheios do muito que roda o mundo; nós de nada. Eles não viram o Papa; nós folgámos dia e meio. Eles são uns tristes, mas abanam as ancas; nós trememos dentro e fora. Eles vivem em Abu Dhabi nos Emirados Árabes Unidos; nós em aldeia abandonada na qual se transformou o país todo. Nós temos, entre outras, heranças do Saramago, da Amália, do Nadir Afonso, do Eusébio, mais a Paula Rego, o Querubim Lapa, a Manuela Pinheiro e fado e Fátima e futebol de jeito. Temos a palavra saudade, verdes a rodos, liberdade de nos exprimirmos conforme normas a passo mais apertadas, democracia carnavalesca, juntamos no mesmo palco B. B. King e Rui Veloso. Eles não.
CAFÉ DA MANHÃ
Nova Iorque - amor à primeira vista. A chegada é como entrar num filme e viver nele. A cidade do pouco mundo que conheço onde me apeteceria habitar.
A inevitável imagem do Rockefeller Center. A figura apanhada no mau gosto da prova 'estive aqui'. Harlem, maravilhoso e contraditório, logo depois. Os ofícios religiosos, ao domingo, estonteiam pelo genuíno gospel. Em baixo, o deslumbre da Art Déco do Empire State Building. Estreito skyline obtido na 5th Avenue. A tentação do cheesecake de forno porta sim, porta não. Hordas de gentes na azáfama habitual.
O ridículo da figura no mercado de flores em Amesterdão. O fascínio das casas magras em largura, do ziguezaguear do rio Amstel, da Casa de Anne Frank e muito mais. Na imagem seguinte, a figura deleita-se com as flores na Grand Place de Bruxelas.
Para quem atravessa a Floresta Negra «subir» o Reno é invevitável. A formosa cidade de Bacharach, inscrutada na margem esquerda do rio, e Bona.
Pormenor da Catedral de Colónia. Quai d'Orsay pede revisitação pela arquitetura, pelo acervo e pelas exposições temporárias.
Num dos regressos a Paris, fiquei instalada nesta casa senhorial do século XIX. Bosque em volta. Nem dá por ele quem corre a rua do Seizième Arrondissent. Infinita a saudade desta casa vendida no entretanto.
Saudade de mais uma viagem marítima. O retorno está para breve.
Razão tinha Saramago ao escolher viver em Lanzarote. A paixão aconteceu à medida das curvas e contracurvas que levam à «zona lunar» cimeira. Vulcânica de facto. O recolhimento dos vinhedos encanta quem possui raízes rurais. O passeio de camelo para 'turista fruir' traduziu-se em gargalhadas. E se rir faz bem!
CAFÉ DA MANHÃ
Maria Zeldis – “A la Fenêtre"
Entradas
Dizia Saramago que mesmo o escrever mal as mais das vezes arrebanha ideia, uma boa ideia. Porque arredia nesse tempo, contava meses em que não movia dedos no exercício da escrita. Pode dar nisto a obrigação de honrar nome, obra apaixonante e feita, prémios, condecorações e uns tantos bibelôs recebidos, alguns a merecer tranca na arrecadação. Nem a demora de assunto para livro ou galardões lhe davam cuidados.
Não faltando ideias, torço o crivo que as separe por peso, tamanho ou bondade. Atamanco frases, tenho um gozo danado e quem tiver paciência bastante para me ler que se avenha com a (in)digestão do cozinhado. Alternativa simples: passar adiante.
Prato de sustança.
É bem-amado o cheiro a castanhas assadas à mistura com o do Natal. É desmiolado pendurar nas ruas enfeites natalícios quando o metal é curto e as dívidas tentaculares. É atropelo o carrocel de festas que o consumo inventa. Inexistindo, são as promoções lojistas, esmeros da publicidade e sorteios. Melhor só nas feiras d’antanho onde o ‘vendedor da banha da cobra’ tinha léria sem defeito, garganta e pujança ao vozear monólogo como ator consumado. A propósito: quem se lembra do saudoso António Assunção debitando em ritmo demoníaco texto encenado pelo Joaquim Benite da Companhia de Teatro de Almada?
Sobremesa
Sendo que as palavras saltam como castanhas quentes, por pouco não olvidava o que chegou da memória e é maleita comummente impingida às crianças:
_ O que quer a menina ser quando crescida?
Era farta a cabazada de vezes que amigos e conhecidos dos pais mo perguntavam, em particular na visita ritual das Santas Festas. De início, embasbaquei - nunca em tal houvera pensado. Depois, exibi sensatez no projeto de médica como verbalizava a família. A partir daí, borreguei: dizia o que em primeiro ganhava a meta da gana. Até ao dia em que a prima Carminho, hipócrita, «peneirosa» e malvada (isto ouvira dizer na cozinha à Lúcia), caiu na esparrela do mesmo indagar. Nem hesitei:
_ «Flausina» como a prima. Se me dá licença, vou brincar.
Pendulando o cabelo, virei costas.
Café
Não se entretivesse o diabo em enredos, bichanei inquietude à Lúcia:
_ «Flausina» é profissão, não é?
Nota: texto publicado, há instantes, aqui.
CAFÉ DA MANHÃ
Não há profetas. Mas, se não restam profetas vivos, Deus está de mãos atadas?
_ “Certamente o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas.” (Amós 3:7)
Rastejam os que veneram deuses vivos e neles crêem cegamente. Subservientes do intelecto ou das sociedades são répteis colados ao suporte. Como as osgas ou os lagartos. Sangue frio disseminado, excepto na Antárctica. Depois, e por inerência, não pensam liberdade _ o instinto de sobrevivência é o comando a que obedecem.
Saramago, que aprecio quase tanto como tiramissu – amor do meu palato! - confeccionado por «chefe» italiano, declarou apoiar António Costa para a Câmara de Lisboa. De vez em quando, Saramago e eu concordamos sem demandas. Noutras alturas, considero-o um pedante puro. Isento de disfarce, sublinho. Facto e fato que casam bem com um ídolo. Nobel ainda por cima. Com pés de barro, sabemos.
Ana Gomes é nome de mulher que vem a calhar. Histriónica. Porém, valorosa. A propósito da morte de Manuel Carrascalão, lembrou, dele, a coragem e o amor à terra/pátria. O modo admirável como recolheu e alimentou 150 pessoas no quintal da casa onde habitava. Como há dez anos auxiliou, na chegada ao território, a antiga embaixadora portuguesa em Jacarta. Se as paredes da casa onde viveu Manuel Carrascalão fossem delatoras, contariam das reuniões clandestinas, algumas com polícias indonésios bufos. Importantes para a libertação do território.
Ontem, Timor-Leste ficou mais pobre. O fim dum Homem sobreveio no hospital de Dili.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros