Ava Gardner Ava Gardner by Shahin Gholizadeh Ava Gardner Young
Da sedução dizem ser arte. Dom. Talento. Passível de retoques e evolução como a escrita ou a música ou a escultura ou a representação. Envolvendo técnicas que o exercício, e dele a aprendizagem, apuram. Não subscrevo este pensar. A sedução não é arte, é atitude. É um comezinho modo de estar. Seduz quem dos outros quer saber. Ouvir. Arredando artifícios langorosos ou dicas de manuais. Seduz quem não teme a vida, aprendeu a dor e os (des)encantos e a graça de um sorriso. Avareza nas emoções centradas no umbigo pode usar máscara e simular agrados. Sem tardança, virá rajada que o postiço arranca e o olhar sapudo, frio, egoísta, revela.
Quem a si mesmo ama e dos dias recolhe uma a uma todas as amoras maduras, sabe que arranhadela ao estender as mãos à suculência dos frutos é precisa – de futuro, cuidará de afastar pelo extremo tenro os ramos sem abster-se de, amorosamente, sentir na boca o fruto apetecido. E para que existem as amoras se não para serem colhidas? Definharem no arbusto, cobertas de pó e roídas por bicharada imprecisa é desbaratar a perfeição da mãe natura.
Porte que o longe desafia, espírito empreendedor e destemido, valem mais do que saltos-agulha, vestido coleante que o corpo dispa, cabelo sedoso pelo meio nu das costas, pernas de cetim que fecham e entreabrem promessas, lábios gulosos e olhar fundo. Seduz quem a si e aos outros dá por certa disponibilidade perante a vida.
Nota – A propósito, recomendo a leitura de 'De la séduction', Jean Baudrillard (Galilée, Paris, 1979) e Gallimard, Folio Essais 81 (1988 )
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