Faleceu Gabriel García Marquez. Um dos maiores escritores da América Latina juntamente com Julio Cortazar e Jorge Luis Borges. O meu tributo.
CAFÉ DA MANHÃ
Artur Bual – série “Cristos
Quem não se lembra dele no “Botequim” onde pontificava a Natália Correia e ilustres mais? Figura maior das artes plásticas portuguesas, foi pioneiro nos gestuais abstratos. Formado pela magnífica Escola de Arte António Arroio de onde saíram fornadas de artistas, ainda hoje referências na pintura nacional.
Evolutivo no caminho que para ele traçou, diria: _ “As imagens da minha infância, a natureza que me cercava, as flores que colhi e não cheirei marcaram-me como homem e – eu sei-o – como pintor. Foi por um caminho sinuoso que cheguei ao encontro comigo mesmo”.*
Primeiro, conheci-o numa exposição. Empatia imediata. Pouco depois, visitei o ateliê da Amadora, cave de porta aberta a conhecidos, amigos, e amigos de amigos. Muitos haviam sido condiscípulos da António Arroio que nele reconheciam talento arrojado, o homem sincero e afável, tempestuoso às vezes. Encantava pelo voo da palavra e pelos silêncios que integrava nas telas. Lema que repetia: “Gostaria que se lembrassem de mim como um homem que pintou, diariamente, as suas preocupações, os seus sonhos e, acima de tudo, o amor”.
(...) Das séries mais corajosas, há que lembrar a das “Meninas” cujo erotismo Artur Bual explicava: (...) Porém, a série mais conhecida e impressiva é a dos “Cristos”. Neles, a humanidade do sofrimento que conferem ao observador emoções múltiplas, a lembrança do carreiro de todos com abismo no horizonte.
“Cristos ou Crucificações são símbolos de humanidade e despojamento, de torturas e amor; (…) Estou sempre predisposto a pintá-Lo. Quem sabe se não o pinto como quem faz um auto-retrato?”*
*Para mais conhecer, o Círculo Artur Bual.
CAFÉ DA MANHÃ
El Greco, Manuela Pinheiro
Sexta-feira Santa – dia da paixão de Cristo. A paixão seja por uma causa, um ser, um trabalho engrandece os dias.
Faz um ano o apelo à ‘Troika’. O nosso calvário, antes vero mas oculto, começou, despudorado, aí. Sem final à vista exceto nas aldrabices confusas dos governantes que sendo não o sabem ser.
Neste tempo de lazer, ouvir, ler e ver os ‘clássicos’ do nosso tempo e de idos nem sabemos o bem que fazia!
Borrasca em cima, choveu e granizou. Deixaram-me feliz no meu casulo.
CAFÉ DA TARDE
Rodrigo Leão, Adriana Calcanhotto e múltiplos mestres da pintura fazem parte do meu desejo de boa tarde para todos.
Autor que não foi possível identificar
O Padre Isidro foi sacerdote exemplar e homem de cultura. Enquanto pároco de Gouveia, deixou obra feita com a intenção de ajudar desvalidos e promovê-los também através da informação. Casa paroquial sempre aberta a quem a ele recorria, fosse à busca de conforto ou conselho. A sua profunda humanidade ficou perpetuada na memória daqueles que o conheceram e dela deixaram notícia às gerações posteriores.
Preocupado com a falta de instituição que permitisse prolongar estudos além da ‘primária’, fundou colégio que leccionava até ao quinto ano do ensino liceal. Antes e após cumprida a quarta classe, os alunos eram encaminhados para Gouveia ou Viseu. Ora, para pais sem família alargada que lhe acolhesse os filhos numa cidade ou noutra, era incomportável sustentar quarto, alimentação, propinas e material escolar necessário mais as viagens nos finais de cada período escolar e as que os progenitores faziam para amenizarem saudades e inteirarem-se do andamento dos filhos. Não era fácil desenraizar crianças de dez anos da família. Por essa razão e por incapacidade económica muitas ficaram com a escolaridade básica, outras nem essa concluíam. E assim se perpetuava a ignorância das gentes beirãs que outro saber não tinham além do fornecido por via de professores dedicados e da grande mestra experiência. O décimo aniversário era, para muitos, sinónimo de passagem à vida activa. As bolas e bonecas de trapos, os brinquedos de lata, carinhos em madeira onde o rapazinho cabia e que conduzia pelas ruas enlameadas chegando as chuvas esperavam o domingo para a criança ter direito a sê-lo.
Empreendedor e sem receios de pedir auxílio a quem o podia fornecer, o Padre Isidro concretizou o sonho de abrir colégio que aos mais dotados ou com algumas, embora modestas, posses desse alento para continuarem estudos junto das famílias. Gerações muitas de crianças e adolescentes ali estudaram, sendo obrigados a largar a família apenas se além do quinto ano pretendessem avançar. Mas aí, já os quinze anos permitiam saída, sem riscos de maior, do ambiente natal.
Uma das saborosas características do Padre Isidro era o gosto por tertúlias, petiscos e convivência abrangente, sem lhe fazerem mossa importâncias sociais. Era Sexta-Feira Santa e em Aldeias participou num ofício religioso. Seguiu confraternização com alguns homens do lugar. Perante uma mesa bem coberta de pão centeio, salpicões, queijo da serra, requeijão e presunto inteiro cortado à navalha, o sacerdote não resistiu, cansado como andava de correr de um lugar pró outro para em todas as freguesias não faltar ritual condigno em honra da morte e ressurreição do Senhor. Com a «fomeca» que trazia por mal ter tempo para refeições merecedoras do nome, criou embalagem com a conversa bem-disposta; minutos após, já ele mastigava, olhos em alvo pela bênção na forma de petisco, quando ouve dum pastor:
_ Ó senhor padre, olhe que está a comer chouriço e hoje é dia santo. Carne está proibida ao seu rebanho.
Lesto, responde:
_ Ora, ora… Que saiba, Deus encarnou mas não enchouriçou!
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros